COP30 em Belém coloca transição energética, adaptação e financiamento no centro das negociações climáticas

COP30 inicia duas semanas de negociações em Belém com a presença de cerca de 50 mil participantes e o desafio de transformar promessas anteriores em ações concretas contra o aquecimento global.
- O que é a COP e por que a 30ª edição se destaca
- O simbolismo de sediar o evento na Amazônia
- Formato das negociações e eixos centrais
- Transição energética: construção de um roteiro global
- Financiamento: principal impasse na mesa
- Adaptação climática e criação de indicadores globais
- Temas anexos: eliminação de fósseis e desmatamento zero
- Contexto de urgência climática
- Pressões políticas e ausência dos Estados Unidos
- Estratégia brasileira e iniciativas anunciadas
- Expectativas para as negociações finais
O que é a COP e por que a 30ª edição se destaca
A Conferência das Partes (COP), principal fórum da Organização das Nações Unidas para tratar de mudanças climáticas, acontece anualmente desde 1995. Reúne 197 países e a União Europeia com o objetivo de construir consensos sobre a redução de emissões de gases de efeito estufa e outras medidas voltadas à contenção do aquecimento global. As decisões são tomadas por unanimidade, o que exige diálogo constante entre nações com realidades econômicas, sociais e ambientais diferentes.
A COP30, realizada em 2025 na cidade de Belém, no Pará, é considerada uma das mais importantes da história recente. Além de marcar uma década do Acordo de Paris, ocorre em um momento em que o observatório europeu Copernicus aponta para 2025 como um dos anos mais quentes já registrados. O governo brasileiro definiu esta edição como a “COP da verdade”, expressão que reflete a expectativa de que compromissos assumidos em encontros anteriores se convertam, finalmente, em medidas palpáveis.
O simbolismo de sediar o evento na Amazônia
Trazer a conferência para a Amazônia reforça a relevância do bioma nas discussões climáticas. A floresta é simultaneamente um dos ecossistemas mais pressionados pelas mudanças do clima e peça-chave para o equilíbrio climático global. Instalar na região o centro de debates de 50 mil participantes — entre chefes de Estado, cientistas, ativistas, diplomatas e empresários — confere visibilidade internacional à urgência de proteger a maior floresta tropical do mundo.
Formato das negociações e eixos centrais
Ao longo de duas semanas, delegações de quase 200 países trabalham para transformar compromissos políticos em metas mensuráveis, com prazos e recursos claros. Em Belém, três assuntos estruturam a agenda oficial:
1. Transição energética
2. Adaptação climática
3. Financiamento climático
Transição energética: construção de um roteiro global
O Brasil lidera esforços para elaborar um “mapa do caminho” que defina responsabilidades e cronogramas voltados à substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis. A proposta visa reduzir a dependência de petróleo, gás e carvão, estimulando a adoção de energia limpa e a ampliação da eficiência energética. A elaboração deste roteiro deve indicar metas intermediárias, agentes responsáveis e mecanismos de monitoramento, pontos que costumam gerar divergências entre países com diferentes graus de industrialização e capacidades tecnológicas.
Financiamento: principal impasse na mesa
O debate sobre financiamento contrapõe nações desenvolvidas e em desenvolvimento. Na COP29, em Baku, países ricos prometeram mobilizar 300 bilhões de dólares por ano para mitigação e adaptação climática, montante inferior à estimativa da ONU de 1,3 trilhão de dólares necessário para cumprir o Acordo de Paris. Em Belém, as delegações precisam avançar em duas frentes: identificar fontes concretas de recursos e estabelecer critérios para distribuição dos valores entre países com níveis diferentes de emissão e vulnerabilidade.
A ausência de consenso sobre esse tema já atrasou a aplicação de projetos em áreas críticas, principalmente em nações que dependem de financiamento externo para implementar políticas de proteção ambiental e transição energética. A expectativa é que a COP30 detalhe instrumentos financeiros e prazos de desembolso, reduzindo a distância entre promessas e execução.
Adaptação climática e criação de indicadores globais
Com o agravamento dos eventos extremos e o risco de ultrapassar o limite de 1,5 ºC de aquecimento, a adaptação ganha destaque. Negociadores buscam definir indicadores que permitam medir de forma padronizada o avanço de cada país na resposta aos impactos do clima. O prazo para concluir esse sistema de métricas vai até o fim de 2025, o que pressiona as delegações a conciliar critérios técnicos, transparência e responsabilidades compartilhadas.
Temas anexos: eliminação de fósseis e desmatamento zero
Embora não estejam listados como pontos centrais, outros assuntos devem entrar na pauta a partir do balanço global aprovado na COP28. Entre eles, a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e um plano mundial para zerar o desmatamento até 2030. Esses tópicos podem avançar em Belém, dependendo do alinhamento entre blocos de países e da disponibilidade de recursos para viabilizar as metas.
Contexto de urgência climática
Relatórios recentes da ONU e do Copernicus registram emissões globais de gases de efeito estufa em níveis recordes. O relatório Emissions Gap 2025 projeta aumento médio de temperatura entre 2,3 ºC e 2,5 ºC até 2100 caso as promessas atuais sejam cumpridas. Esse cenário reforça o senso de urgência nas negociações, pois demonstra que os compromissos vigentes não bastam para manter a meta de 1,5 ºC estabelecida em Paris.
Pressões políticas e ausência dos Estados Unidos
O ambiente diplomático da COP30 é impactado pela decisão do governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, de retirar o país do Acordo de Paris e, por consequência, de não participar da conferência. A saída de uma das maiores economias e emissoras de carbono enfraquece o peso político das negociações e transfere maior responsabilidade para outras potências e para o país anfitrião.
Estratégia brasileira e iniciativas anunciadas
Para fortalecer sua posição, o Brasil apresenta propostas como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e o Pacto Belém 4X, ambos direcionados à preservação ambiental e ao desenvolvimento sustentável da Amazônia. Esses instrumentos pretendem atrair financiamento internacional, incentivar práticas de produção com baixa emissão de carbono e apoiar comunidades locais.
Na abertura da cúpula de líderes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que transformar a COP30 na “COP da verdade” requer reconhecer avanços alcançados, sem ignorar a distância ainda existente em relação às metas do Acordo de Paris. Ao sediar o encontro, o país procura demonstrar compromisso com a agenda climática e angariar apoio para iniciativas domésticas de combate ao desmatamento.
Expectativas para as negociações finais
A etapa decisiva da conferência envolverá o detalhamento de textos finais sobre transição energética, adaptação e financiamento. Êxito ou fracasso será medido pela clareza dos compromissos assumidos, pelos prazos definidos e pelos mecanismos de monitoramento acordados. Delegações buscam equilibrar ambição climática com viabilidade econômica, em um ambiente de forte disparidade de recursos entre países.
Com emissões em alta, metas em risco e financiamento insuficiente, a 30ª Conferência das Partes representa um teste crucial para a governança climática global. Os próximos dias de negociações em Belém indicarão se a comunidade internacional conseguirá transformar esta COP na edição em que promessas se convertem, de fato, em ações efetivas.
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