Bastidores de Frankenstein: 10 horas de maquiagem e zero CGI na visão de Guillermo del Toro

Bastidores de Frankenstein: 10 horas de maquiagem e zero CGI na visão de Guillermo del Toro

Frankenstein chegou ao catálogo da Netflix levando para a tela o desejo antigo de Guillermo del Toro de reinterpretar o clássico escrito por Mary Shelley. A produção se destaca por dispensar totalmente os efeitos de computação gráfica e apoiar-se exclusivamente em recursos práticos. Esse compromisso com a materialidade implicou um desafio diário para o elenco e a equipe de bastidores, especialmente para Jacob Elordi, que passou mais de dez horas ininterruptas em cada sessão de transformação para se tornar a criatura.

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O desafio de adaptar Mary Shelley com fidelidade visual

A decisão de recriar o monstro apenas com maquiagem partiu do próprio diretor, que buscou nas páginas originais do romance as indicações estéticas do personagem. Mary Shelley descreve um ser de veias salientes, cicatrizes evidentes e coloração desigual, resultado do uso de partes de cadáveres. Ao abandonar o padrão popularizado por outras adaptações — costuras retas e parafusos metálicos —, del Toro pretendia aproximar o visual do texto de 1818 e, ao mesmo tempo, reforçar a fragilidade emocional do ser reanimado.

Para o cineasta, a aparência deveria transmitir a condição híbrida da criatura: composta por fragmentos humanos, mas buscando identidade própria. Essa diretriz norteou todos os demais aspectos de pré-produção, incluindo escolha de materiais, paleta de cores e iluminação. O objetivo era evitar que a maquiagem parecesse uma camada superficial e, sim, integrá-la ao trabalho do ator, garantindo expressão e nuances dramáticas.

Efeitos práticos como escolha artística e técnica

Em um cenário cinematográfico dominado por telas verdes e complementos digitais, a Netflix optou por atender plenamente à visão de del Toro. A decisão refletia, ao mesmo tempo, uma postura estética e uma estratégia narrativa. Ao privilegiar próteses reais, a equipe almejava criar uma interação mais tangível entre a criatura e o ambiente de cena, algo que, segundo o diretor, seria difícil de alcançar exclusivamente em computação gráfica.

Sem recorrer a pós-produção para corrigir detalhes, cada imperfeição precisou ser resolvida no set. Dessa forma, texturas, tonalidades da pele e reflexos de luz foram ajustados manualmente, assegurando acabamento consistente. O processo demandou planejamento rigoroso nos cronogramas de filmagem, já que o tempo de aplicação da maquiagem precisava ser contabilizado como parte integral das diárias.

A rotina de Jacob Elordi na cadeira de maquiagem

O envolvimento do ator Jacob Elordi extrapolou a atuação diante das câmeras. Em cerca de vinte ocasiões, ele se submeteu a um procedimento que consumia mais de dez horas contínuas de trabalho da equipe de caracterização. Somando todas as sessões, foram superadas duzentas horas em que seu corpo foi progressivamente coberto por camadas de silicone, pigmentos, peças protéticas e colas especiais.

A transformação iniciava-se ainda de madrugada, com a fixação de próteses faciais projetadas para alongar o crânio e realçar as veias aparentes. Em seguida, aplicavam-se extensões corporais destinadas a alterar proporções do tronco, braços e ombros. Cada segmento simulava a origem distinta dos tecidos — ideia fundamental para transmitir que o ser foi composto em um campo de batalha, conforme a narrativa.

Durante todo o processo, atenção redobrada era dedicada à região dos olhos. O desafio consistia em preservar a capacidade expressiva de Elordi, evitando que o excesso de material comprometesse sutilezas de olhar ou microexpressões. O ator, segundo a equipe, utilizava o longo período na cadeira como parte de sua preparação psicológica, explorando a tensão e o desconforto físico como ferramentas para compreender o isolamento da personagem.

A contribuição do artista de efeitos especiais Mike Hill

Responsável pelo design final da criatura, Mike Hill é colaborador frequente de Guillermo del Toro desde o filme A Forma da Água, de 2017. No novo Frankenstein, Hill alinhou seus conhecimentos anatômicos aos estímulos literários do projeto. O ponto de partida foi um mapeamento detalhado do corpo humano, revisitando camadas musculares, distribuição venosa e marcas de cicatrização para compor um conjunto convincente de superfícies cutâneas.

A escolha de Hill também esteve associada à experiência do artista com esculturas hiper-realistas. Ele conduziu testes de cor para cada fragmento corporal, simulando variações provocadas por exposição a diferentes ambientes antes de serem coletados pelo Doutor Frankenstein. Essa heterogeneidade cromática reforçou o caráter macabro do experimento e afastou a criatura de um tom artificialmente uniforme.

Coerência histórica do século XVIII em cada detalhe

Embora o monstro seja o elemento central, toda a ambientação ao redor precisou dialogar com o período do Iluminismo tardio. Isso incluiu estudos sobre padrões de crescimento de pelos faciais, tecidos empregados em roupas e utensílios de laboratório plausíveis para a época. Ao integrar esses componentes, a equipe procurou eliminar anacronismos que desviassem a atenção do espectador.

As vestimentas da criatura, por exemplo, receberam texturas opacas, compatíveis com materiais disponíveis no século XVIII. Também foram levados em conta cortes mais amplos, adequados às proporções deslocadas do corpo reconstituído. O resultado dá coesão ao quadro geral sem recorrer a truques digitais para esconder costuras ou criar movimento improvisado em pós-produção.

Pesquisa anatômica e construção de próteses

A experiência acumulada de Mike Hill com arte figurativa foi ampliada para atender às necessidades específicas da produção. O artista relatou que passou anos observando não apenas a estética externa do corpo humano, mas também seu funcionamento interno. Para Frankenstein, esse conhecimento foi vital em dois aspectos decisivos: distribuição de veias superficiais e representação de cicatrizes que indicassem diferentes estágios de cicatrização.

Cada prótese foi moldada a partir de lifecasts de Elordi, garantindo encaixe perfeito e mobilidade mínima para não restringir movimentos. Após a aplicação, múltiplas camadas de tinta foram salpicadas em tonalidades diversificadas, simulando hematomas antigos ou pele pálida decorrente da morte dos tecidos originais. O resultado alcança a meta de transmitir simultaneamente repulsa e empatia, sem recorrer a filtros ou modelagens 3D.

Impacto de abandonar a computação gráfica

A opção pela maquiagem prática afetou todos os departamentos de produção. A cinematografia precisou prever índices de luz capazes de realçar saliências da pele sem expor bordas de próteses. A direção de arte montou cenários com texturas reais, evitando reflexos que evidenciassem contrastes entre elementos físicos e hipotéticos efeitos digitais.

Do ponto de vista da atuação, Jacob Elordi ganhou a liberdade de interagir com objetos e colegas sem a dependência de marcadores de captura de movimento. Consequentemente, o filme não precisou remover ou complementar expressões faciais na pós-produção, preservando a performance autêntica desde o registro bruto até o corte final. A abordagem também beneficiou o cronograma de pós-produção, que não necessitou destinar recursos a extensas renderizações.

Para o público, o resultado é uma interpretação do monstro com forte presença física em tela. As veias palpáveis, cicatrizes irregulares e disparidade de tonalidades cutâneas reforçam a ideia de um ser costurado com urgência, sem perder sua essência humana. A escolha estética corrobora o tom emotivo que Guillermo del Toro buscou imprimir à obra, evidenciando a dor e o anseio de pertencimento da criatura.

Em síntese, os bastidores de Frankenstein revelam uma combinação rara de paciência, pesquisa e precisão técnica. O esforço acumulado em mais de duzentas horas de maquiagem, aliado à recusa de recorrer ao CGI, sustenta um retrato que honra o texto de Mary Shelley e destaca a importância dos efeitos práticos no cinema contemporâneo.

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