Congresso dos EUA convoca Bill e Hillary Clinton a depor no inquérito sobre Jeffrey Epstein
O Comité de Supervisão da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos enviou intimações formais a Bill Clinton e Hillary Clinton, bem como a oito antigos responsáveis de topo da Justiça e do FBI, no âmbito da investigação parlamentar ao histórico do falecido financista Jeffrey Epstein. Os documentos foram emitidos na terça-feira e inserem-se numa iniciativa liderada pelo republicano James Comer, presidente do comité.
Alcance das novas convocações
Além do casal Clinton, receberam intimações os ex-procuradores-gerais Merrick Garland, Loretta Lynch, Eric Holder, Alberto Gonzales, Jeff Sessions e William Barr, bem como os ex-diretores do FBI James Comey e Robert Mueller. O Departamento de Justiça (DoJ) foi igualmente chamado a entregar toda a documentação relacionada com Epstein e a sua associada Ghislaine Maxwell, incluindo processos criminais, comunicações internas e o acordo de não-processo alcançado em 2007.
A investigação parlamentar pretende averiguar a forma como sucessivas administrações federais — de George W. Bush, Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden — trataram as denúncias de tráfico sexual envolvendo o financista. De acordo com as cartas enviadas, o comité tenciona iniciar as audições este mês, prolongando-as até ao outono. O ex-Presidente Bill Clinton tem depoimento agendado para 14 de outubro.
Objetivos e enquadramento da investigação
Nos ofícios, James Comer refere que o comité deve “fiscalizar a aplicação das leis contra o tráfico de seres humanos e, em particular, a condução da investigação e acusação de Epstein e Maxwell”. A decisão surge depois de o Departamento de Justiça ter recusado libertar novos ficheiros sobre o caso, o que gerou críticas de apoiantes de Donald Trump e de alguns democratas que aguardavam uma alegada “lista de clientes” de Epstein.
A mobilização parlamentar abrange ainda a possível audição de Ghislaine Maxwell, atualmente a cumprir uma pena de 20 anos por tráfico de menores. A sua declaração, inicialmente marcada para 11 de agosto, foi adiada sem nova data. Segundo os seus advogados, Maxwell está disponível para cooperar sob proteções legais estritas.
Desde o início dos anos 2000, queixas de abuso sexual contra Epstein foram analisadas pela polícia da Florida e pelo FBI. Em 2019, durante a administração Trump, o financista foi acusado de tráfico de menores e outros crimes federais, mas suicidou-se poucos meses depois na cadeia de Manhattan. As circunstâncias da morte continuam a alimentar teorias que pressionam o Congresso a divulgar todos os registos relacionados.
Ligações conhecidas dos Clinton a Epstein
Os ofícios enviados ao casal Clinton citam viagens e encontros registados no início dos anos 2000. Um porta-voz admitira em 2019 que Bill Clinton realizou quatro deslocações na aeronave privada de Epstein entre 2002 e 2003, todas acompanhadas por funcionários e agentes do Serviço Secreto. O ex-chefe de Estado também se encontrou com Epstein em Nova Iorque e visitou o seu apartamento nesse período.
A comunicação oficial mantém a posição de que Clinton “nada sabe sobre os crimes hediondos” pelos quais Epstein foi condenado na Florida ou acusado em Nova Iorque. Hillary Clinton, ex-secretária de Estado e candidata presidencial em 2016, não foi publicamente associada a qualquer conduta ilícita no processo, mas foi igualmente notificada.
Contexto histórico e próximos passos
Ao longo de dois séculos, apenas quatro ex-presidentes dos EUA foram intimados por comités do Congresso, tendo apenas dois prestado depoimento. A equipa de Comer não esclareceu se as sessões com os atuais citados decorrerão em público ou à porta fechada. Também permanece incerto se todas as personalidades acatarão as convocações.
Paralelamente, o Departamento de Justiça analisa a divulgação de transcrições do grande júri relativas a Maxwell, medida à qual a defesa se opõe. A disputa entre legisladores republicanos sobre o acesso aos ficheiros tornou-se tão intensa que o presidente da Câmara, Mike Johnson, chegou a suspender trabalhos em julho para evitar uma votação sobre o tema.
O Comité de Supervisão continuará a recolher depoimentos e documentação ao longo dos próximos meses, numa tentativa de clarificar eventuais falhas institucionais na perseguição a crimes de tráfico sexual cometidos por Jeffrey Epstein e pela sua rede de contactos.
Imagem: bbc.com
