China estuda neutralizar Starlink e acelera megaconstelação rival

Cientistas ligados ao governo e às Forças Armadas da China publicaram dezenas de estudos que descrevem métodos para rastrear, sabotar ou destruir os satélites da Starlink, rede operada pela SpaceX de Elon Musk. A informação foi revelada pela Associated Press, que analisou documentos académicos divulgados entre 2021 e 2024.

Planos para travar a rede Starlink

Os trabalhos académicos analisados enumeram várias abordagens. Entre as propostas constam submarinos furtivos equipados com lasers antissatélite, lançamento de satélites de acompanhamento capazes de libertar materiais corrosivos ou utilizar propulsores iónicos para danificar componentes, além de operações de sabotagem na cadeia de fornecimento da SpaceX.

As investigações sublinham que a integração da Starlink em sistemas militares norte-americanos confere aos Estados Unidos vantagem estratégica nos domínios nuclear, espacial e cibernético. Num artigo de 2023, professores da Universidade Nacional de Tecnologia de Defesa da China alertam que outros países passaram a encarar a constelação como ameaça direta à segurança.

Ainda que a Starlink não ofereça serviço comercial na China, os seus satélites continuam a sobrevoar o território. Simulações realizadas em universidades militares chinesas indicam cobertura ininterrupta sobre áreas consideradas sensíveis, como Pequim e Taiwan, cenário que motiva a procura de contramedidas.

Um dos estudos aponta vulnerabilidades na cadeia de fornecimento da SpaceX: a empresa dependerá de mais de 140 fornecedores diretos e de centenas de parceiros secundários, com alegado grau reduzido de fiscalização em cibersegurança. Investigadores defendem que essa fragilidade poderá ser explorada para introduzir falhas nos equipamentos antes do lançamento.

Da diplomacia às armas de energia dirigida

Além das abordagens mecânicas ou de engenharia, autores chineses sugerem ações diplomáticas e regulatórias contra a operadora norte-americana. A lista inclui o uso de telescópios comerciais para vigilância em tempo real, criação de deepfakes destinados a confundir sistemas de comunicação por satélite e emprego de lasers de alta potência para danificar painéis solares ou sensores.

Os analistas militares chineses argumentam que um ataque direto deveria ocorrer de forma coordenada, recorrendo a «satélites de escolta», capazes de se posicionar junto de unidades Starlink para captar sinais, monitorizar tráfego e, quando ordenado, inutilizar o hardware.

Constelação chinesa ganha ritmo

Paralelamente às pesquisas defensivas e ofensivas, Pequim avança com uma alternativa nacional. Em 2021 foi criada a estatal China SatNet, responsável pela constelação Guowang, planeada para 13 000 satélites com dupla finalidade civil e militar. Até agora, 60 unidades já foram colocadas em órbita.

Também a Qianfan, empresa apoiada pelo governo municipal de Xangai, acelera o projecto de 15 000 satélites. A companhia lançou 90 aparelhos e assinou acordos de cobertura com o Brasil, além de procurar parcerias na Ásia Central, Médio Oriente e África.

Receios além-fronteiras

As preocupações com a dependência de uma rede privada gerida por Elon Musk estendem-se a aliados dos Estados Unidos. Muitos governos receiam confiar infra-estruturas críticas a uma constelação controlada por um empresário cujas posições políticas são consideradas imprevisíveis.

A SpaceX, proprietária da Starlink, tem contratos bilionários com agências civis e militares norte-americanas. O pioneirismo na reutilização de foguetões e na oferta de internet por satélite confere-lhe posição quase monopolista, cenário que levanta questões comerciais e geopolíticas para países que não dispõem de rede própria.

Analistas norte-americanos citados pela agência de notícias admitem que parte das apreensões chinesas poderá estar sobre-dimensionada. Contudo, reconhecem que um sistema global de comunicações privado e potencialmente militarizado introduz novas variáveis de risco, sobretudo em situações de conflito regional ou cyberataque.

Próximos passos

Os estudos chineses concluem que o país deverá prosseguir duas linhas de ação: desenvolver capacidade autóctone de banda larga orbital e manter planos de contingência para neutralizar constelações estrangeiras em caso de ameaça. Com a corrida ao espaço em ritmo acelerado, a disputa por controle de infra-estruturas orbitais tende a intensificar-se nos próximos anos.

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Imagem: Shutterstock via olhardigital.com.br

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