Estudo australiano propõe transformar cidades em baterias através de veículos elétricos

Grandes centros urbanos podem deixar de ser apenas consumidores de energia e passar a reforçar a rede elétrica, segundo um estudo da Universidade Nacional da Austrália (ANU).

Veículos parados tornam-se recurso energético

O trabalho, publicado na revista Renewable Energy e liderado pelo investigador Dr. Bin Lu, analisou o Território da Capital Australiana (ACT) para avaliar o potencial de “armazenamento flexível” em meio urbano. Os autores destacam que os veículos elétricos permanecem estacionados cerca de 90 % do tempo, condição que pode ser explorada para equilibrar a procura e a oferta de eletricidade.

A modelação indica que cada utilizador consegue transferir, em média, 5 kWh por dia para a rede, valor equivalente a um terço do consumo elétrico diário per capita. Para tal, é necessário programar o carregamento dos automóveis e o funcionamento dos sistemas de aquecimento de água para horários fora de pico.

Picos de procura podem subir 30 % sem gestão inteligente

O estudo alerta que a eletrificação de transportes e aquecimento residencial, sem coordenação, pode elevar a procura de ponta em mais de 30 %. Esse aumento obrigaria a intervenções dispendiosas na infraestrutura elétrica. Como resposta, os investigadores recomendam carregadores inteligentes, tarifários dinâmicos e plataformas digitais capazes de gerir milhares de dispositivos como uma “central virtual”.

Mapeamento de zonas críticas e oportunidades

Com recurso a dados de deslocação, perfis de consumo e cartografia de alta resolução, a equipa identificou áreas urbanas com elevada densidade de emprego onde o potencial de armazenamento é maior. Nestes locais, o carregamento no local de trabalho durante o pico solar poderá aliviar a pressão sobre a rede à noite.

Recomendações para governos e operadores

Para aproveitar este “novo reservatório” de energia, o relatório sugere:

• Incentivar a instalação de carregadores e esquentadores de água inteligentes em edifícios;
• Alargar tarifários que reflitam a oferta e a procura em tempo real;
• Priorizar pontos de carregamento em zonas de elevada atividade económica;
• Desenvolver sistemas capazes de agregar pequenos equipamentos domésticos para atuação coordenada.

Ao integrar carros, casas e dispositivos de aquecimento numa estratégia concertada, os autores defendem que as cidades podem evoluir de consumidoras intensivas para parceiras ativas na transição para uma rede elétrica mais limpa e resiliente.

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Imagem: DC Studio via olhardigital.com.br

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