Arábia Saudita direciona bilhões para data centers e busca 6% da carga global de inteligência artificial

A Arábia Saudita colocou a inteligência artificial (IA) no centro de seu próximo ciclo de desenvolvimento econômico. Aproveitando a receita gerada por décadas de exportação de petróleo, o reino mobiliza recursos estatais e alianças privadas para erguer uma infraestrutura tecnológica capaz de processar, até a próxima década, 6% de toda a carga de trabalho de IA do planeta – participação que hoje não chega a 1%.
- Estratégia comandada pelo príncipe herdeiro
- Metas quantificáveis e prazos definidos
- Construção de megacentros de dados
- Energia barata como diferencial competitivo
- Parcerias com gigantes da tecnologia
- Zonas de “embaixada de dados”
- A importância dos chips fabricados nos Estados Unidos
- Equilíbrio diplomático entre Estados Unidos e China
- Desafios tecnológicos e políticos
- Papel das empresas locais no ecossistema emergente
- Potencial impacto econômico
- Cronograma projetado até 2034
Estratégia comandada pelo príncipe herdeiro
O plano é conduzido pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Sob sua liderança, o país formou a Humain, companhia concebida para centralizar iniciativas ligadas a IA. A nova empresa tem apoio direto do fundo soberano saudita, cujo patrimônio gira em torno de US$ 1 trilhão. Essa estrutura financeira robusta oferece à Humain acesso imediato a capital para aquisição de hardware, construção de data centers e desenvolvimento de produtos baseados em algoritmos de última geração.
Metas quantificáveis e prazos definidos
A Humain trabalha com metas explícitas. A principal delas é responder por 6% do total mundial de processamento vinculado a inteligência artificial em “alguns anos”, segundo informações divulgadas pela própria companhia. O objetivo contrasta com a fatia atual, inferior a 1%, e marca uma ambição de crescimento que exige saltos sucessivos em capacidade elétrica, redes de alta velocidade e disponibilidade de componentes especializados.
Construção de megacentros de dados
Para sustentar o ganho de escala, o reino ergue megacentros de dados em dois litorais: a faixa banhada pelo Mar Vermelho e a margem do Golfo Pérsico. Essas instalações, projetadas para hospedar servidores de última geração, serão oferecidas a empresas de tecnologia sediadas na América, Europa, Ásia e África. O posicionamento geográfico permite atender múltiplas rotas de tráfego digital e reduzir latências para diferentes continentes.
Outra peça relevante é a DataVolt, entidade vinculada ao mesmo ecossistema de investimentos. Ela conduz a construção de um complexo às margens do Mar Vermelho com entrega prevista para 2028. Somadas, as plantas planejadas por Humain e DataVolt devem atingir 6,6 gigawatts de capacidade elétrica até 2034 – volume superior ao gerado por seis usinas nucleares médias.
Energia barata como diferencial competitivo
O custo de energia figura entre os fatores críticos para a operação de grandes data centers. A Arábia Saudita promete oferecer eletricidade até 40% mais barata que a praticada nos Estados Unidos. Essa vantagem, sustentada por reservas de combustíveis fósseis e pela expansão de fontes renováveis locais, configura incentivo direto à migração ou à duplicação de cargas corporativas no território saudita.
Parcerias com gigantes da tecnologia
O avanço da Humain não se limita à infraestrutura física. A companhia firmou um acordo de US$ 5 bilhões com a Amazon, direcionado à implantação de serviços e hardware para IA em solo saudita. Além disso, já existem contratos para aquisição de aceleradores gráficos de Nvidia, AMD e Qualcomm – componentes indispensáveis para treinar modelos extensos de linguagem, visão computacional e análise preditiva.
No campo de produtos, a organização apresentou um chatbot em língua árabe e um notebook com funcionalidades nativas de IA. Esses lançamentos sinalizam a intenção de construir um ecossistema completo que vá do silício às aplicações finais voltadas ao consumidor e ao ambiente corporativo.
Zonas de “embaixada de dados”
Outro atrativo para parceiros estrangeiros é a criação de zonas conhecidas como embaixadas de dados. Nessas áreas, a legislação de dados aplicada é a do país de origem da empresa cliente, e não a lei saudita. Ao isolar juridicamente os servidores, o reino busca reduzir barreiras regulatórias e atrair multinacionais que necessitam de garantias adicionais sobre privacidade e conformidade.
A importância dos chips fabricados nos Estados Unidos
Apesar dos investimentos em solo próprio, a estratégia saudita depende de semicondutores produzidos majoritariamente em território norte-americano. Em maio de 2025, durante visita oficial a Riade, foi autorizado o envio de 18 mil unidades de processadores Nvidia. Contudo, o despacho final dos componentes ainda não foi concluído, em parte porque órgãos de Washington monitoram o relacionamento entre Arábia Saudita e China.
A interdependência torna o cronograma dos projetos sensível a decisões políticas e a possíveis restrições comerciais. Caso a liberação dos chips sofra atrasos prolongados, prazos associados a testes, escalonamento e inauguração de serviços podem ser revistos.
Equilíbrio diplomático entre Estados Unidos e China
Enquanto mantém laços estreitos com empresas norte-americanas, o reino também financia iniciativas de origem chinesa. Um exemplo é o investimento na DeepSeek, desenvolvedora asiática de soluções de IA que utiliza data centers operados pela estatal petrolífera Aramco. A coexistência desses acordos força Riade a equilibrar prioridades de dois polos que travam disputa por supremacia tecnológica.
Desafios tecnológicos e políticos
Além do fornecimento de chips, a Arábia Saudita enfrenta questões de escala técnica. A meta de 6% da carga global implica gerenciar enormes quantidades de dados, dissipar calor gerado por milhares de racks e coordenar manutenção em ambientes de alta densidade energética. Paralelamente, tensões geopolíticas podem afetar cadeias de suprimento, regimes de licenças e definição de padrões de segurança cibernética.
Papel das empresas locais no ecossistema emergente
Humain e DataVolt despontam como núcleos principais, mas o ecossistema esperado inclui fornecedores de energia, construtoras, operadoras de rede e companhias de software. Parte desse arranjo foi possível pela existência de um fundo soberano elevado a patamares trilionários. A disponibilidade de recursos internos reduz dependência de capital estrangeiro, embora a expertise técnica, sobretudo em hardware, continue concentrada fora do país.
Potencial impacto econômico
O redirecionamento de receita petrolífera para IA pode alterar a percepção internacional sobre a economia saudita. A diversificação acena com geração de novos tipos de emprego, retenção de talentos locais e atração de profissionais estrangeiros especializados em ciência de dados, engenharia de software e administração de sistemas de alto desempenho.
Especialistas alertam, porém, que o êxito depende de entregas concretas nos próximos anos: centros operacionais dentro do cronograma, fornecimento regular de semicondutores e conquista de clientes internacionais dispostos a ancorar suas cargas de computação em território saudita.
Cronograma projetado até 2034
Os marcos públicos mais relevantes incluem: abertura de instalações iniciais antes de 2028, entrada em operação do complexo da DataVolt ao final desse mesmo ano e expansão progressiva até alcançar 6,6 gigawatts em 2034. Caso todos os módulos entrem em serviço conforme anunciado, a Arábia Saudita se posicionará entre os maiores polos globais de processamento de IA, ao lado de mercados consolidados como Estados Unidos e partes da Ásia.
Com financiamento praticamente garantido, acordos em andamento com multinacionais de hardware e energia competitiva, o reino avança em uma rota que pode modificar o mapa internacional da infraestrutura de inteligência artificial.
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