Casal percorre quase 400 km na Malásia após vídeo de teleférico criado por IA

Um casal de idosos da Malásia viajou aproximadamente 370 km, de Kuala Lumpur até a cidade de Pengkalan Hulu, para conhecer um suposto passeio de teleférico panorâmico que, na realidade, nunca existiu.

A distância foi percorrida no fim de junho, depois que os dois assistiram a um vídeo que viralizou nas redes sociais e mostrava o Kuak Skyride, atração fabricada por ferramentas de inteligência artificial generativa.

Como o engano começou

O material enganoso, com quase três minutos de duração, exibia cenas detalhadas de um teleférico passando sobre árvores, um riacho e animais pastando.

A gravação incluía uma suposta repórter da “TV Rakyat” apresentando o local e entrevistando turistas que afirmavam ser da Tailândia. O transporte mostrava ainda um trecho próximo à montanha Baling, ponto turístico conhecido da região.

Alguns segundos do vídeo continham indícios de manipulação, como o momento em que as mãos e o corpo de uma mulher se fundem em uma massa disforme após ela realizar uma pirueta.

Mesmo assim, a produção foi considerada real pelos viajantes, que não encontraram comentários alertando para a possibilidade de montagem.

Descoberta no destino

A decepção ocorreu tão logo o casal chegou a Pengkalan Hulu e perguntou a uma funcionária do hotel sobre o Kuak Skyride. A atendente informou que não existia qualquer teleférico na cidade. Incrédulos, os turistas insistiram e mencionaram a presença da repórter no vídeo como prova. A funcionária precisou explicar que a própria jornalista havia sido criada por inteligência artificial.

Diante da revelação, a idosa cogitou acionar a Justiça contra a repórter mostrada nas imagens, mas foi informada de que não seria possível processar uma figura inexistente. Sem alternativa, o casal precisou aceitar que a atração não passava de uma fabricação digital.

Repercussão oficial

Com a circulação do vídeo e a viagem frustrada dos idosos, autoridades locais decidiram se manifestar.

O oficial do distrito de Baling, Yazlan Sunardie Che Yahaya, confirmou publicamente que o teleférico não existe e destacou que a peça enganosa conseguiu entreter muitas pessoas antes de ser desmentida.

O chefe de polícia Ahmad Salimi Md Ali afirmou que, até o momento, não foram registradas queixas formais de fraude nem relatos de prejuízos financeiros relacionados ao episódio. Ainda assim, o policial lembrou que o compartilhamento de conteúdos falsos pode resultar em medidas legais caso provoque transtornos à população ou às autoridades.

Ele recomendou que viajantes e usuários de redes sociais verifiquem informações antes de tomar decisões baseadas em vídeos virais, sobretudo na atual era de produção facilitada por inteligência artificial, em que montagens realistas podem se espalhar rapidamente.

Detalhes técnicos do vídeo falso

Análises de portais regionais indicam que o clipe foi criado inteiramente por IA generativa, tanto na geração dos cenários quanto na composição dos “entrevistados” e da “repórter”. Elementos como o microfone da emissora fictícia, o teleférico suspenso por cabos, os turistas e as paisagens florestais foram produzidos digitalmente.

A parte final, onde aparecem imperfeições corporais, reforça as pistas de manipulação. Esses deslizes são comuns na síntese de imagens em movimento quando as ferramentas não conseguem representar partes do corpo humano com precisão durante ações dinâmicas.

Orientações para evitar fraudes semelhantes

Especialistas em segurança digital sugerem a adoção de práticas básicas de verificação, como conferir a existência física de atrações em sites oficiais de turismo, observar comentários de outros usuários e utilizar mecanismos de busca reversa de imagens.

Também recomendam cautela diante de conteúdos sem referência clara a veículos de comunicação estabelecidos ou a órgãos governamentais.

No caso do Kuak Skyride, o vídeo não apresentava informações de contato oficiais, tampouco era citado por guias turísticos reconhecidos. Ainda assim, o realismo do material e a narrativa bem construída foram suficientes para convencer o casal a realizar a longa viagem.

O episódio evidencia os riscos associados a produções sintéticas que misturam imagem, áudio e apresentação jornalística.

Enquanto autoridades analisam possíveis responsabilizações por difusão de material enganoso, o caso serve de alerta para viajantes e usuários de redes sociais que se baseiam em conteúdos compartilhados sem verificação prévia.

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