A Apple está a desenvolver um novo sistema de pesquisa na web alimentado por inteligência artificial, designado internamente World Knowledge Answers. A solução deverá chegar ao mercado na primavera do hemisfério norte do próximo ano e marcará uma mudança estratégica na forma como os utilizadores do ecossistema acedem à informação.
Motor de respostas integrado na Siri
No lançamento, o serviço será incorporado na assistente de voz da marca. Fontes citadas pela Bloomberg referem que o objectivo é fornecer respostas directas sem redireccionar o utilizador para terceiros, adoptando um modelo semelhante ao ChatGPT ou ao AI Overviews do Google. A Apple estuda ainda a expansão da tecnologia ao navegador Safari e ao Spotlight, o motor de pesquisa integrado no ecrã inicial do iPhone.
O novo recurso recorrerá a large language models (LLM) para gerar respostas em vários formatos, incluindo texto, imagens, vídeo e pontos de interesse locais. Está igualmente previsto um sistema de sumarização automática destinado a acelerar e clarificar a informação apresentada.
Parcerias e escolhas tecnológicas
Para sustentar o projecto, a empresa de Cupertino avaliou distintas opções de LLM. Um acordo recente com a Alphabet permite testar o modelo Gemini do Google, que poderá ser usado sobretudo para tarefas de sumarização. A Apple também considerou soluções da Anthropic (Claude) e desenvolvimentos internos, numa iniciativa denominada Glenwood. Fontes próximas do processo indicam que a proposta financeira do Google foi mais favorável do que a da Anthropic, que exigia mais de 1,5 mil milhões de dólares por ano em licenciamento.
A cooperação com o Google surge poucos dias após um tribunal norte-americano ter validado o contrato que mantém o motor de Mountain View como pesquisa padrão nos dispositivos Apple. Esse entendimento gera perto de 20 mil milhões de dólares anuais para a empresa, mas não impede a fabricante de avançar com uma alternativa própria baseada em IA.
Reformulação da Siri e equipa envolvida
O desenvolvimento da nova Siri, identificado pelos nomes de código Linwood e LLM Siri, visa permitir respostas mais contextuais, suporte a dados pessoais do utilizador e navegação completa no dispositivo apenas com comandos de voz. Craig Federighi, vice-presidente sénior de engenharia de software, lidera a iniciativa, que conta ainda com a participação de John Giannandrea (IA), Eddy Cue (serviços), Mike Rockwell (Vision Pro) e Robby Walker (ex-responsável da Siri).
A ambição de redesenhar a interface da assistente inclui potenciais projectos adicionais, como um agente de saúde baseado em IA previsto para 2026 e funcionalidades conversacionais melhoradas para produtos domésticos. Internamente, o esforço tem sido acompanhado por desafios de retenção de talento: Ruoming Pang, criador da equipa Apple Foundation Models, mudou-se recentemente para a Meta, levando consigo parte dos investigadores; outros especialistas migraram para a OpenAI e a Anthropic.
Calendário e impacto no iOS
Os planos actuais apontam para a integração do motor de respostas no pacote de software identificado como Luck E, correspondente ao iOS 26.4, com distribuição prevista para março. A versão inicial do iOS 26 deverá chegar aos utilizadores ainda este mês, coincidente com o lançamento do iPhone 17.
Desde o seu lançamento em 2011, a Siri tem respondido a perguntas básicas, mas recorre frequentemente ao Google para pesquisas complexas. Dados internos revelados por Eddy Cue indicam que o número de pesquisas no Google efectuadas a partir de dispositivos Apple caiu pela primeira vez em duas décadas, sinalizando a emergência de concorrentes apoiados em IA.
Reacção do mercado
A divulgação dos planos elevou o valor das acções da Apple em 3,8 % na sessão mais recente, fechando a 238,47 dólares – o melhor desempenho diário em quase um mês. A empresa não comentou oficialmente o projecto, tal como o Google, mas a movimentação reforça a intenção de Cupertino de recuperar terreno no domínio da inteligência artificial.
