Uma equipa internacional analisou quais as sondas em operação que poderão recolher dados do cometa interestelar 3I/ATLAS quando este atingir o periélio em 29 de outubro. A proximidade ao Sol inviabilizará observações a partir da Terra, mas várias missões interplanetárias terão linha de visão privilegiada.
Terceiro visitante interestelar do Sistema Solar
Descoberto a 1 de julho pelo sistema de alerta ATLAS, o 3I/ATLAS é apenas o terceiro corpo proveniente de fora do Sistema Solar detetado, depois de ‘Oumuamua (2017) e Borisov (2019). Modelos dinâmicos sugerem que se terá formado no disco espesso da Via Láctea, região povoada por estrelas antigas, o que colocaria a idade do objeto nos sete mil milhões de anos — mais do que o próprio Sistema Solar. Essa proveniência torna-o um alvo científico de elevado valor por poder preservar material datado de antes da formação da Terra.
Tal como outros cometas, o aquecimento solar deverá criar uma coma e uma cauda ricas em gás e poeira. Esses fenómenos contêm pistas sobre a composição original e, se forem amostrados, poderão confirmar a origem galáctica do visitante.
Periélio oculto à Terra
Durante o periélio, o 3I/ATLAS ficará escondido atrás do Sol na perspetiva terrestre. Instrumentos em órbita baixa ou mesmo telescópios espaciais como o Hubble e o James Webb não terão acesso direto, uma vez que o brilho solar ofusca o campo de observação. Para contornar essa limitação, o estudo liderado por Thomas Marshall Eubanks avaliou a posição de múltiplas sondas em trânsito pelo Sistema Solar.
Psyche e JUICE com as melhores oportunidades
A análise indica que a Psyche, da NASA, e a JUICE, da Agência Espacial Europeia, serão as missões mais bem colocadas. A Psyche segue rumo ao asteroide metálico 16-Psyche e deverá passar a cerca de 45 milhões de quilómetros do cometa. Já a JUICE, que ganhou velocidade extra num sobrevoo de Vénus, estará a aproximadamente 68 milhões de quilómetros, mas contará com um ângulo de observação favorável precisamente quando a visibilidade a partir da Terra for nula.
Além destas duas, sondas em órbita de Marte — Mars Reconnaissance Orbiter, Tianwen-1 e Hope — poderão registar o objeto. A Solar Parker Probe, o observatório SOHO e a futura missão PUNCH, focados no estudo do Sol, também interceptarão o campo de visão do cometa, embora os seus instrumentos não estejam optimizados para alvos tão distantes.
Possibilidade de amostragem de partículas
Se alguma das naves cruzar a cauda do 3I/ATLAS, técnicas de espectrometria de massa poderão identificar elementos voláteis e metais, esclarecendo se o cometa provém de regiões exteriores da galáxia. Os autores referem ainda que material desprendido durante a passagem poderá evoluir para chuvas de meteoros na Terra ou em Marte, caso as órbitas se cruzem nos próximos anos.
Raridade e impacto científico
Objetos interestelares são extremamente raros: apenas três foram registados em mais de quatro décadas de observações modernas. O estudo do 3I/ATLAS oferece, portanto, uma oportunidade única para investigar condições físicas e químicas anteriores à formação do Sistema Solar. Caso se confirmem as estimativas de idade e proveniência, o cometa poderá fornecer dados sobre o chamado “meio-dia cósmico”, período de intensa formação estelar há cerca de sete mil milhões de anos.
Enquanto a frota de sondas se posiciona, o recém-inaugurado Observatório Vera C. Rubin continua a mapear o céu em busca de novos visitantes interestelares, aumentando a probabilidade de futuras deteções. Para já, contudo, todas as atenções concentram-se no periélio de outubro e na capacidade das missões Psyche e JUICE de recolher a maior quantidade possível de dados deste mensageiro distante.