Anvisa trava vendas de smartwatch Glicowatch e alerta para riscos à saúde
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) interditou a comercialização do Glicowatch, um relógio inteligente que se apresenta como solução para monitorizar níveis de glicose no sangue e auxiliar no controlo da diabetes. A decisão, publicada no Diário Oficial da União, entrou em vigor imediatamente.
Proibição abrange venda, importação e publicidade
A Resolução n.º 2.931, datada de 1 de agosto de 2025, determina a suspensão de todas as atividades ligadas ao dispositivo, incluindo distribuição, importação, propaganda e uso. Segundo o regulador, o smartwatch não dispõe de registo sanitário nem de estudos clínicos que comprovem a precisão dos seus sensores na medição não invasiva da glicemia.
A entidade sublinha que «produtos sem registo não oferecem garantias de qualidade, segurança ou eficácia» e podem comprometer a saúde de utilizadores que dependem de leituras fiáveis para gerir a sua condição. Ainda de acordo com a nota oficial, nenhum dispositivo deste tipo, destinado a medir glicose de forma não invasiva, concluiu o processo de validação exigido para utilização clínica no Brasil.
Anvisa reforça inexistência de provas científicas
A agência esclarece que a tecnologia anunciada pelo Glicowatch permanece em fase de investigação. Até ao momento, não foram apresentados dados robustos, publicados em revistas especializadas ou submetidos a avaliação por pares, que sustentem a performance alegada pelo fabricante. «A medição não invasiva de glicemia por dispositivos wearables é uma área em desenvolvimento sem evidência suficiente de segurança e desempenho», salienta a autarquia.
O posicionamento da Anvisa acompanha linhas internacionais de avaliação sanitária que exigem, antes da comercialização, ensaios laboratoriais, estudos em voluntários e relatórios técnico-científicos que confirmem a fiabilidade do método. Sem essas etapas, qualquer valor exibido no ecrã pode induzir decisões equivocadas sobre a administração de insulina ou outros tratamentos, com potenciais consequências graves.
Empresa responsável e possíveis sanções
O produto é distribuído pela GWF Negócios Digitais Ltda., que agora fica impedida de colocar novas unidades no mercado. A infração a uma determinação da Anvisa configura crime sanitário e pode originar multas, recolha compulsória e processos judiciais. A agência lembra que inspeções poderão ser realizadas para apreender estoque e material promocional.
A resolução menciona ainda a proibição da publicidade do Glicowatch, medida destinada a evitar que consumidores sejam expostos a ofertas enganosas. Qualquer campanha que atribua funções médicas ao smartwatch passa a ser considerada irregular.
Panorama dos medidores não invasivos de glicemia
Apesar de avanços na investigação de sensores ópticos e de micro-ondas para medição de glicose através da pele, até agora nenhum fabricante conseguiu oferecer resultados equivalentes aos dos métodos invasivos, como as tiras reagentes ou os sensores subcutâneos. Órgãos reguladores exigem que a margem de erro seja mínima, dado o impacto directo sobre terapias que envolvem dosagens de insulina.
Empresas de tecnologia mantêm projectos em curso, mas especialistas estimam que vários anos de validação serão necessários até que a medição não invasiva esteja pronta para uso clínico. Enquanto isso, as agências de saúde recomendam a adopção de equipamentos aprovados, amplamente testados e calibrados.
Recomendações aos consumidores
A Anvisa aconselha pessoas com diabetes a desconfiarem de dispositivos sem certificação e a conferirem, no portal da agência, se o produto possui registo válido. Caso exista dúvida sobre a fiabilidade de um medidor, o utilizador deve procurar orientação médica e reportar irregularidades ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária.
Em paralelo, profissionais de saúde reforçam que, até ver, a monitorização precisa de glicose depende de equipamentos invasivos ou minimamente invasivos reconhecidos pelas autoridades. Tecnologias em fase experimental não substituem nem complementam, com segurança equivalente, os métodos tradicionais.

Imagem: tecmundo.com.br