Cometa interestelar 3I/ATLAS reaparece e é fotografado em três continentes após passagem pelo periélio

Cometa interestelar 3I/ATLAS reaparece e é fotografado em três continentes após passagem pelo periélio

O raríssimo cometa interestelar 3I/ATLAS voltou a ser visível a partir da Terra, encerrando um período em que esteve ofuscado pelo brilho solar durante a fase mais próxima ao Sol, o periélio. O retorno foi documentado inicialmente por um grande telescópio no norte do Arizona, nos Estados Unidos, e, em seguida, confirmado por equipamentos menores operados por astrônomos amadores e profissionais na Pensilvânia, Áustria e Itália. Trata-se do terceiro objeto conhecido a atravessar o Sistema Solar vindo do espaço interestelar, deslocando-se a mais de 210 mil quilômetros por hora em trajetória praticamente retilínea.

Índice

Detecção após o periélio

A primeira imagem óptica do 3I/ATLAS na fase pós-periélio foi obtida na noite de 31 de outubro por um astrônomo do Observatório Lowell. Para isso, ele utilizou o Telescópio Discovery, instalado a cerca de 2 300 metros de altitude na cordilheira Happy Jack, no Arizona. A posição extremamente baixa do objeto em relação ao horizonte – apenas 16 graus de distância angular do Sol – exigiu um instrumento com capacidade especial para observar quase no limite entre o céu noturno e o brilho do amanhecer.

No registro, o cometa aparece como um ponto luminoso central, enquanto uma estrela logo acima surge levemente distorcida em razão do movimento relativo do 3I/ATLAS durante o tempo de exposição. A obtenção dessa imagem marca o primeiro retrato óptico do visitante depois de sua passagem mais próxima ao Sol, completando uma etapa aguardada pela comunidade científica que acompanha o comportamento do corpo celeste desde a descoberta, em julho.

Como a imagem foi obtida

Para capturar o instante exato em que o céu ainda permanecia escuro e o cometa se mantinha suficientemente alto para não ser encoberto pelo relevo, o astrônomo responsável realizou um procedimento de preparação com um telescópio menor, de abertura de 15 centímetros. Esse equipamento auxiliar serviu para avaliar a transparência atmosférica, determinar o melhor tempo de exposição e confirmar a posição no firmamento antes da coleta de dados com o instrumento principal.

Embora existam indícios de que radiotelescópios e telescópios de menor porte também tenham acompanhado o 3I/ATLAS durante o periélio, a fotografia obtida no Arizona se destaca por registrar o cometa em luz visível logo após o ponto de máxima aproximação solar. Essa condição fornece dados úteis sobre a aparência da coma – a nuvem de gás e poeira que envolve o núcleo – em uma fase crítica de aquecimento e sublimação de materiais voláteis.

Visibilidade com telescópios amadores

Após confirmar a detecção com o grande telescópio, o mesmo pesquisador verificou que o 3I/ATLAS podia ser observado com instrumentos bem mais modestos. Uma imagem adicional, feita com uma luneta de 152 milímetros, mostrou que o cometa surge como uma mancha tênue contra o fundo celeste, porém acessível a entusiastas equipados com câmeras sensíveis ou oculares de boa qualidade. Para garantir sucesso, recomenda-se um horizonte leste desobstruído e atmosfera límpida durante o crepúsculo matutino. A expectativa é de que o brilho aumente gradualmente nos dias seguintes, à medida que o objeto se afasta do Sol e ganha contraste no céu.

Registros subsequentes nos Estados Unidos e na Áustria

A confirmação visual motivou novos esforços de observação. Na madrugada de 4 de novembro, um astrofotógrafo na cidade de Palmer Township, Pensilvânia, empregou uma montagem computadorizada para apontar a câmera, mas um pequeno erro ao inserir as coordenadas ocasionou um enquadramento fora do centro. Mesmo assim, uma exposição única de 20 segundos foi suficiente para revelar o cometa, quase imperceptível, no limite direito da fotografia antes que a claridade solar impedisse aquisições adicionais.

No mesmo dia, o Observatório Aéreo de Martinsberg, na Áustria, aproveitou a abertura de uma janela sem nuvens pouco antes do amanhecer. Com o auxílio de um sistema RASA e filtro verde, a equipe coletou uma série curta de imagens. As medições preliminares indicaram uma coma de aproximadamente 2,5 minutos de arco e uma cauda voltada para o norte, formando um ângulo de posição estimado em 334 graus. A extensão angular da cauda, de cerca de 17 minutos de arco, equivale a 34 vezes o diâmetro aparente da Lua cheia, que ocupa meio grau (30 minutos de arco) no firmamento. Devido à baixa altitude do cometa, esses dados aguardam confirmação em condições de observação mais favoráveis.

Captura italiana reforça visibilidade crescente

Um terceiro registro importante ocorreu em 5 de novembro, desta vez nas instalações do Projeto Telescópio Virtual, em Manciano, Itália. O diretor científico do projeto, doutor em astrofísica, utilizou o sistema remoto para confirmar a presença do 3I/ATLAS próximo ao horizonte oriental. A sequência obtida corrobora a tendência de aumento de brilho relatada em dias anteriores e reforça a possibilidade de monitoramento contínuo a partir de latitudes médias do Hemisfério Norte.

Características do objeto interestelar

O 3I/ATLAS integra um grupo extremamente seleto de objetos identificados como originários de fora do Sistema Solar. Antes dele, apenas dois visitantes dessa natureza haviam sido catalogados: 1I/‘Oumuamua e 2I/Borisov. Cálculos de dinâmica orbital apontam velocidade superior a 210 000 km/h e órbita aberta, indicando que a gravidade solar não será suficiente para capturá-lo. Dessa forma, o cometa segue apenas uma passagem única, fornecendo aos pesquisadores um intervalo limitado para coletar informações.

A designação numérica “3I” refere-se ao fato de ser o terceiro objeto interestelar confirmado, enquanto a sigla “ATLAS” homenageia o sistema de levantamento astronômico responsável pela descoberta. Desde julho, observadores profissionais e amadores acompanham a evolução do brilho, a formação da cauda e possíveis alterações na atividade cometária, parâmetros que podem revelar a composição química e a estrutura do núcleo.

Mudança de cor e aceleração não gravitacional

Um estudo preliminar, disponibilizado no repositório arXiv e ainda sujeito a revisão por pares, aponta que o 3I/ATLAS apresentou variação de cor ao longo da aproximação ao Sol. Os autores empregaram instrumentos espaciais voltados ao monitoramento solar, como o Observatório de Relações Solar-Terrestre (STEREO) da NASA, o Satélite de Observação Solar e Heliosférica (SOHO), operado em parceria entre NASA e Agência Espacial Europeia, e o satélite meteorológico GOES-19, da NOAA. As medições indicam acentuada emissão de gases, sugerindo que forças adicionais, além da gravidade, estão provocando leve aceleração no movimento do objeto.

A detecção de acelerações não gravitacionais é comum em cometas de longo período e costuma estar relacionada à sublimação de gelo que age como minúsculos jatos de propulsão. No caso de um visitante interestelar, o fenômeno desperta especial interesse, pois oferece pistas sobre a composição e o histórico térmico de corpos que se formaram em outras regiões da Via Láctea.

Perspectivas de observação e pesquisa

Com a confirmação do reaparecimento, astrônomos planejam uma série de campanhas para registrar o espectro de emissão do 3I/ATLAS e medir a taxa de produção de poeira. Instrumentos terrestres de médio porte, aliando câmeras de alta sensibilidade a filtros estreitos, deverão complementar os dados já obtidos em órbita. Cada imagem adicional contribui para refinar a trajetória e compreender os mecanismos de atividade que diferenciam o cometa dos objetos originados no próprio Sistema Solar.

A janela de observação, contudo, permanece limitada pela posição próxima ao horizonte e pelo rápido deslocamento aparente. As melhores oportunidades concentram-se no crepúsculo matutino, em regiões de latitudes médias do Hemisfério Norte. Observadores do Hemisfério Sul, incluindo o Brasil, dependem de condições geométricas que ainda não se concretizaram e, portanto, aguardam previsões específicas sobre ângulo de visibilidade e magnitude aparente.

Até que deixe definitivamente a vizinhança solar, o 3I/ATLAS oferece um laboratório natural para estudar materiais primordiais preservados no espaço interestelar. As fotografias obtidas nos Estados Unidos, Áustria e Itália inauguram a fase pós-periélio dessa investigação e demonstram que, mesmo com desafios de brilho e posição, o acompanhamento sistemático fornece dados valiosos sobre o comportamento de um dos corpos mais velozes já registrados na órbita do Sol.

zairasilva

Olá! Eu sou a Zaira Silva — apaixonada por marketing digital, criação de conteúdo e tudo que envolve compartilhar conhecimento de forma simples e acessível. Gosto de transformar temas complexos em conteúdos claros, úteis e bem organizados. Se você também acredita no poder da informação bem feita, estamos no mesmo caminho. ✨📚No tempo livre, Zaira gosta de viajar e fotografar paisagens urbanas e naturais, combinando sua curiosidade tecnológica com um olhar artístico. Acompanhe suas publicações para se manter atualizado com insights práticos e interessantes sobre o mundo da tecnologia.

Conteúdo Relacionado

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Go up

Usamos cookies para garantir que oferecemos a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você está satisfeito com ele. OK