Arménia e Azerbaijão firmam acordo de paz e corredor “Trump Route”

Washington recebeu, esta sexta-feira, a assinatura de um acordo de paz entre a Arménia e o Azerbaijão, mediado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O documento encerra quase quatro décadas de confrontos no Sul do Cáucaso e prevê a criação de um corredor de transporte denominado “Trump Route for International Peace and Prosperity”, que ligará o território principal do Azerbaijão ao enclave autónomo de Nakhchivan, atravessando 32 quilómetros de solo arménio.

Acordo encerra décadas de hostilidades

A primeira-ministra arménio Nikol Pashinyan e o presidente azeri Ilham Aliyev participaram na cerimónia na Sala de Jantar de Estado da Casa Branca. É a primeira declaração de paz conjunta desde o fim da Guerra Fria entre as duas ex-repúblicas soviéticas, que disputaram o controlo de Nagorno-Karabakh desde o final da década de 1980. Os confrontos provocaram dezenas de milhares de mortos e sucessivos impasses diplomáticos.

O novo entendimento inclui um pedido formal à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) para dissolver o Grupo de Minsk — composto por Rússia, França e Estados Unidos — considerado agora irrelevante pelas partes signatárias. Trump afirmou sentir-se “muito confiante” na durabilidade do acordo, sublinhando que “muitos tentaram antes, sem sucesso”.

Corredor estratégico e papel dos Estados Unidos

O corredor “Trump Route” foi sugerido pela Arménia como reconhecimento do papel do atual presidente norte-americano nas negociações. A infraestrutura integrará estrada, linha ferroviária, oleoduto, gasoduto e cabos de fibra ótica, garantindo passagem livre entre o Azerbaijão e Nakhchivan sem comprometer a soberania arménia, de acordo com a Casa Branca.

Negociações sobre quem irá desenvolver o projeto começam na próxima semana, havendo já nove consórcios interessados. Paralelamente, Arménia e Azerbaijão assinarão acordos bilaterais com Washington nas áreas da energia, tecnologia e economia, reforçando a presença norte-americana na região num momento em que a influência russa recua após a invasão da Ucrânia, em 2022.

Responsáveis da administração Trump destacam que a iniciativa abre um “reset regional” ao facilitar transportes, reduzir custos logísticos e criar uma via concorrente aos corredores que atualmente passam pela Geórgia ou pelo Irão. A Arménia, historicamente dependente da Rússia, vê no projeto uma oportunidade para diversificar parceiros, enquanto o Azerbaijão garante o acesso direto ao enclave sem mediação externa.

Contexto recente impulsionou entendimento

O conflito ganhou novo fôlego em 2023, quando o Azerbaijão reassumiu controlo total de Nagorno-Karabakh. A rápida vitória militar e a neutralidade de Moscovo naquele episódio agravaram o distanciamento entre Ierevan e o Kremlin e empurraram a Arménia para uma solução apoiada pelo Ocidente. Para Baku, a vitória reforçou a posição negocial e a aposta num corredor sob garantia internacional.

Segundo assessores da Casa Branca, a perspetiva de maior integração económica com os Estados Unidos — e a promessa de investimentos no corredor — foi decisiva para superar o impasse sobre a chamada “Zangezur corridor”, anteriormente travado pela desconfiança de quem administraria o trajeto.

Agenda diplomática de Trump

O entendimento no Cáucaso junta-se a outros processos recentes promovidos por Washington, incluindo o acordo entre República Democrática do Congo e Ruanda e o cessar-fogo entre Índia e Paquistão. Apesar destes avanços, continuam por resolver conflitos como Gaza e Ucrânia. Trump tem assumido publicamente o objetivo de ser reconhecido por contributos para a paz internacional.

Próximos passos

Depois da assinatura, equipas técnicas dos três países vão definir prazos, financiamento e especificações do corredor. A Casa Branca prevê que a construção arranque após a seleção do consórcio vencedor, com fases dedicadas a estradas, ferrovia e infraestruturas energéticas.

Analistas apontam para benefícios imediatos na circulação de mercadorias no Sul do Cáucaso e possível reconfiguração das rotas de exportação de hidrocarbonetos. A estabilidade política na região continuará, contudo, dependente da implementação efetiva das garantias de soberania e da cooperação económica estipuladas no acordo.

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