Azerbaijão e Arménia selam acordo de paz histórico na Casa Branca

O Azerbaijão e a Arménia assinaram na Casa Branca um acordo destinado a pôr termo a décadas de hostilidades em torno de Nagorno-Karabakh. O documento foi rubricado pelo presidente azerbaijanês, Ilham Aliyev, e pelo primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan, sob a mediação do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Compromissos assumidos pelas partes

O texto estabelece o fim definitivo das ações militares entre os dois países e prevê a reabertura de rotas de transporte, comércio e ligações diplomáticas. Entre as medidas acordadas, destaca-se a construção de um corredor terrestre que ligará o território principal do Azerbaijão ao exclave de Nakhchivan, atualmente separado por território arménio. A futura via, baptizada Trump Route for International Peace and Prosperity, contará com apoio financeiro e técnico de Washington.

Aliyev classificou a iniciativa como um passo decisivo para “estabelecer a paz no Cáucaso” depois de “muitos anos de guerras, ocupação e derramamento de sangue”. Pashinyan considerou o entendimento um “marco significativo” nas relações bilaterais. Ambos comprometeram-se a manter suspensas, de forma permanente, todas as ações de combate em Nagorno-Karabakh e a cooperar na desminagem da região.

Além do cessar-fogo, os Estados Unidos assinaram acordos bilaterais separados com Bacu e Erevan para expandir a cooperação nos sectores da energia e da tecnologia. Os documentos incluem apoio norte-americano à modernização de infra-estruturas e facilitação de investimentos privados.

Desbloqueio do corredor de Nakhchivan

O corredor entre o Azerbaijão e Nakhchivan tem sido um dos pontos mais sensíveis nas negociações. Bacu exigia passagem ferroviária e rodoviária sem controlo arménio, enquanto Erevan pretendia supervisionar o tráfego. A disputa travou anteriores processos de paz e levou Aliyev a ameaçar o uso da força para garantir a ligação territorial. O novo acordo contempla um mecanismo de gestão conjunta, supervisionado por observadores norte-americanos, para garantir segurança e livre circulação de pessoas e mercadorias.

Reforço da influência dos EUA no Cáucaso

Com este entendimento, Washington reforça a sua posição num cenário tradicionalmente dominado por Moscovo. Durante mais de um século, a Rússia desempenhou o papel de principal mediador no Cáucaso; o último acordo entre Aliyev e Pashinyan, celebrado em 2020, foi negociado directamente pelo Presidente russo, Vladimir Putin. A intervenção da administração Trump agora concretizada deixa o Kremlin praticamente fora do processo, num momento em que os dois líderes caucasianos optaram por uma solução patrocinada pelos Estados Unidos.

Analistas sublinham que o alinhamento com Washington poderá alterar equilibrios energéticos e de segurança na região, sobretudo face aos corredores de oleodutos e gasodutos que atravessam o território azerbaijanês. O Presidente Trump declarou que o pacto “chega depois de uma longa espera” e frisou que “ambas as nações prometeram pôr fim ao conflito para sempre”.

Próximas etapas

O documento determina a criação imediata de comissões mistas, encarregadas de delinear fronteiras, planear a reconstrução de infra-estruturas e organizar o retorno seguro de deslocados internos. Também está prevista a normalização gradual das relações diplomáticas, incluindo a abertura de embaixadas e o restabelecimento de voos comerciais.

De acordo com a Casa Branca, engenheiros norte-americanos iniciarão, já nas próximas semanas, estudos de viabilidade para o corredor de Nakhchivan. O financiamento inicial será repartido entre os Estados Unidos, o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento e fundos soberanos azerbaijaneses.

Contexto do conflito

O litígio por Nagorno-Karabakh, enclave de maioria étnica arménia dentro de fronteiras reconhecidas internacionalmente como azerbaijanas, originou uma guerra intensa entre 1988 e 1994, com dezenas de milhares de mortos e centenas de milhares de deslocados. Desde então, diversos cessar-fogo foram violados, culminando em confrontos de grande escala em 2020. As divergências sobre estatuto político, controlo territorial e corredores de transporte mantiveram a região em tensão permanente.

O acordo agora assinado pretende ultrapassar esses impasses ao combinar garantias de segurança, incentivos económicos e supervisão internacional. Caso as cláusulas sejam implementadas, o Cáucaso meridional poderá assistir à primeira fase de estabilidade duradoura em mais de três décadas.

Para os observadores, o sucesso do processo dependerá do cumprimento rigoroso dos prazos definidos e da colaboração efectiva das três capitais envolvidas. O Presidente Trump adiantou que se reunirá com Vladimir Putin, na próxima semana, no Alasca, para discutir os desenvolvimentos e evitar sobreposições de iniciativas diplomáticas.

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Imagem: bbc.com

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