Delírio adapta romance e lidera Top 10 da Netflix apesar das críticas

A produção colombiana Delírio, disponível na Netflix, transformou-se rapidamente num fenómeno de audiência. Em apenas uma semana, a minissérie acumulou 2,2 milhões de reproduções e 12,3 milhões de horas vistas, garantindo lugar no Top 10 da plataforma em 32 países. Apesar do sucesso junto do público, a receção crítica mantém-se dividida, com apenas 40 % de aprovação no Rotten Tomatoes.

Adaptação literária sem ligação a factos reais

Embora explore temas sensíveis ligados à violência, à política e à saúde mental, Delírio não se baseia em acontecimentos verídicos. O argumento segue o romance homónimo lançado em 2004 pela escritora colombiana Laura Restrepo, publicado em Portugal pela Companhia das Letras. A autora parte da premissa de que «é impossível permanecer são num lugar insano», ideia que se mantém como fio condutor da série.

A narrativa apresenta Agustina, mulher que mergulha num estado de perturbação psicológica grave, e o seu marido, um professor universitário que regressa de uma viagem e se vê confrontado com a súbita deterioração mental da companheira. Ao tentar compreender as causas do colapso, o protagonista depara-se com segredos familiares, traumas antigos e referências a figuras históricas, incluindo um alegado envolvimento de Agustina com o narcotraficante Pablo Escobar. Estes elementos inserem contextos políticos e criminais reais, mas permanecem integrados numa história de ficção.

Estrutura não linear e oito episódios

A minissérie organiza-se em oito episódios e alterna entre a década de 1980 e o ano de 2024. A estrutura temporal fragmentada coloca o espectador perante diferentes fases da vida de Agustina e da sua família, revelando peças de um puzzle psicológico que nem sempre conduzem à conclusão esperada. Este jogo cronológico pretende intensificar a sensação de incerteza e retratar como os acontecimentos do passado influenciam o presente.

Paralelamente à investigação do marido, a obra expõe dinâmicas de classe, expectativas sociais e o impacto de ambientes violentos na estabilidade emocional. A combinação de drama familiar, crítica social e suspense psicológico mantém o ritmo ao longo de toda a temporada.

Desempenho na Netflix

Os dados oficiais da plataforma indicam que Delírio totalizou 12,3 milhões de horas de visualização numa única semana, correspondentes a 2,2 milhões de reproduções completas. Estes números colocaram a série no ranking dos conteúdos mais vistos em 32 nações, confirmando o interesse global por produções latino-americanas e reforçando a estratégia da Netflix em apostar em narrativas regionais com potencial internacional.

Receção crítica dividida

O entusiasmo do público contrasta com a avaliação moderada da imprensa especializada. No agregador Rotten Tomatoes, apenas 40 % das críticas consideram a série recomendável. Publicações como Decider e Screen Rant elogiam a trama complexa e as atuações principais, enquanto o Ready Steady Cut aponta dificuldades na abordagem dos temas propostos. Por sua vez, o Digital Mafia Takes defende que a qualidade interpretativa de parte do elenco é o principal trunfo de uma produção que, no entender da publicação, se perde em determinados momentos.

Embora as opiniões variem, a discrepância entre audiência e crítica não é inédita no streaming. O desempenho comercial sugere que a narrativa, mesmo com falhas apontadas, capta a curiosidade dos subscritores graças ao mistério em torno da condição de Agustina, à estética que recria a Bogotá dos anos 1980 e ao interesse crescente por histórias latino-americanas.

Interesse renovado pela ficção colombiana

A trajectória de Delírio confirma a procura por conteúdos em língua espanhola que combinem thriller psicológico com comentário social. O êxito poderá estimular investimentos adicionais em séries colombianas, dando continuidade à tendência iniciada por títulos como Narcos ou La Reina del Sur. Para a Netflix, resultados sólidos em territórios diversificados reforçam a meta de oferecer catálogos regionais que também consigam transcender fronteiras.

Sem anúncio de uma segunda temporada, a minissérie mantém-se, para já, como adaptação única do romance de Laura Restrepo. A ausência de continuação não impediu que o título se tornasse um dos assuntos mais discutidos na plataforma, sobretudo pela forma como mistura factos históricos, drama familiar e crítica às estruturas de poder que marcaram a Colômbia das últimas décadas.

Com a popularidade já comprovada e o debate crítico em aberto, Delírio consolida-se como um caso de estudo sobre a distância que pode existir entre avaliação profissional e preferência do público no ecossistema do streaming.

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Imagem: tecmundo.com.br

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