Desnutrição infantil no Afeganistão expõe um cenário de fome extrema que já custou a vida de milhares de crianças, como os três filhos do casal Ghulam Mohiddin e Nazo, enterrados em Sheidaee, arredores de Herat. Sem acesso a alimentos ou assistência, o país vive a maior escalada de casos de subnutrição infantil já registrada pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA).
Rahmat, Koatan e Faisal Ahmad morreram antes de completarem um ano de vida. “Um minuto meu bebê está nos braços, no seguinte meus braços estão vazios”, resume Nazo, que ganha a vida quebrando cascas de noz enquanto passa dias sem comer.
Desnutrição infantil no Afeganistão atinge nível crítico
O diretor do PMA no país, John Aylieff, alerta que mais de 3 milhões de crianças correm risco de morte. A emergência se agravou após os Estados Unidos e outros nove principais doadores suspenderem parte significativa dos repasses em 2023, num momento em que o Afeganistão também enfrenta a pior seca em décadas e o retorno forçado de milhões de migrantes.
Segundo a agência da ONU, o “teto” que mantinha a fome sob controle foi levantado. Sem recursos, centros de saúde já recusam mulheres e crianças subnutridas. O PMA projeta esgotar seu orçamento em novembro, véspera do inverno rigoroso. A crise é agravada por sanções internacionais e pelo fato de o Talibã restringir o trabalho feminino em ONGs, medida que afeta a distribuição de ajuda emergencial.
Nos pequenos túmulos de Sheidaee, dois terços pertencem a crianças. Em casas de barro, mães tentam acalmar filhos famintos com comprimidos de lorazepam e propranolol, drogas que podem causar danos irreversíveis a coração, rins e fígado. Nos hospitais, alas destinadas à desnutrição concentram até duas crianças por leito; na província de Badakhshan, Sana, de três meses, Musleha, de cinco, e a gêmea Mutehara morreram em menos de uma semana.
Quase metade dos afegãos menores de cinco anos apresenta atraso de crescimento, e o número tende a subir. “Estamos recebendo mais ligações com ameaças de suicídio de mães que não sabem como alimentar seus filhos”, relata Aylieff.
À medida que a ajuda se retrai e o inverno se aproxima, especialistas alertam para uma tragédia ainda maior se novos financiamentos não forem liberados de imediato.
Esta reportagem mostra apenas uma fração da dramática situação humanitária afegã. Acompanhe outras análises em nossa editoria Notícias e tendências e entenda como crises globais afetam populações vulneráveis.
Crédito da imagem: Aakriti Thapar/BBC