Um lote de sementes de morango brasileiro embarcou na mais recente missão tripulada da NASA, com destino à Estação Espacial Internacional (EEI), para avaliar a viabilidade de produzir alimentos em ambientes extremos.
Experiência integra missão Crew-11
A cápsula Dragon, lançada na sexta-feira, 1 de março, pelo foguetão Falcon 9, transportou quatro astronautas e vários materiais científicos até à EEI. Entre eles seguiu um tubo de oito centímetros de altura e 1,2 centímetros de diâmetro contendo sementes de morango, duas espécies de orquídea (Epidendrum nocturnum e Dendrophylax porrectum) e grama Paspalum notatum.
A carga foi organizada pela norte-americana Jaguar Space, que convidou a Rede Space Farming Brazil a participar sem custos adicionais. Esta rede resulta de uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Agência Espacial Brasileira (AEB) dedicada a investigar métodos de agricultura em condições adversas, incluindo a microgravidade.
Inicialmente, os investigadores tinham previsto enviar grão-de-bico e mudas de batata-doce. No entanto, o espaço reduzido do contentor obrigou a uma revisão do plano. A Universidade da Florida, que mantém um acordo de cooperação com a Embrapa, disponibilizou rapidamente sementes do seu banco genético, garantindo o cumprimento do calendário da missão.
Projecto World Seeds reúne 11 países
As sementes brasileiras integram a colecção World Seeds, que reúne espécimes de 11 países e de todos os continentes. O conjunto permanecerá cerca de uma semana na Estação Espacial Internacional antes de regressar à Terra a bordo da Crew-10.
Durante a estadia, o material vegetal ficará exposto a radiação, ausência de peso e variações térmicas típicas do ambiente orbital. Estas condições podem induzir mutações genéticas que, segundo a coordenadora da Rede Space Farming, Alessandra Fávero, «têm potencial para melhorar a produtividade e a resistência das plantas cultivadas em solo terrestre».
Quando regressarem, as sementes serão analisadas em laboratórios do Brasil. Os cientistas pretendem identificar alterações morfológicas, avaliar taxas de germinação e comparar o desempenho com amostras que permaneceram na Terra.
Impacto para a agricultura nacional
O Brasil depende actualmente de mudas de morango importadas, fator que encarece e limita a expansão da cultura no país. Caso as mutações geradas em órbita resultem em variedades mais robustas, a produção interna poderá ganhar competitividade e reduzir a dependência externa.
Além do impacto económico, o estudo contribui para desenvolver protocolos de cultivo em ambientes fechados e de recursos limitados, cenário relevante para futuras missões de longa duração à Lua ou a Marte.
Lançamento após adiamento por condições meteorológicas
A Crew-11 estava inicialmente programada para descolar na quinta-feira, 29 de fevereiro, mas ventos fortes sobre a plataforma de Cape Canaveral, na Florida, obrigaram ao adiamento. O lançamento ocorreu na sexta-feira, às 12h43 de Brasília (16h43 em Lisboa), e a acoplagem à EEI está prevista para o sábado seguinte.
Com a chegada da cápsula, a estação espacial passa a albergar quatro novos tripulantes e mais de duas toneladas de equipamentos e experiências científicas, reforçando o papel do laboratório orbital como plataforma de investigação conjunta entre agências espaciais, universidades e iniciativa privada.
Próximos passos
Após o retorno das amostras, os investigadores da Embrapa e parceiros irão comparar o genoma das sementes expostas à microgravidade com o das sementes-controlo mantidas na Terra. O processo deve prolongar-se por vários meses, incluindo a germinação em estufas, avaliação de parâmetros agronómicos e testes de resistência a pragas.
Se forem identificadas características vantajosas, a Rede Space Farming tenciona avançar para ensaios de campo e, num horizonte mais alargado, disponibilizar novas cultivares ao sector agrícola brasileiro.
Enquanto isso, a experiência fornece dados valiosos sobre como as plantas respondem a condições de microgravidade, informação crucial para garantir a produção de alimentos em futuras bases lunares ou marcianas.

Imagem: SpaceX via olhardigital.com.br