Caso Raíssa de Tremembé: a história real de Vanessa dos Santos Martins, condenada pela morte do enteado

Resumo do caso

Em 2007, a cidade de Penápolis, no interior paulista, registrou um homicídio que chocou a comunidade local: o menino Alan David Andrade Garcia, de apenas cinco anos, morreu após ser agredido pela madrasta, Vanessa dos Santos Martins. Este episódio serve de base para a personagem Raíssa na produção audiovisual ambientada no presídio de Tremembé, local para onde a ré foi transferida depois da condenação. A trajetória de Vanessa inclui a acusação, o julgamento, a pena de 28 anos e oito meses em regime fechado e a posterior guinada religiosa já dentro da unidade prisional.

Quem é Vanessa dos Santos Martins

Vanessa dos Santos Martins ganhou notoriedade ao ser retratada sob o pseudônimo de Raíssa na série que enfoca detentas de Tremembé. Antes do crime, ela mantinha amizade com Suzane von Richthofen, também custodiada no mesmo presídio. A relação entre as duas se intensificou após a transferência de Vanessa, quando ambas passaram a dividir o cotidiano carcerário. A história pessoal de Vanessa saiu do anonimato para compor um recorte de casos menos conhecidos que dividem espaço na chamada “prisão dos famosos”.

O que aconteceu em 2007 em Penápolis

Data e local: o homicídio ocorreu em 2007, em Penápolis, município do interior de São Paulo.

Vítima: Alan David Andrade Garcia, enteado de Vanessa, tinha cinco anos quando morreu.

Agressora: Vanessa dos Santos Martins, então madrasta da criança, agiu dentro da residência da família.

Circunstância central: no dia dos fatos, o pai do garoto, Vanderlei Garcia Alves, deixou a casa para auxiliar o próprio pai. Alan teria chorado porque queria acompanhar o pai, o que desencadeou a sequência de agressões.

Como as agressões foram praticadas

A descrição do processo aponta que Vanessa desferiu socos e pontapés na vítima, além de bater a cabeça da criança contra a parede. Em seguida, obrigou o enteado a tomar um banho gelado em dia de temperatura baixa, agravando o quadro de sofrimento. O segundo filho de Vanessa, ainda bebê, estava presente e testemunhou a violência que culminou na morte do meio-irmão.

Após as agressões, alertada pelo próprio filho de que Alan havia caído, Vanessa levou o enteado ao Pronto Socorro Municipal. A criança, porém, não resistiu. O laudo apontou que a morte resultou do espancamento e de uma anemia profunda gerada pelo rompimento do baço.

Por que o crime ocorreu, segundo as defesas

Durante o processo, a defesa de Vanessa sustentou que ela enfrentava depressão pós-parto após o nascimento do filho mais novo, estado que, segundo os argumentos apresentados, teria contribuído para a reação violenta. Anos depois, já no presídio, Vanderlei Garcia Alves – pai da vítima – atribuiu o comportamento da companheira a uma suposta influência maligna, afirmando que ela estaria “possuída por Satanás” no momento do delito. Esses dois discursos coexistem nos autos e nos depoimentos posteriores, compondo a justificativa apresentada por familiares e pela própria ré.

Etapas judiciais e a pena aplicada

Ao final da instrução processual, o Tribunal determinou 28 anos e oito meses de reclusão em regime fechado. A pena levou Vanessa ao Complexo Penitenciário de Tremembé, conhecido por abrigar detentos envolvidos em casos de grande repercussão midiática. Embora alguns internos recebam ampla atenção pública, o presídio também reúne condenados de menor visibilidade, categoria na qual se insere o caso de Vanessa.

A vida em Tremembé: religião e liderança

Depois da transferência, Vanessa se voltou para a prática religiosa. Fontes do próprio sistema carcerário relatam que ela colaborou para fundar uma igreja dentro do presídio, espaço utilizado para cultos e aconselhamento. Atuando de maneira semelhante a uma pastora, passou a oferecer orientação espiritual às demais internas. Essa postura a aproximou ainda mais de Suzane von Richthofen, que também frequentava as reuniões.

No ambiente prisional, Vanessa adquiriu a imagem de conselheira, mediando conflitos e acolhendo novas detentas interessadas em participar das atividades religiosas. Essa conduta lhe rendeu respeito entre as companheiras de cela e a transformou em personagem de destaque dentro da unidade, aspecto que inspirou roteiristas a incluí-la na produção que retrata o cotidiano de Tremembé.

Reconciliação com Vanderlei Garcia Alves

Um dos desdobramentos mais impactantes do caso ocorreu fora dos tribunais. Após anos de afastamento, Vanderlei Garcia Alves se reaproximou de Vanessa. Ele passou a exercer atividades religiosas, ganhou o título de pastor e decidiu perdoar a autora do homicídio do próprio filho. O casal chegou a formalizar novo casamento, indicando a reconstrução do vínculo conjugal interrompido pelo crime.

Para Vanderlei, a reconciliação baseia-se em convicções espirituais. Segundo declarações divulgadas pela defesa do casal, ele considera que Vanessa foi vítima de influência demoníaca no momento da agressão, tese que, para ele, justifica o perdão e a retomada da vida em comum.

Personagem na ficção e a ponte com a realidade

Na adaptação audiovisual ambientada em Tremembé, Vanessa é apresentada como Raíssa, interpretada pela atriz Débora Fernanda. A escolha do pseudônimo atende a ajustes criativos, mas os roteiros mantêm a espinha dorsal dos acontecimentos: o crime contra o enteado, a pena de quase três décadas, a conversão religiosa e a influência dentro do presídio. O foco da narrativa recai sobre prisioneiros de alta notoriedade, porém a inclusão de Raíssa amplia o escopo e exibe crimes que, embora marcantes, não receberam destaque nacional à época.

Consequências para o sistema penitenciário e para a comunidade local

O episódio de Penápolis reforçou discussões a respeito de violência doméstica e da presença de crianças em contextos de risco. Órgãos de assistência social do município registraram, nos anos seguintes, maior procura por orientações sobre sinais de maus-tratos, movimento atribuído ao impacto gerado pelo homicídio de Alan. Na esfera penitenciária, o caso serviu de exemplo de como condenados com menor visibilidade podem ganhar espaço em produções culturais, ampliando o debate sobre a composição social de presídios como Tremembé.

Pena, tempo de cumprimento e perspectivas legais

Com 28 anos e oito meses de reclusão, Vanessa encontra-se em situação que permite, após o cumprimento dos requisitos temporais e disciplinares previstos em lei, pleitear progressão de regime. As regras internas da unidade exigem bom comportamento e participação em atividades laborais ou educacionais, quesitos que a ré busca atender por meio de sua atuação religiosa. A eventual concessão de benefícios depende de análise individualizada do juízo da execução penal.

Legado do caso para a sociedade

A figura de Raíssa, fundada na história de Vanessa dos Santos Martins, ilustra a complexidade de crimes cometidos por pessoas sem histórico prévio de violência. O processo judicial, a repercussão local e a reconstrução de vida dentro do presídio fornecem material para reflexões sobre saúde mental pós-parto, mecanismos de proteção infantil e práticas de ressocialização no cárcere. O perdão concedido pelo pai da vítima adiciona elemento incomum de reconciliação, que segue despertando interesse jurídico, psicológico e social.