Cadeirante vai ao espaço pela primeira vez em voo turístico da Blue Origin

Cadeirante vai ao espaço passou a ser uma realidade neste sábado, 20 de abril, quando o foguete New Shepard, da Blue Origin, realizou o voo suborbital NS-37 às 11h17 (horário de Brasília) e levou seis turistas além da Linha de Kármán, a 100 km de altitude. Entre eles estava a engenheira aeroespacial alemã Michaela “Michi” Benthaus, que se tornou a primeira pessoa usuária de cadeira de rodas a alcançar o espaço.
- O marco histórico: cadeirante vai ao espaço pela primeira vez
- Preparativos que permitiram que a cadeirante vai ao espaço
- Perfil de Michaela Benthaus, a cadeirante que vai ao espaço
- Quem acompanhou a cadeirante vai ao espaço: detalhes da tripulação NS-37
- Etapas do voo que levou a cadeirante vai ao espaço
- Perspectivas após o voo que levou a cadeirante vai ao espaço
O marco histórico: cadeirante vai ao espaço pela primeira vez
O feito representa um ponto de inflexão na breve, porém acelerada, história do turismo espacial. Desde que a Blue Origin iniciou voos comerciais em 2021, mais de 90 pessoas já experimentaram a ausência de peso no New Shepard. Contudo, nenhuma delas dependia de cadeira de rodas até esta 16ª incursão turística. A inclusão de Benthaus demonstra a viabilidade de integrar passageiros com mobilidade reduzida em missões suborbitais sem comprometer segurança ou cronograma.
Preparativos que permitiram que a cadeirante vai ao espaço
A missão, originalmente marcada para quinta-feira, 18 de abril, foi adiada devido a ventos de alta altitude e, posteriormente, a uma verificação técnica de rotina que identificou um ajuste necessário. Dois dias depois, com condições climáticas favoráveis e todos os sistemas validados, a NS-37 decolou do deserto do oeste do Texas. Apenas modificações pontuais foram exigidas para acomodar a passageira. A espaçonave já possuía suporte a acessibilidade, mas recebeu uma prancha de transferência entre a escotilha e o assento, além de um tapete posicionado após o pouso para que Benthaus recuperasse rapidamente a cadeira levada até a plataforma.
O treinamento pré-voo incluiu sessões práticas em que Hans Koenigsmann, também membro da tripulação, apoiou Benthaus na simulação de entrada e saída da cápsula. Um elevador fixo existente na torre de lançamento simplificou o acesso aos sete andares que separam o solo do topo do veículo.
Perfil de Michaela Benthaus, a cadeirante que vai ao espaço
Benthaus, cidadã alemã e funcionária da Agência Espacial Europeia, formou-se em engenharia aeroespacial e mecatrônica. Em 2018, um acidente de mountain bike causou uma lesão na medula espinhal que lhe retirou os movimentos das pernas. Apesar do revés, ela permaneceu ativa no setor espacial. Em 2022, participou de um voo parabólico de gravidade zero e, em 2024, integrou uma missão análoga de 15 dias na Polônia que simulou a rotina de astronautas em ambiente fechado.
Para a NS-37, a engenheira contou com o patrocínio de Koenigsmann. Ela declarou previamente que vê a experiência como uma oportunidade para ampliar as fronteiras da inclusão em atividades de alta tecnologia. Sua presença no voo reforça a mensagem de que a exploração espacial pode, gradualmente, tornar-se acessível a um público mais diverso.
Quem acompanhou a cadeirante vai ao espaço: detalhes da tripulação NS-37
Além de Benthaus, o grupo foi composto por outros cinco passageiros com perfis variados:
Hans Koenigsmann – Engenheiro germano-americano conhecido pelo papel na criação de foguetes reutilizáveis. Após duas décadas na SpaceX, atua como consultor em empresas de tecnologia espacial. Piloto licenciado e pai de duas filhas, patrocinou o assento de Benthaus.
Joey Hyde – Norte-americano, físico com doutorado em Astrofísica e ex-investidor quantitativo. Aposentou-se recentemente para se dedicar à divulgação científica. Mora na Flórida com a esposa e cinco filhos.
Neal Milch – Empreendedor que modernizou a empresa familiar LaundryLux antes de assumir o Conselho de Curadores do Jackson Laboratory, voltado a pesquisas genéticas. Defensor do lema latino “In Omnia Paratus”, vê o voo como extensão de sua busca por conhecimento.
Adônis Pouroulis – Chipriota, engenheiro de mineração com três décadas dedicadas a minerais críticos e energia sustentável. Fundador da Pella Resources, lidera empresas como Rainbow Rare Earths e Chariot Limited.
Jason Stansell – Originário do oeste do Texas, formou-se em ciência da computação e cultiva hobbies ligados à ciência e aventura, como mergulho e aviação. Dedicou o voo ao irmão Kevin, falecido em 2016.
Etapas do voo que levou a cadeirante vai ao espaço
O New Shepard é composto por dois segmentos: um propulsor reutilizável e a cápsula pressurizada para passageiros. Logo após a ignição, o conjunto ganhou altitude e velocidade até que, a aproximadamente três minutos da decolagem, a cápsula se separou do estágio inferior. Sem motores próprios, o compartimento continuou subindo em trajetória balística, cruzando a Linha de Kármán e garantindo cerca de quatro minutos de microgravidade.
Durante esse período, cada passageiro soltou os cintos para flutuar e observar a curvatura da Terra pelos amplos mostradores. Para Benthaus, a sensação de ausência de peso dispensou a cadeira de rodas, permitindo mobilidade similar à dos demais ocupantes. Após o ápice, iniciou-se a descida em queda livre controlada. Três paraquedas principais se abriram nos últimos instantes, reduzindo a velocidade para um pouso vertical suave em área desértica previamente demarcada.
O propulsor, por sua vez, executou reentrada ativa, acionando retropropulsores a fim de aterrissar em posição vertical na plataforma de concreto próxima à torre de lançamento. Todo o ciclo, do lançamento ao pouso da cápsula, durou cerca de 11 minutos.
Perspectivas após o voo que levou a cadeirante vai ao espaço
Com a conclusão da NS-37, a Blue Origin soma 37 lançamentos do veículo New Shepard, sendo 16 dedicados ao turismo espacial. O êxito operacional reforça a proposta da empresa de oferecer voos comerciais de curta duração a um público cada vez mais amplo. A inclusão de uma passageira usuária de cadeira de rodas estabelece novo parâmetro de acessibilidade e sugere que futuras missões poderão acomodar outras necessidades específicas, como já ocorreu anteriormente com turistas idosos e pessoas com deficiência auditiva.
Até o momento, a Blue Origin não divulgou a data do próximo voo, mas confirmou que continuará ajustando seus procedimentos para integrar perfis diversos de passageiros. Com mais de 90 indivíduos já levados ao espaço pelo New Shepard, a expectativa é de que o número cresça ao longo dos lançamentos vindouros, mantendo o ritmo de reutilização dos veículos e a curta cadência entre missões.

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