Cometa interestelar 3I/ATLAS exibe mudança de cor e aceleração não gravitacional durante periélio

Cometa interestelar 3I/ATLAS exibe mudança de cor e aceleração não gravitacional durante periélio

Lead – Quem, o quê, quando, onde e por quê

O cometa 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar já confirmado a cruzar o Sistema Solar, demonstrou dois comportamentos incomuns nas últimas semanas: alterou a coloração de sua coma para um tom mais azulado e passou a acelerar de modo incompatível com a atração gravitacional exercida pelo Sol. As descobertas constam de um estudo submetido ao repositório científico arXiv e dizem respeito a eventos registrados pouco antes e logo depois de o corpo celeste atingir o periélio em 29 de outubro, quando esteve oculto para observadores terrestres.

Índice

Origem e classificação de um visitante interestelar

Catalogado como 3I/ATLAS, o cometa carrega no nome a indicação de que se trata do terceiro objeto interestelar (“3I”) a ser formalmente confirmado após o asteroide 1I/‘Oumuamua e o cometa 2I/Borisov. A detecção inicial ocorreu em 1.º de julho por meio do Sistema de Último Alerta para Impacto de Asteroides com a Terra (ATLAS), iniciativa financiada pela NASA voltada a identificar corpos potencialmente perigosos. A órbita hiperbólica aferida logo nos primeiros cálculos sinalizou que o astro não estava gravitacionalmente ligado ao Sol, evidência fundamental para classificá-lo como forasteiro vindos de além da Nuvem de Oort.

Motivos para um monitoramento intensivo

Desde o anúncio da descoberta, observatórios terrestres e espaciais mantêm vigilância constante sobre o 3I/ATLAS. A justificativa central é científica: sua composição pode preservar material inalterado desde eras muito anteriores à formação do Sistema Solar, funcionando como uma “cápsula do tempo” que ajuda a reconstruir condições físicas e químicas da jovem Via Láctea. Qualquer variação de brilho, cor ou velocidade oferece dados valiosos sobre a estrutura interna do núcleo, a abundância de voláteis e os processos de erosão desencadeados pela radiação solar.

Período de invisibilidade e retorno aos sensores

Ao aproximar-se do periélio, o cometa posicionou-se atrás do disco solar sob o ponto de vista da Terra, tornando-se temporariamente invisível para telescópios ópticos convencionais. Durante esse intervalo crítico, instrumentos espaciais capazes de operar em condições de forte luminosidade, como o Observatório Solar e Heliosférico (SOHO), o Observatório de Relações Solar-Terrestre (STEREO) e o satélite meteorológico GOES-19, foram fundamentais para manter o rastreio. As imagens obtidas nesses dispositivos forneceram o primeiro registro da mudança de cor e do surto de brilho que ganhariam destaque no relatório científico.

Mudança de cor: da tonalidade esbranquiçada ao azul intenso

A equipe responsável pelo estudo constatou uma segunda alteração cromática na coma do 3I/ATLAS, agora dominada por matizes azuladas quando comparada ao espectro solar. A variação indica que compostos voláteis diferentes passaram a dominar a emissão de luz refletida ou fluorescente. Substâncias ricas em carbono ou cianogênio, por exemplo, emitem fortemente nessas faixas de comprimento de onda. Essa transformação coincide com o aquecimento progressivo provocado pela proximidade do Sol, processo capaz de romper camadas superficiais e expor gelo até então protegido no interior do núcleo.

Surto de luminosidade acima do padrão de cometas da Nuvem de Oort

Junto à mudança de cor, ocorreu um aumento abrupto de brilho que elevou o cometa à magnitude 9, limite acessível a telescópios amadores de pequeno porte e até a binóculos de alta qualidade. Segundo os autores, a intensidade desse surto foi significativamente maior do que a observada em cometas oriundos da Nuvem de Oort. O fenômeno sugere que o estoque de voláteis liberado em curto intervalo de tempo foi volumoso, revelando particularidades da composição química ou da estrutura porosa do núcleo interestelar.

Instrumentos e metodologia observacional

As medições que fundamentam o artigo utilizaram fotos e espectros captados por coronógrafos a bordo do SOHO, do STEREO e do GOES-19. Esses sensores isolam o brilho intenso da luz solar direta, permitindo enxergar objetos nas redondezas da estrela. Em seguida, os pesquisadores compararam as intensidades registradas em filtros diferentes para derivar cores e calibrar a magnitude aparente. O alinhamento das imagens com o norte celeste facilitou o cálculo da velocidade relativa em relação ao Sol, informação crucial para analisar a dinâmica orbital.

Aceleração não gravitacional detectada a 203 milhões de quilômetros

Enquanto a fotometria apontava o surto de luminosidade, análises independentes de navegação orbital revelaram que o 3I/ATLAS apresentava uma aceleração que não podia ser explicada apenas pela gravidade. A anomalia foi medida quando o objeto ainda se encontrava a cerca de 203 milhões de quilômetros do Sol. Esse comportamento é típico de cometas que expelirem jatos de gás e poeira; o material ejetado confere um empuxo oposto ao fluxo, modulando a trajetória de maneira assemelhada ao princípio de ação e reação observado em foguetes.

Perda de massa e formação prevista de pluma visível

Os cálculos sugerem que, se o ritmo de sublimação se mantiver, o cometa poderá perder até um décimo de sua massa nos próximos meses. A erosão deve gerar uma pluma destacada, uma nuvem de partículas que se dispersa no espaço. Tal estrutura ­— extensa e pouco densa — tende a refletir luz solar de forma difusa, potencialmente aumentando a visibilidade do objeto em comprimentos de onda específicos. A presença de uma pluma também age como indicador direto da taxa de atividade cometária e ajuda a quantificar a quantidade de voláteis presentes no núcleo.

Oportunidade única para a missão JUICE da Agência Espacial Europeia

A sonda JUICE, lançada pela Agência Espacial Europeia com destino principal às luas de Júpiter, encontra-se em trajetória que, nas próximas semanas, a posicionará em linha favorável para coletar dados remotos do 3I/ATLAS. Sensores a bordo do veículo espacial podem detectar a pluma de gás prevista pelos astrônomos e comparar sua composição espectroscópica com a de cometas tradicionais. Essa coincidência de rotas torna-se valiosa porque permite observar a evolução de um visitante interestelar em tempo quase real, sem a necessidade de uma missão dedicada.

Hipótese química para o surto de luminosidade

Uma explicação provisória para o aumento repentino de brilho envolve a sublimação diferenciada de gelo de dióxido de carbono (CO2) antes da água. Caso o CO2 tenha escapado primeiro, o resfriamento subsequente poderia retardar a liberação de vapor d’água, criando um desequilíbrio que culmina em liberação massiva posterior. Esse cenário químico, embora ainda precisando de confirmação, adequa-se à observação de um surto forte e tardio, bem como à alteração na cor da coma.

Especulação sobre origem artificial e resposta da comunidade

Durante o período em que o cometa passou atrás do Sol, o astrônomo Avi Loeb, da Universidade de Harvard, ressuscitou a possibilidade de que o 3I/ATLAS fosse uma sonda extraterrestre camuflada. A ideia, entretanto, foi prontamente refutada por especialistas da NASA e por pesquisadores do programa SETI, que lembraram que a aceleração medida é perfeitamente compatível com processos naturais de outgassing. O episódio ilustra o interesse público que cerca objetos interestelares desde a passagem de 1I/‘Oumuamua, mas reforça que as evidências atuais apontam para uma explicação fisicamente plausível e não artificial.

Visibilidade futura e valor científico contínuo

Com o afastamento gradual do Sol, o 3I/ATLAS deve voltar a ser observável a partir da Terra nas próximas noites, possivelmente ainda mais brilhante se a atividade cometária continuar elevada. A comunidade astronômica aguarda esses novos dados para confirmar o ritmo de aceleração, avaliar a extensão da pluma prevista e refinar modelos de composição. Cada parâmetro extraído contribui para a compreensão de como se formam e evoluem corpos menores em outras regiões da galáxia, oferecendo pistas indiretas sobre as condições prevalecentes nos períodos iniciais de existência do Universo.

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