Cometa interestelar 3I/ATLAS intensifica atividade e se aproxima da Terra em dezembro

Palavra-chave principal: cometa 3I/ATLAS
- Um visitante interestelar sob escrutínio global
- Descoberta e reclassificação: de A11pl3Z a 3I/ATLAS
- Idade estimada e importância científica
- Composição incomum revelada por observações em infravermelho
- Magnitudes, caudas e mudança de atividade
- Marcos da trajetória: de Marte ao periélio
- Ponto de máxima aproximação com a Terra
- Contribuição de missões espaciais dedicadas a Júpiter
- Monitoramento em tempo real: Projeto Telescópio Virtual
- Alerta de mudanças de cor e aceleração
- Expectativa científica para a saída do Sistema Solar
- Por que acompanhar o fenômeno?
Um visitante interestelar sob escrutínio global
O cometa 3I/ATLAS, apenas o terceiro objeto proveniente de fora do Sistema Solar já identificado, segue em lenta travessia pelo espaço próximo da Terra. Desde a detecção inicial em julho, astrônomos de diversos países monitoram cada variação de brilho e trajetória do corpo celeste, que alcançará sua menor distância ao nosso planeta em 19 de dezembro. A passagem oferece uma oportunidade rara de investigar de perto a composição, a dinâmica e a origem de um visitante formado em outro ambiente estelar.
Descoberta e reclassificação: de A11pl3Z a 3I/ATLAS
O primeiro registro do objeto ocorreu em julho, quando recebeu o identificador provisório A11pl3Z. No dia seguinte, análises orbitais confirmaram que o corpo não estava gravitacionalmente ligado ao Sol, indicando uma trajetória hiperbólica típica de objetos interestelares. Assim, ele foi renomeado para C/2025 N1 (ATLAS) na designação de cometas e, em seguida, para 3I/ATLAS, o que marca oficialmente o terceiro item na lista de visitantes extrassolares, após 1I/ʻOumuamua e 2I/Borisov.
Idade estimada e importância científica
Estudos preliminares sugerem que o cometa pode ter aproximadamente sete bilhões de anos, valor que supera a idade do próprio Sistema Solar, estimada em 4,6 bilhões de anos. Essa antiguidade relata um cenário de formação em uma era remota da galáxia, tornando o 3I/ATLAS um registro físico de condições químicas anteriores ao nascimento do Sol. Cada amostra espectral capturada agora pode, portanto, fornecer indícios sobre materiais presentes em regiões interestelares há éons.
Composição incomum revelada por observações em infravermelho
Análises espectrais conduzidas pela missão SPHEREx, lançada com a finalidade de mapear o céu em infravermelho, detectaram dióxido de carbono na coma — a nuvem gasosa que envolve o núcleo — com cerca de 350 mil quilômetros de extensão. Além do CO2, medições indicaram a presença de níquel atômico, um elemento raramente encontrado em concentrações tão evidentes em cometas ligados ao Sistema Solar. Essa combinação incomum impulsionou hipóteses, rapidamente refutadas pela maioria dos pesquisadores, de que o objeto poderia ter origem tecnológica. A agência espacial norte-americana descartou a possibilidade, apontando que observações compatíveis emergem de processos naturais de sublimação e condensação em ambientes frios.
Magnitudes, caudas e mudança de atividade
No momento, o 3I/ATLAS apresenta magnitude de 9,5, brilho insuficiente para observação a olho nu. Instrumentos de pequeno e médio porte já permitem registrar seu aspecto, que inclui uma cauda iônica azulada apontada na direção oposta ao Sol e uma anticauda orientada para a estrela. Telescópios em solo mostram que essa cauda iônica hoje se estende por cerca de 0,7 grau, tamanho que corresponde ao dobro do diâmetro aparente da Lua. O crescimento indica aumento de atividade à medida que mais gelo sublimado é empurrado pelo vento solar.
Marcos da trajetória: de Marte ao periélio
Após a descoberta, o cometa cruzou a órbita de Marte em direção ao interior do sistema. No caminho, naves atualmente em torno do planeta vermelho reuniram dados adicionais sobre sua coma e sobre eventuais interações com partículas carregadas. Em 29 de outubro, o objeto alcançou o periélio, seu ponto mais próximo do Sol, registrando incremento de sublimação e mudanças na velocidade de escape do material superficial. Posteriormente, o corpo celeste ressurgiu do brilho solar e pôde voltar a ser acompanhado visualmente.
Ponto de máxima aproximação com a Terra
A menor distância entre o 3I/ATLAS e nosso planeta ocorrerá em 19 de dezembro. Mesmo nesse momento, o brilho previsto permanecerá fraco, necessitando céus escuros e equipamentos ópticos. Condições ideais incluem baixa umidade, poluição luminosa mínima e ausência de nuvens. Observadores que residem em áreas urbanas contam com transmissões em tempo real realizadas por observatórios remotos, que utilizam exposições prolongadas para evidenciar detalhes invisíveis a olho nu.
Contribuição de missões espaciais dedicadas a Júpiter
As sondas Juno e Europa Clipper, financiadas pela agência espacial norte-americana, e a JUICE, da Agência Espacial Europeia, têm agendas principais voltadas ao estudo de Júpiter e de suas luas. No entanto, seus instrumentos também vêm sendo redirecionados, sempre que a geometria orbital permite, para coletar dados do cometa. Essa prática amplia o conjunto de medições no ultravioleta e no infravermelho, complementando o que é obtido por telescópios na Terra.
Monitoramento em tempo real: Projeto Telescópio Virtual
Entre os grupos empenhados em divulgar imagens do 3I/ATLAS está o Projeto Telescópio Virtual, sediado na Itália. A equipe programou uma sessão ao vivo para 17 de novembro, às 01h15 (horário de Brasília), dependente de céu limpo sobre a instalação. Nessas apresentações, fotografias de longa exposição são empilhadas e processadas quase instantaneamente, revelando a coma esverdeada, o núcleo condensado e a cauda iônica em desenvolvimento.
Alerta de mudanças de cor e aceleração
Durante o período em que o corpo esteve ofuscado pelo brilho solar, circularam relatos de variação cromática e de aceleração inesperada. A suposta mudança de cor foi descartada por equipes envolvidas nas observações: resultados indicaram que diferenças de brilho em filtros específicos foram confundidas com mutação real. Já a alteração de velocidade foi explicada por um estudo que relaciona a sublimação assimétrica de voláteis à força exercida sobre o núcleo, produzindo impulso adicional temporário.
Expectativa científica para a saída do Sistema Solar
Depois de passar pela Terra, o 3I/ATLAS retomará trajetória de escape rumo ao espaço interestelar. A partir de janeiro, o objeto deverá enfraquecer gradualmente em luminosidade, tornando-se inviável para telescópios de médio porte. Antes disso, cada observação programada é fundamental para decifrar propriedades físicas como distribuição de partículas na coma, proporção de compostos voláteis e comportamento da cauda iônica. O registro dessas características em diferentes distâncias heliocêntricas oferece um raro conjunto de dados, comparável apenas aos dois casos de visitas anteriores.
Por que acompanhar o fenômeno?
Embora o brilho modesto impeça um espetáculo a olho nu, o caráter interestelar do 3I/ATLAS confere relevância científica e educacional à passagem. Pesquisadores aproveitam o evento para refinar modelos de dinâmica orbital, testar técnicas de espectroscopia em cometas pouco luminosos e treinar algoritmos de detecção automática. Paralelamente, o público pode participar de sessões online, vivenciando em tempo real a observação de um objeto formado em outro ponto da galáxia.
Com a aproximação máxima marcada para 19 de dezembro, o monitoramento seguirá intenso. Cada nova imagem ou curva de luz contribuirá para ampliar o entendimento sobre a diversidade de corpos que vagam entre as estrelas e, possivelmente, para responder a perguntas ainda abertas sobre a origem desse misterioso mensageiro cósmico.

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