China impõe taxa provisória de 75,8 % à canola do Canadá e agrava disputa comercial

China anunciou direitos anti-dumping provisórios de 75,8 % sobre a canola proveniente do Canadá, decisão que deve praticamente travar o fluxo deste produto para o mercado chinês e aumentar a tensão entre os dois países.

Taxa entra em vigor esta quinta-feira

O Ministério do Comércio chinês informou que a sobretaxa começa a ser aplicada já esta quinta-feira, dois dias depois do anúncio oficial. A medida resulta de uma investigação anti-dumping iniciada em setembro de 2024, na qual Pequim concluiu que o setor agrícola canadiano, e em particular a indústria da canola, beneficia de subsídios governamentais e condições preferenciais que distorcem preços.

A decisão representa um novo capítulo na disputa iniciada há cerca de um ano, quando Otava impôs tarifas sobre veículos elétricos fabricados na China. Analistas consideram que a taxa provisória de 75,8 % torna economicamente inviável a compra de canola canadiana, obrigando os importadores a pagar um depósito equivalente antes do desembarque.

Nos mercados, os futuros da canola negociados na bolsa ICE para entrega em novembro recuaram cerca de 4 %, atingindo o valor mais baixo dos últimos três meses logo após o anúncio.

Pressão sobre Ottawa e mudança de tom diplomático

A imposição dos direitos contrasta com a postura mais conciliatória demonstrada em junho, quando o primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, e o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, conversaram por telefone e afirmaram não existirem divergências profundas nos interesses de ambos os países. Especialistas em comércio referem que a nova taxa coloca «pressão adicional» sobre o Governo canadiano para resolver os diferendos bilaterais.

A embaixada do Canadá em Pequim escusou-se a comentar a decisão. Até setembro — data prevista para o término formal da investigação — Pequim pode confirmar, alterar ou revogar a taxa, possuindo ainda a hipótese de prolongar o processo por mais seis meses.

Mercado chinês depende da canola canadiana

A China é o maior importador mundial de canola, também conhecida como colza, e obtém quase todo o volume de grão no Canadá. Grande parte do produto é processada para fabrico de rações destinadas ao setor aquícola chinês. Em março, Pequim já tinha aplicado uma tarifa separada sobre a farinha de canola canadiana, colocando em risco esse abastecimento.

Com milhões de toneladas em jogo, encontrar substitutos imediatos pode revelar-se complexo. Analistas sublinham que a Austrália surge como potencial beneficiária: após vários anos afastada do mercado chinês devido a regras fitossanitárias, o país prepara-se para enviar carregamentos-teste ainda este ano. Contudo, mesmo com o regresso australiano, substituir integralmente o volume canadiano é considerado difícil sem uma redução substancial da procura interna na China.

Investigações adicionais a produtos canadianos

Paralelamente ao dossiê da canola, o Ministério do Comércio chinês abriu um inquérito anti-dumping às importações canadianas de amido de ervilha e impôs direitos provisórios sobre a borracha de butilo halogenada proveniente do mesmo país. As novas frentes investigativas ampliam o alcance das tensões comerciais e reforçam o sinal de que Pequim pretende diversificar pressões sobre vários setores da economia canadiana.

Próximos passos

Até à conclusão definitiva do processo, as empresas interessadas em vender canola do Canadá para a China terão de provisionar quase 76 % do valor da carga, um obstáculo que operadores consideram «equivalente a fechar a porta» ao cereal norte-americano. Observadores do setor agrícola recordam que a resolução dependerá das negociações diplomáticas e de eventuais ajustes tarifários que possam ocorrer antes da decisão final.

Se a taxa provisória se mantiver ou se agravar, os produtores canadianos enfrentarão a necessidade de encontrar mercados alternativos, enquanto a China terá de recorrer a novos fornecedores ou reduzir a utilização de canola na alimentação animal. Até lá, o comércio bilateral permanece num impasse, condicionado por tarifas que se tornaram a principal arma de ambas as partes na atual disputa económica.

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