Colonos israelitas ampliam campanha para afastar palestinianos da Cisjordânia
Meir Simcha, líder de um grupo de colonos judeus, assumiu que a zona a sul de Hebron, na Cisjordânia ocupada, vive “um momento de viragem” desde os ataques de 7 de outubro de 2023. Segundo o próprio, grande parte dos agricultores palestinianos que antes utilizavam esses vales “percebeu que não tem futuro aqui” e abandonou as terras.
Cresce a presença de colonos e a legalização de novos postos
Israel ocupa a Cisjordânia desde 1967 e tem vindo a expandir povoamentos judaicos ao longo de seis décadas. Dados das autoridades israelitas e de organizações internacionais indicam que cerca de 700 000 israelitas residem atualmente na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Leste.
Após 7 de outubro, ministros de direita nacional-religiosa, como Itamar Ben Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças e responsável pela administração civil nos territórios), aceleraram medidas para regularizar postos avançados até então considerados ilegais pela própria legislação israelita. O Ministério das Missões Nacionais distribuiu viaturas todo-o-terreno a residentes dessas comunidades, elogiando-os por “agarrar território” nas colinas da Judeia e Samaria.
Em julho, a ministra para os Assentamentos, Orit Strock, classificou o atual período como “um sinal verde” para o movimento colonizador. Esses processos incluem a reclassificação de postos como “assentamentos jovens” e a afetação de verbas públicas para infraestruturas permanentes.
Denúncias de violência e deslocação forçada
O Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos alertou, a 24 de julho, para “intimidação generalizada, violência e desapropriação de terras” que resultam em deslocações forçadas e comprometem a segurança alimentar dos palestinianos. A ONU considera que essa prática configura “um padrão sistémico de violações de direitos humanos”.
Organizações humanitárias relatam quatro ataques de colonos por dia, em média, desde outubro de 2023. Testemunhos recolhidos no terreno descrevem vandalização de olivais, destruição de habitações e bloqueio de acesso a pastagens e fontes de água.
Palestinianos e grupos de defesa de direitos humanos acusam as forças de segurança israelitas de falharem na proteção da população sob ocupação, alegando que militares agora servem em unidades mistas com habitantes de colonatos. Críticos referem que a linha entre civis armados e soldados “tornou-se difusa”, dificultando queixas e investigações.
Justificações de segurança e motivações religiosas
Governo e colonos defendem que a expansão aumenta a segurança de Israel, citando ameaças de grupos armados palestinianos. No entanto, líderes no terreno, como Simcha, também apresentam argumentos religiosos. O ativista declarou que a terra foi “destinada por Deus ao povo judeu” e que os palestinianos “não têm futuro” na região.
Desde 1967, diferentes executivos israelitas apoiaram povoamentos por razões estratégicas; contudo, o atual executivo inclui figuras que associam diretamente a política de colonização a uma visão messiânica. Analistas internacionais observam que esse enquadramento dificulta qualquer compromisso territorial.
Reação internacional e estatuto jurídico
Em parecer consultivo, o Tribunal Internacional de Justiça reiterou que toda a ocupação dos territórios capturados em 1967 viola o direito internacional e que a transferência de população civil para zonas ocupadas contraria a Quarta Convenção de Genebra. Israel rejeita essa interpretação, mantendo que as convenções não se aplicam à Cisjordânia.
Entidades da União Europeia e do Reino Unido impuseram sanções individuais a alguns colonos acusados de violência, entre eles Yinon Levi, filmado a intimidar residentes palestinianos. Levi reconheceu ter disparado o tiro que matou o jornalista palestiniano Odeh Hathaleen a 28 de julho, alegando legítima defesa, e foi libertado após três dias de detenção domiciliar.
Cenários futuros
Com a guerra em Gaza ainda em curso e a mobilização prolongada de reservistas, a atenção mediática ao conflito principal ofusca a evolução na Cisjordânia. Organizações de ex-militares israelitas que contestam a ocupação alertam para dois caminhos possíveis: continuidade de deslocações forçadas ou abertura a negociações que conduzam a dois Estados.
No terreno, o número de famílias palestinianas a abandonar aldeias em zonas sob pressão continua a crescer, enquanto colonos planeiam novas infraestruturas, incluindo piscinas comunitárias junto a nascentes. A tensão permanece elevada e sem calendário para resolução.

Imagem: bbc.com