Astrofísica desmonta teletransporte da Terra mostrado em Quarteto Fantástico

Poucos dias depois da estreia de “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos”, a solução encontrada por Reed Richards para travar Galactus — teletransportar o planeta Terra para outra zona da galáxia — reacendeu o debate sobre os limites da física. A astrofísica Roberta Duarte, investigadora na área da inteligência artificial aplicada ao clima, foi convidada a explicar se a proposta tem algum fundamento científico.

Teletransporte existe, mas apenas no mundo quântico

O conceito de teletransporte não é completamente fictício. Experiências de entrelaçamento quântico permitem transferir o estado de uma partícula para outra, mesmo a grandes distâncias. A China, por exemplo, conseguiu enviar o estado quântico de um fotão para um satélite em órbita, confirmando a viabilidade do fenómeno num ambiente espacial.

Segundo Roberta Duarte, a aplicação prática limita-se a partículas individuais. «A partícula está entrelaçada; há um sinal aqui que é recebido noutro ponto sem recorrer a um meio físico tradicional. Ainda assim, não se move matéria, apenas informação sobre o estado quântico», esclarece a cientista.

Escalar o processo para moléculas, objectos macroscópicos ou, no caso extremo, um planeta inteiro, traria obstáculos intransponíveis. Seria necessário codificar e transmitir a posição e o estado de cada uma das mais de 1050 partículas que compõem a Terra, operação que excede qualquer capacidade de armazenamento, energia e tempo disponíveis no Universo.

Einstein-Rosen: a hipótese dos buracos de minhoca

Outra ideia frequentemente associada ao “teletransporte” é a ponte de Einstein-Rosen, conhecida como buraco de minhoca. A teoria descreve um túnel no tecido do espaço-tempo que ligaria dois pontos distantes, potencialmente permitindo uma viagem praticamente instantânea.

Contudo, a mesma relatividade geral que prevê esses túneis aponta dificuldades quase impossíveis de contornar: necessidade de matéria de densidade negativa para manter a passagem aberta, instabilidade gravitacional extrema e ausência de mecanismos naturais observados no cosmos. «Até o próprio Einstein considerou o cenário meramente hipotético», recorda Duarte.

Ficção ajuda a divulgar ciência, mas exige senso crítico

Apesar das liberdades criativas, a investigadora vê valor nos filmes de super-heróis como ferramenta de divulgação. «Quando o cinema desperta curiosidade, o público procura fontes fiáveis e aprende mais sobre física», afirma. Ainda assim, alerta para a importância de distinguir entretenimento de realidade, pois obras de ficção «podem forçar a barra» e criar expectativas tecnológicas inviáveis.

A especialista nota, contudo, uma evolução positiva em Hollywood: produções recentes recorrem a consultores científicos para reduzir erros factuais, exemplo já visível em obras como “Interestelar” ou “Oppenheimer”.

Conclusão: planeta intacto, sonho adiado

À luz do conhecimento actual, teletransportar a Terra permanece impossivel. A mecânica quântica permite experiências notáveis, mas restritas ao mundo subatómico. Buracos de minhoca continuam no domínio da especulação teórica. Para já, o planeta mantém-se no mesmo lugar — e a batalha contra Galactus fica confinada ao ecrã.

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Imagem: tecmundo.com.br

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