COP30 em Belém: estrutura, temas e liderança de um evento que reunirá 198 países pela ação climática

Quem, o quê, quando, onde e por quê guiam o ponto de partida desta reportagem. Entre quinta-feira, 6, e sexta-feira, 7, a cidade de Belém, no Pará, sedia a denominada Cúpula do Clima. O encontro reúne chefes de Estado de diversas nações e serve como passo preparatório imediato para a 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), programada para ocorrer de 10 a 21 de novembro. O objetivo central é alinhar posições políticas antes das negociações formais que envolverão, ao todo, 198 países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
- Belém recebe a Cúpula do Clima e antecipa debates da COP30
- Brasil retoma o protagonismo inaugurado na ECO92
- Conferências anuais desde 1995: como funcionam as COPs
- Passo a passo dos preparativos oficiais
- Eixos temáticos orientam a Cúpula de Líderes
- Fundo Florestas Tropicais para Sempre: nova ferramenta de proteção
- COP30: datas, participação e princípio de responsabilidades comuns
- Divisão do espaço em três áreas: Zona Azul, Zona Verde e eventos paralelos
- Círculos de Liderança moldam o andamento das negociações
- Três décadas de negociações e o desafio de transformar promessas em ação
Belém recebe a Cúpula do Clima e antecipa debates da COP30
Durante dois dias, lideranças internacionais participam de reuniões gerais e sessões temáticas comandadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os debates estão estruturados em três eixos: Clima e Natureza, Transição Energética e os 10 anos do Acordo de Paris. O formato permite que chefes de governo e ministros se concentrem em temas específicos, pavimentando entendimentos preliminares que possam ser formalizados na conferência de novembro.
Brasil retoma o protagonismo inaugurado na ECO92
A realização da COP30 em território brasileiro tem carga simbólica relevante. Há mais de três décadas, em 1992, o Rio de Janeiro recebeu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, evento registrado como ECO92 ou Conferência da Terra. Naquele momento, a comunidade internacional iniciou a construção dos grandes acordos ambientais multilaterais ainda em vigor. Trinta anos depois, a volta de um fórum climático de alto nível ao país representa, para diplomatas e observadores, um retorno às origens e um chamado urgente para converter promessas em ações verificáveis.
Conferências anuais desde 1995: como funcionam as COPs
As Conferências das Partes ocorrem de forma ininterrupta desde 1995, ano em que Berlim sediou a primeira edição. A cada ciclo, quase 200 governos buscam consenso sobre redução de emissões de gases de efeito estufa, proteção de florestas e financiamento à energia limpa. O ponto de inflexão mais notável dessas negociações foi o Acordo de Paris, aprovado em 2015, que pela primeira vez fez com que todas as nações se comprometessem a limitar o aquecimento global a menos de 2 °C em relação aos níveis pré-industriais.
Passo a passo dos preparativos oficiais
Antes da chegada das delegações a Belém, foram realizadas duas reuniões que serviram para refinar agendas e rascunhar textos de decisão. A primeira aconteceu em Bonn, na Alemanha, sede da secretaria da UNFCCC. A segunda, em Brasília, reuniu representantes de 67 países. Esses encontros técnicos, chamados de inter-sessionais, tratam de temas como metas de mitigação, mecanismos de transparência e financiamento climático, permitindo que pontos de discórdia sejam identificados com antecedência.
Eixos temáticos orientam a Cúpula de Líderes
No plano político, o governo brasileiro definiu três eixos de discussão. O primeiro, Clima e Natureza, foca na preservação de florestas tropicais e na integridade de ecossistemas essenciais. O segundo, Transição Energética, aborda caminhos para substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis, elemento decisivo para atingir metas de emissões. O terceiro eixo, dedicado aos 10 anos do Acordo de Paris, revê compromissos assumidos em 2015, avalia avanços e aponta lacunas que demandam nova ambição coletiva.
Fundo Florestas Tropicais para Sempre: nova ferramenta de proteção
Um dos anúncios de maior destaque na programação de Belém é o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre. A iniciativa busca reunir países detentores de grandes áreas de floresta e investidores interessados em custear projetos de conservação. Ao apresentar o mecanismo antes da conferência oficial, o governo brasileiro pretende chegar à COP30 com um instrumento de financiamento já estruturado, reforçando o argumento de que preservar vegetação nativa é estratégia de mitigação de emissões.
COP30: datas, participação e princípio de responsabilidades comuns
A etapa formal da COP30 terá início em 10 de novembro. Negociadores dos 198 países partes da Convenção-Quadro participarão de sessões diárias até 21 de novembro. Todas as discussões seguem o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas: embora todos os países tenham o dever de agir contra o aquecimento global, as nações historicamente mais ricas assumem obrigação maior de financiar ações em países em desenvolvimento.
Divisão do espaço em três áreas: Zona Azul, Zona Verde e eventos paralelos
Para acomodar a diversidade de atividades, a conferência será fisicamente separada em três setores. A Zona Azul concentrará as negociações oficiais entre governos, com acesso restrito a delegações credenciadas e observadores registrados na ONU. A Zona Verde permanecerá aberta ao público sem necessidade de credenciamento, ofertando exposições, atividades educativas e debates organizados por universidades, organizações não governamentais e empresas. Por fim, os eventos paralelos trarão fóruns e painéis específicos sobre energia limpa, combate ao desmatamento e justiça climática, funcionando como espaço de convergência entre setores público e privado.
Círculos de Liderança moldam o andamento das negociações
Esta edição incorporará quatro Círculos de Liderança, estruturas que pretendem agilizar a obtenção de consensos. O primeiro, intitulado Balanço Ético Global, será conduzido por António Guterres, Luiz Inácio Lula da Silva e Marina Silva e discutirá formas de evitar o colapso climático. O segundo, o Círculo de Ministros de Finanças, com coordenação de Fernando Haddad, tratará de estratégias para liberar os US$ 1,3 trilhão prometidos na conferência anterior. O terceiro, designado Círculo de Povos, sob liderança de Sonia Guajajara, garantirá voz a indígenas e comunidades tradicionais. O quarto, o Círculo de Presidentes, reunirá ex-líderes de COPs para propor meios de acelerar a implementação do Acordo de Paris e expandir a cooperação internacional.
Três décadas de negociações e o desafio de transformar promessas em ação
Desde 1995, cada COP acrescenta cláusulas, programas e fundos ao arcabouço de governança climática global. Apesar de conquistas como o Acordo de Paris, relatórios das Nações Unidas indicam que as emissões mundiais ainda não seguem trajetória compatível com a meta de 1,5 °C. A presença de quase 200 países em Belém, bem como as iniciativas apresentadas na Cúpula do Clima, reforçam a urgência de converter intenções declaradas em políticas implementadas, com fiscalização, financiamento adequado e cronogramas claros.
Ao sediar tanto a Cúpula do Clima quanto a COP30, o Brasil coloca sua diplomacia ambiental no centro das atenções mundiais. A expectativa é que o formato de eixos temáticos, somado à criação de fundos específicos e à participação de múltiplos círculos de liderança, contribua para decisões que reflitam a escala da crise climática e a diversidade de responsabilidades entre as nações.
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