Artes rupestres de 12 mil anos mapeavam rotas no Nefud

Artes rupestres de 12 mil anos mapeavam rotas no Nefud ganharam novo fôlego após arqueólogos identificarem 60 painéis inéditos no deserto de Nefud, no norte da Arábia Saudita. As gravuras, datadas entre 11,4 e 12,8 mil anos, chegam a dois metros de altura e parecem indicar passagens seguras e fontes de água em um dos ambientes mais inóspitos do planeta.
Os achados, descritos na última terça-feira (30) na revista Nature Communications, reforçam a hipótese de que as pinturas rupestres eram mais que expressão artística: funcionavam como marcadores territoriais e memoriais intergeracionais para grupos que dominavam técnicas de perfuração de poços e transporte de água.
Artes rupestres de 12 mil anos mapeavam rotas no Nefud
Coordenada pela arqueóloga Maria Guagnin, do Instituto Max Planck de Geoantropologia, a equipe investigou três maciços rochosos até então inexplorados — Jebel Arnaan, Jebel Mleiha e Jebel Misma. Em paredões que ultrapassam 30 m de altura, pesquisadores localizaram gravuras de cabras, camelos e símbolos geométricos coloridos em verde, amarelo, branco e azul. Alguns painéis estavam entre 34 e 39 m do solo, o que indica escalada e planejamento complexo por parte dos artistas pré-históricos.
Ferramentas e pigmentos sugerem intercâmbio cultural
Além das gravuras, o time catalogou 532 artefatos, incluindo ferramentas de pedra, contas para colares e pigmentos minerais verdes. Embora não se saiba se esses objetos pertenciam à mesma comunidade que produziu as imagens, eles apontam possível conexão com povos do Levante, a mais de 1 000 km dali, ampliando o debate sobre mobilidade humana no final da última era glacial.
Para Ceri Shipton, da University College London, as novas evidências “marcam fontes de água e rotas, possivelmente sinalizando direitos territoriais”. A abordagem interdisciplinar, segundo Michael Petraglia, líder do projeto Green Arabia, preenche uma lacuna crítica no registro arqueológico da Península Arábica entre o Pleistoceno tardio e o Holoceno.
Significado arqueológico e ambiental
Os resultados revelam resiliência e inovação de comunidades que prosperaram em condições áridas, um tema central no debate sobre adaptação climática humana. O estudo pode orientar novas campanhas de prospecção e conservação, especialmente porque muitas gravuras gigantes encontram-se expostas a erosão e ao turismo descontrolado.
Detalhes sobre a metodologia e imagens das gravuras estão disponíveis no site da Nature, revista de referência em ciência global.
Para quem busca compreender como tecnologias ancestrais moldaram rotas comerciais e ocupação em ambientes extremos, a descoberta no Nefud oferece um vislumbre único de criatividade, organização social e domínio do território desértico.
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Imagem: Guagnin 2025
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