SERA abre seleção digital para levar novo brasileiro ao espaço em missão da Blue Origin

Um assento já está reservado para o Brasil em um futuro voo suborbital da Blue Origin, e qualquer maior de idade pode disputar essa vaga por meio de um aplicativo no Telegram. A oportunidade é oferecida pela SERA, organização que sucedeu a antiga Crypto Space Agency (CSA) e que pretende selecionar seis participantes — um deles brasileiro — para embarcar na cápsula New Shepard em 8 de outubro de 2025. O processo abandona o modelo de sorteio utilizado em 2022 e adota um sistema gamificado de engajamento digital, no qual histórias pessoais, interação em redes sociais e votação comunitária definem quem decolará rumo à fronteira do espaço.

Origem da iniciativa e histórico de voos com brasileiros

Em junho de 2022 um marco foi alcançado quando Victor Hespanha, natural de Minas Gerais, tornou-se o segundo cidadão brasileiro a chegar ao espaço e o primeiro turista espacial do país. Na ocasião, ele garantiu sua passagem por meio de um sorteio promovido pela CSA, que usava criptomoedas e NFTs para custear assentos em voos privados. Em 2024, a CSA foi reestruturada e passou a operar sob o nome SERA, mantendo o objetivo de democratizar a exploração espacial, mas buscando métodos de participação mais amplos que loterias baseadas em ativos digitais.

Mission Control: o centro da nova seleção

O cerne da candidatura é o bot Mission Control, acessado dentro do aplicativo de mensagens Telegram. Após iniciar a interação, o usuário recebe instruções, participa de desafios e acumula a moeda interna chamada SpaceDust. Cada ação vale pontos: completar tarefas, interagir em comunidades e, principalmente, divulgar a própria história nas redes sociais com a hashtag #SeraSpace. O volume de SpaceDust determina a colocação no ranking geral e, consequentemente, a visibilidade do candidato perante os demais usuários da plataforma.

Fases do processo seletivo

A caminhada até o assento orbital está dividida em etapas claramente definidas:

Fase 1 – Engajamento inicial: aberta e sem data de encerramento anunciada, esta etapa convida qualquer adulto a narrar por que deseja viajar ao espaço. O engajamento público — curtidas, compartilhamentos e menções — é convertido automaticamente em pontos dentro do aplicativo, elevando o candidato no placar.

Fase 2 – Habilitação para voto: quando a Fase 1 estiver próxima do fim, os participantes receberão um aviso com duas semanas de antecedência. Quem alcançar um emblema específico passa a ser apto a receber votos formais da comunidade global. Nessa fase, o ranking passa a refletir não apenas pontos, mas também escolhas diretas dos usuários.

Fase 3 – Votação em blockchain: a seleção final ocorrerá na TON (The Open Network), cadeia de blocos escolhida pela SERA para registrar cada voto de forma pública e imutável. O recurso é apresentado pela organização como uma ferramenta que garante transparência e amplia a legitimidade do resultado.

Critérios essenciais e ausência de barreiras técnicas

O único requisito objetivo informado é a maioridade legal. Não há menção a formações acadêmicas, exames de saúde ou aptidões específicas nesta fase inicial. Segundo a SERA, a proposta é mensurar liderança natural e capacidade de mobilizar apoio popular, transformando engajamento em capital simbólico que, por sua vez, se converte em chance de decolagem.

Distribuição de assentos e prioridade brasileira

A cápsula New Shepard, utilizada pela Blue Origin para voos suborbitais, possui espaço para seis tripulantes. A SERA reservou todos os assentos e definiu a seguinte distribuição:

• Brasil: uma vaga fixa já garantida;
• Nigéria, Índia, Indonésia e Tailândia: um assento para cada país;
• Assento extra: destinado a concorrentes de nações que não aparecem no grupo principal.

Com esse arranjo, o Brasil tem assegurada a participação na missão, tornando o processo especialmente relevante para participantes brasileiros que desejam repetir o feito de 2022.

Financiamento da empreitada

Enviar civis ao espaço continua sendo um empreendimento oneroso. De acordo com representantes da SERA, os custos são cobertos por investidores interessados em retornos futuros, associados principalmente à visibilidade do projeto. A empresa também revelou negociações com emissoras de televisão de vários países para transformar as fases finais da seleção em reality shows de competição, moldados segundo formatos consolidados no mercado. Esses programas, além de atrair patrocinadores, ampliam o alcance da iniciativa e geram receita adicional que pode sustentar novos voos. No Brasil, por ora, não há definição acerca de versão televisiva, mas o formato permanece em análise.

Cronograma e interação com a Blue Origin

A data de 8 de outubro de 2025 foi estabelecida como alvo para o lançamento que partirá do oeste do Texas. Contudo, a SERA destaca que o planejamento permanece sujeito a ajustes e depende de reuniões frequentes com a equipe de integração de astronautas da Blue Origin. O cronograma detalhado das fases de seleção será retroplanejado a partir da data de decolagem, garantindo janelas suficientes para treinamento, exames médicos e procedimentos de segurança que antecedem qualquer voo humano.

Impacto do modelo gamificado

O ranking dinâmico, visível a todos os inscritos, cumpre dupla função: estimula a participação contínua e cria narrativas virais capazes de ampliar o público da plataforma. Mesmo candidatos que ingressam tardiamente podem, em tese, subir rapidamente se conseguirem grande repercussão nas redes sociais. A estratégia aproxima a rotina de seleção de mecanismos típicos de aplicativos de entretenimento, convertendo engajamento em métricas tangíveis. Para quem observa do lado de fora, a presença de contas com milhões de SpaceDust pode parecer intimidadora; ainda assim, a SERA enfatiza que nenhuma posição é definitiva até o encerramento oficial da fase corrente.

Cenário competitivo do turismo espacial

A colaboração entre SERA e Blue Origin ocorre em um momento de crescente disputa no segmento de voos privados. A SpaceX, comandada por Elon Musk, oferece jornadas orbitais de maior duração, enquanto a Virgin Galactic, de Richard Branson, realiza experiências suborbitais similares às da Blue Origin. A diversificação de modelos — loteria, leilão de NFTs, engajamento comunitário e patrocínios corporativos — demonstra como diferentes atores buscam equilibrar acessibilidade e sustentabilidade financeira para expandir o mercado.

Próximos passos para interessados

Para concorrer à vaga brasileira, o procedimento inicial consiste em acessar o bot Mission Control no Telegram, selecionar a opção Getting Started e concluir o cadastro. A partir desse momento, o participante já pode completar missões, interagir com a comunidade e publicar conteúdo marcado com #SeraSpace. A SERA promete avisar todos os inscritos com duas semanas de antecedência antes de qualquer mudança de fase, reforçando a importância de monitorar as notificações do aplicativo.

Com o assento nacional garantido e um processo baseado em visibilidade pública, a corrida brasileira ao espaço entra novamente em aberto, desta vez guiada por pontos, votos e relatos pessoais compartilhados on-line.