Cometa interestelar 3I/ATLAS atinge periélio a 204 milhões de km do Sol e inicia fase de maior brilho

O cometa 3I/ATLAS, terceiro visitante identificado vindo de fora do Sistema Solar, alcança nesta quarta-feira, 29, às 8h47 pelo horário de Brasília, seu periélio, ponto de maior aproximação do Sol, situado a 1,36 unidade astronômica ou cerca de 204 milhões de quilômetros da estrela.
- Quem é o visitante interestelar
- Como ocorreu a descoberta
- Importância científica
- Significado do periélio a 1,36 UA
- Efeitos do calor solar
- Visibilidade após a passagem pelo periélio
- Próximos marcos na trajetória
- Contribuições para a ciência planetária
- Por que a fragmentação é improvável
- A fase de afastamento e o declínio de brilho
- Relevância como “terceiro turista” extrassolar
- Perspectivas observacionais futuras
- Registro no banco de dados orbital
Quem é o visitante interestelar
Detectado em julho deste ano, o 3I/ATLAS recebeu a designação “3I” por ser o terceiro objeto de origem comprovadamente interestelar catalogado. O corpo celeste viaja por uma órbita hiperbólica, sinal claro de que não está gravitacionalmente ligado ao Sol e, portanto, provém de outra estrela não identificada.
Como ocorreu a descoberta
A identificação do cometa foi feita por um astrônomo amador ao examinar sequências diárias de imagens do coronógrafo CCOR-1, instalado no satélite meteorológico norte-americano GOES-19. O equipamento monitora a região ao redor do Sol, e a detecção foi possível porque o objeto se movia atrás da estrela em relação à posição da Terra. A descoberta logo foi confirmada por centros de monitoramento de pequenos corpos celestes, que calcularam sua órbita e comprovaram a origem extrassolar.
Importância científica
Por ter se formado em torno de outra estrela, o 3I/ATLAS carrega em seus grãos de poeira e em seu gelo pistas químicas sobre processos de formação planetária ocorridos em regiões inexploradas da Via Láctea. Cada fragmento liberado pelo núcleo contém minerais e compostos voláteis nunca antes amostrados diretamente na vizinhança terrena, oferecendo um panorama sobre a diversidade de materiais que compõem sistemas planetários distantes.
Significado do periélio a 1,36 UA
No ponto de maior aproximação, o cometa recebe o máximo de radiação e calor solares. A temperatura elevada sublima rapidamente o gelo que recobre o núcleo, convertendo-o em gás e liberando partículas de poeira. Esse processo origina a coma — envelope difuso ao redor do núcleo — e a cauda, que se estende na direção oposta ao Sol. O fenômeno torna o objeto visivelmente mais brilhante quando observado da Terra.
Ainda que o aquecimento seja intenso, a distância de 204 milhões de quilômetros garante que o 3I/ATLAS permaneça bem mais longe da estrela do que Mercúrio, planeta cuja órbita média é de 0,39 unidade astronômica (58,3 milhões de quilômetros). Essa margem reduz quase a zero a probabilidade de destruição total do núcleo, embora pequenas fissuras possam surgir em regiões estruturalmente frágeis.
Efeitos do calor solar
Durante o periélio, espera-se aumento temporário de atividade, com libertação abundante de gás e poeira. De acordo com estimativas de especialistas citadas em portais de divulgação científica, a chance de o cometa se fragmentar por completo permanece mínima. O núcleo tende a manter sua integridade, permitindo o acompanhamento do objeto à medida que ele se afasta do Sol nos próximos meses.
Visibilidade após a passagem pelo periélio
Conforme cálculos do guia de observação InTheSky.org, o 3I/ATLAS retorna à observação óptica a partir de 3 de novembro. Nesse dia, o corpo será localizado aproximadamente nove graus acima do horizonte leste pouco antes do nascer do Sol. De 3 a 17 de novembro, ele percorrerá a Constelação de Virgem, elevando-se cerca de três graus adicionais e antecipando o horário de surgimento em torno de dez minutos a cada madrugada. Esse intervalo oferece a melhor janela de observação para telescópios amadores equipados com câmeras de longa exposição.
Próximos marcos na trajetória
O cronograma orbital indica outra data de interesse: 19 de dezembro. Nessa ocasião, o cometa passará a 1,80 unidade astronômica da Terra, o equivalente a 269 milhões de quilômetros. Embora a distância seja ampla, o alinhamento favorece medições precisas de brilho, tamanho da coma e composição espectroscópica.
Depois, em março de 2026, o 3I/ATLAS cruzará a vizinhança de Júpiter a cerca de 0,36 unidade astronômica (54 milhões de quilômetros). A gravidade do planeta gigante poderá alterar levemente a trajetória hiperbólica do visitante, pequena perturbação que astrônomos planejam medir para refinar modelos dinâmicos de objetos interestelares.
Contribuições para a ciência planetária
Cada etapa da jornada do 3I/ATLAS permite obter dados inéditos. A análise da cauda durante o periélio revela a composição dos voláteis, enquanto a luminosidade medida a partir de novembro fornece parâmetros sobre a taxa de produção de gás. Observações no infravermelho e no ultravioleta, conduzidas por telescópios terrestres e espaciais, ajudam a mapear elementos leves e orgânicos presentes na coma.
Ao longo de 2025, espera-se nova fase de atividade moderada, projetada por simulações que utilizam dados do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA. Imagens planejadas para setembro daquele ano, por exemplo, devem registrar a passagem do cometa simultaneamente a um eclipse lunar, combinação que permite calibração detalhada dos instrumentos de captura.
Por que a fragmentação é improvável
Modelos térmicos indicam que a energia recebida a 1,36 UA não excede o limite de coesão do núcleo. Diferentemente de cometas que mergulham muito próximo do Sol — onde marés gravitacionais e aquecimento extremo podem desintegrar o corpo — 3I/ATLAS mantém margem confortável. Caso existam áreas porosas, elas podem rachar e liberar pequenos blocos de gelo e poeira, mas a estrutura global deve permanecer coesa.
A fase de afastamento e o declínio de brilho
Após atingir o periélio, o cometa inicia trajetória de saída do Sistema Solar interno. O resfriamento gradual reduz a sublimação de gelo, a coma diminui e a magnitude aparente aumenta, tornando-o menos visível a olho nu ou com pequenos instrumentos. Entre o fim de 2025 e o primeiro trimestre de 2026, a luminosidade deve cair a níveis que só permitirão detecção com telescópios profissionais. Pouco depois da interação gravitacional com Júpiter, a visibilidade se perde de forma definitiva para observadores terrestres.
Relevância como “terceiro turista” extrassolar
Antes de 3I/ATLAS, apenas dois objetos interestelares haviam sido confirmados: um asteroide rico em rocha descoberto em 2017 e um cometa em 2019. A chegada de um terceiro exemplar cria série comparativa indispensável para entender a diversidade de materiais expulsos de outros sistemas estelares. Cada visita gera amostra estatística mais robusta para modelos que simulam a formação e a evolução de nuvens protoplanetárias.
Perspectivas observacionais futuras
Instituições de pesquisa mantêm monitoramento fotométrico e espectroscópico contínuo. Resultados preliminares sobre abundância de metais ou moléculas complexas serão comparados a achados de cometas tradicionais do Sistema Solar. Diferenças e semelhanças oferecerão pistas valiosas sobre a química da galáxia.
A aproximação moderada da Terra em dezembro deste ano, somada à janela matutina de novembro, representa momento estratégico para coletar dados que, possivelmente, não estarão disponíveis novamente quando o cometa se perder no espaço interestelar.
Registro no banco de dados orbital
Todos os parâmetros de posição, velocidade e brilho do 3I/ATLAS são compilados em tempo real pelo JPL Small-Body Database. A plataforma permite que astrônomos profissionais e amadores planejem campanhas de observação, calculem efemérides detalhadas e acompanhem qualquer variação inesperada na órbita ou na atividade do objeto.
O periélio de 1,36 UA marca o ápice da interação entre o cometa 3I/ATLAS e o Sol, oferecendo a melhor oportunidade para desvendar a composição de um mensageiro vindo de outra estrela antes que ele retome sua viagem rumo ao espaço profundo.
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