BuddyPoke: porque o avatar mais popular do Orkut deixou de existir
O BuddyPoke foi, durante vários anos, um dos elementos mais reconhecidos do Orkut. A aplicação permitia criar avatares tridimensionais altamente personalizáveis, adoptar animações e partilhá-las diretamente no perfil da rede social. Entre 2008 e o início da década seguinte, o serviço atraiu dezenas de milhões de utilizadores, mas acabou desativado sem deixar alternativa oficial. Os factos a seguir explicam a ascensão e o desaparecimento deste fenómeno.
Origem e funcionamento
Desenvolvido em 2008 por Dave Westwood e Randall Ho, o BuddyPoke funcionava como aplicação externa baseada na API OpenSocial, um conjunto de ferramentas disponibilizado pela Google para integrações em Flash. A combinação de simplicidade e personalização rápida transformou-o num complemento popular do Orkut, permitindo que cada utilizador criasse um boneco virtual semelhante à sua aparência, escolhesse roupas, acessórios e estados de espírito e publicasse a animação no mural.
A aplicação também oferecia interações entre dois perfis. Dois avatares podiam aparecer lado a lado a dançar, tocar instrumentos ou trocar gestos, recurso frequentemente usado para demonstrar amizade ou interesse amoroso. A facilidade de acesso — bastava abrir o componente dentro do próprio navegador — dispensava instalações adicionais e ajudou a espalhar o serviço.
Popularidade em números
Em 2009, uma análise de mercado contabilizou 34 milhões de utilizadores do BuddyPoke apenas no Orkut, sendo 98 % deles no Brasil. Somando as versões lançadas noutras plataformas, como MySpace e Facebook, o pico de adesão atingiu cerca de 50 milhões de perfis. Nesse mesmo ano, os criadores introduziram itens pagos: animações exclusivas trocadas por créditos virtuais.
Apesar da forte ligação ao Orkut, a aplicação não era propriedade da rede social. Westwood e Ho trabalhavam de forma independente, aproveitando a estrutura aberta da plataforma para distribuir o serviço a um público alargado. Foi essa autonomia que lhes permitiu lançar, mais tarde, versões móveis para Android e iOS, mantendo a experiência quase inalterada nos smartphones.
Instrumentos do declínio
O fim do BuddyPoke resulta de uma combinação de fatores técnicos e estratégicos. Em primeiro lugar, a dependência do Flash tornou-se um entrave. A partir de 2010, navegadores, sistemas operativos e serviços online começaram a abandonar o plugin devido a falhas de segurança e a substituí-lo por padrões como HTML5. Sem atualização para novas tecnologias, o serviço perdeu compatibilidade e visibilidade.
Em segundo lugar, o ambiente que o sustentava foi encerrado. A Google descontinuou o Orkut a 30 de setembro de 2014, o que extinguiu automaticamente a versão mais popular do BuddyPoke e eliminou todos os dados armazenados nos servidores da rede social. Outras plataformas que ainda ofereciam o recurso seguiram a mesma linha ou perderam utilizadores, reduzindo a relevância da aplicação.
Por fim, o mercado de aplicações móveis evoluiu para modelos de negócio assentes em redes sociais mais recentes, e o BuddyPoke não acompanhou a mudança. As apps oficiais deixaram de estar disponíveis na App Store e na Google Play Store, sem comunicação de novos planos ou de um sucessor.
Estado atual e preservação
Sem suporte oficial, o BuddyPoke permanece apenas em ficheiros SWF ou APK partilhados informalmente na internet. Esses pacotes podem ser executados em emuladores de Flash ou instalados manualmente em equipamentos Android, mas a experiência é limitada, sujeita a falhas e expõe o utilizador a riscos de segurança. Não existe um servidor central para sincronizar perfis ou recuperar conteúdos criados na época do Orkut.
A história da aplicação ilustra o impacto que a dependência de tecnologias proprietárias e de plataformas de terceiros pode ter na sobrevivência de um produto digital. Mesmo depois de alcançar dezenas de milhões de utilizadores, o BuddyPoke foi incapaz de resistir à rápida evolução técnica e ao encerramento da rede que lhe deu projeção.
Imagem: tecmundo.com.br
