Bloqueio do GPS no Brasil por parte dos EUA seria tecnicamente possível, mas pouco provável

Rumores de que os Estados Unidos possam cortar o acesso brasileiro ao Global Positioning System (GPS) ganharam força após a revogação dos vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal na semana passada.

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmam que o eventual bloqueio constaria de um pacote de novas sanções defendido pelo ex-mandatário norte-americano Donald Trump caso ele retorne à Casa Branca em 2025.

A hipótese tomou as redes sociais em 19 de julho de 2025, gerando questionamentos sobre a viabilidade técnica e o alcance de um “desligamento” do serviço no território nacional.

Criado pelo Departamento de Defesa dos EUA, o GPS opera com 31 satélites distribuídos por seis planos orbitais, garantindo que ao menos quatro estejam visíveis em qualquer ponto do planeta.

Cada satélite envia sinais de rádio baseados em relógios atômicos; receptores calculam a diferença entre emissão e recepção e triangulam a posição com precisão de poucos metros.

O público mundial utiliza o Standard Positioning Service, gratuito, enquanto forças armadas norte-americanas dispõem do sinal criptografado Precise Positioning Service.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC, Washington poderia, em tese, restringir o sinal civil em uma área específica, mas precisaria alterar a forma de transmissão, o que afetaria países vizinhos e até partes dos próprios EUA.

Para o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude, seria como tentar bloquear um canal aberto sem um sistema prévio de codificação, tarefa considerada inviável no curto prazo.

Interferências locais, entretanto, podem ser produzidas por equipamentos de jamming, que emitem ondas na mesma frequência e anulam o sinal original em círculos de alcance limitado.

O jamming já foi utilizado pela Rússia na guerra da Ucrânia para reduzir a eficácia de drones e mísseis guiados, além de ter provocado interrupções que afetaram milhares de voos civis em 2024.

Existe ainda o spoofing, técnica que envia sinais falsos e engana receptores, desviando rotas sem desligar a constelação.

Embora mais simples que um corte global, jamming ou spoofing deliberados contra outro país podem ser classificados como atos de sabotagem ou agressão internacional.

Se o GPS fosse realmente suprimido no Brasil, aviação, navegação marítima, telecomunicações, logística, agricultura de precisão e o setor financeiro sentiriam o impacto imediato.

Aplicativos de mobilidade e dispositivos veiculares também seriam afetados, mas provavelmente não ficariam inoperantes graças ao uso crescente de sistemas alternativos.

Desde a última década, smartphones, antenas aeronáuticas e terminais náuticos incluem receptores compatíveis com múltiplas constelações, reduzindo a dependência exclusiva do sinal norte-americano.

As alternativas incluem o GLONASS, da Rússia; o Galileo, da União Europeia; o BeiDou, da China, que opera 46 satélites; além de NavIC, da Índia, e QZSS, do Japão.

Com esses sistemas, a maioria dos dispositivos modernos continuaria obtendo coordenadas, ainda que possa ocorrer ligeira perda de precisão ou maior consumo de energia até o ajuste automático.

Companhias aéreas, marítimas e provedores de infraestrutura já mantêm redundâncias adicionais, como sistemas inerciais, rádio-faróis terrestres e correção diferencial, que mitigam falhas temporárias de posicionamento.

Analistas destacam que restringir amplamente o GPS causaria prejuízos econômicos aos próprios Estados Unidos, pois grande parte das transações globais depende da temporização fornecida pelos satélites.

Por enquanto, o possível bloqueio permanece no campo da especulação política; do ponto de vista técnico, comercial e diplomático, a interrupção integral do GPS para o Brasil seria complexa, custosa e pouco vantajosa para Washington.

Fonte: TecMundo

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