Caso dos cogumelos mortais: tribunal revela suspeitas de que Erin Patterson tentou envenenar o ex-marido

Erin Patterson, já condenada na Austrália pela morte de três familiares através de cogumelos venenosos, volta a estar no centro das atenções depois de o tribunal ter libertado documentação que indica alegadas tentativas de envenenamento do ex-marido, Simon Patterson, entre 2021 e 2022.

Levantada a restrição sobre provas pré-julgamento

As novas informações tornaram-se públicas na sexta-feira, quando o juiz Christopher Beale revogou uma ordem de sigilo que vigorava desde o início do processo. A defesa argumentou que a divulgação poderia comprometer um eventual recurso, mas o magistrado sublinhou que o princípio da justiça aberta prevalece no sistema criminal australiano.

Até então, o material permanecia afastado do escrutínio porque o Ministério Público retirara, antes do julgamento principal, quatro acusações de tentativa de homicídio relativas a Simon Patterson. Assim, o júri nunca analisou estas suspeitas, concentrando-se apenas nos crimes ligados ao almoço de 2023.

Registos de doenças após refeições preparadas por Erin Patterson

No dossiê agora divulgado, Simon Patterson relatou ter começado a registar, numa folha de cálculo, várias indisposições sentidas depois de consumir pratos confecionados pela então esposa. Entre eles figuram penne à bolonhesa, caril de frango e uma sanduíche enrolada, consumidos em casa ou durante acampamentos familiares.

Segundo o testemunho prestado numa audiência prévia em outubro de 2024, um desses episódios deixou-o “perto da morte”. O australiano descreveu febre súbita, náuseas intensas e paralisia temporária, sintomas que culminaram na remoção de parte do intestino. Os médicos não conseguiram determinar a origem exata da intoxicação.

Simon afirma ter partilhado as suspeitas com o pai, Don Patterson, que viria a morrer no almoço de 2023, e com o seu médico. O receio de novo envenenamento levou-o a recusar o convite para a refeição fatal, servida na casa de Erin em Leongatha, estado de Vitória.

Condenação pelos homicídios com cogumelos

O caso ganhou projeção internacional em abril, quando um júri considerou Erin Patterson culpada de três homicídios qualificados e da tentativa de homicídio de Ian Wilkinson. As vítimas mortais — Don Patterson, Gail Patterson e Heather Wilkinson — ingeriram um beef Wellington que, segundo a acusação, continha cogumelos death cap. Ian Wilkinson sobreviveu após longa hospitalização.

Aos 50 anos, Erin Patterson sempre negou ter colocado os fungos deliberadamente, alegando um erro na seleção de cogumelos forrageados. O Ministério Público não apresentou motivação concreta, mas destacou tensões familiares e alegadas frustrações da arguida com os sogros.

No processo inicial, a acusada respondia ainda por cinco tentativas de homicídio: quatro contra o ex-marido e uma contra Ian Wilkinson. Apenas esta última seguiu para julgamento. Erin foi considerada inocente relativamente ao ex-marido nessa fase, mas mantém-se formalmente acusada das quatro tentativas, às quais se declarou não culpada. O tribunal agendou para 25 de agosto uma audiência de dois dias para tratar deste segmento.

Elementos informáticos e contexto familiar

Entre o material que o júri não chegou a ver estão pesquisas efetuadas no computador de Erin sobre outras substâncias tóxicas. A prova foi excluída por questões processuais. A documentação libertada aborda igualmente o ambiente familiar: Erin e Simon haviam-se separado em 2015, mas continuavam a partilhar algumas atividades com os filhos.

Os procuradores sustentam que Erin «aliciou» as vítimas ao almoço de julho de 2023, enquanto a defesa salienta que a arguida gozava de estabilidade financeira, tinha guarda exclusiva dos filhos e planeava ingressar num curso de enfermagem, fatores que, segundo os advogados, reduzem a hipótese de um homicídio premeditado.

Próximos passos judiciais

O juiz Christopher Beale considera improvável que um eventual recurso contrarie o veredicto do júri, embora não exclua essa possibilidade. Até lá, o debate centrar-se-á nas suspeitas relativas a Simon Patterson, que regressam à agenda judicial com a retirada do sigilo.

Se o Ministério Público decidir reativar ou reformular as acusações de tentativa de homicídio, parte das provas agora públicas poderá ser integrada num novo julgamento, sujeita a validação processual. Enquanto isso, Erin Patterson continua detida, aguardando a audiência de agosto que definirá o rumo destas investigações adicionais.

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