Estudo liga alimentos ultraprocessados a pior qualidade do sono
Consumir alimentos ultraprocessados à noite aumenta o risco de distúrbios do sono, revela investigação recente publicada no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics.
Impacto dos ultraprocessados no ciclo do sono
Os autores do estudo analisaram o padrão de descanso de participantes que incluíam frequentemente produtos ultraprocessados na última refeição do dia. O grupo exposto apresentou maior incidência de dificuldade para adormecer, despertares frequentes e sensação de cansaço ao despertar. A probabilidade de desenvolver insónia crónica foi 33 % superior em comparação com quem seguia uma dieta baseada em alimentos in natura ou minimamente processados.
O efeito negativo destaca-se sobretudo quando o consumo ocorre nas horas que antecedem o deitar. Entre os alimentos associados a piores indicadores de sono figuram bolachas recheadas, refrigerantes, snacks industrializados, refeições congeladas prontas, cereais açucarados e produtos instantâneos.
Mecanismos hormonais e metabólicos
Os ultraprocessados são formulados com farinhas refinadas, gorduras saturadas, açúcares simples, corantes, aromatizantes e conservantes. Esta combinação interfere na produção de melatonina, hormona que regula o ciclo circadiano. A presença de estimulantes, como cafeína e xarope de milho rico em frutose, prolonga o estado de alerta e atrasa o início do sono.
Durante a digestão, a elevada carga de gorduras e açúcares provoca picos de glicemia e resposta inflamatória ligeira. O organismo redireciona energia para processar esses nutrientes, reduzindo a profundidade das fases de descanso. Além disso, aditivos alimentares podem alterar a comunicação entre intestino e cérebro, comprometendo neurotransmissores como a serotonina, igualmente envolvidos na regulação do sono.
Os investigadores referem que os efeitos são cumulativos: quanto mais frequente o consumo noturno, maior a probabilidade de fragmentação do sono e menor o tempo passado em sono profundo.
Consumo ocasional versus hábito regular
A ingestão esporádica de ultraprocessados durante o dia tende a ter impacto limitado. O problema surge quando estes produtos fazem parte da rotina noturna. Segundo os dados recolhidos, a repetição diária pode alterar a arquitetura do sono ao longo de semanas, refletindo-se em menor recuperação física e cognitiva.
A longo prazo, noites mal dormidas associam-se a risco aumentado de obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, criando um ciclo em que uma alimentação pobre em nutrientes prejudica o descanso e o défice de sono conduz a escolhas alimentares menos saudáveis.
Orientações para melhorar o descanso
Especialistas recomendam adotar uma higiene do sono que inclua refeições leves nas três horas anteriores ao deitar. Fruta fresca, cereais integrais e fontes magras de proteína—como iogurte natural ou peito de peru—são opções apontadas como mais adequadas.
Manter hidratação suficiente ao longo do dia, reduzir o consumo de cafeína depois das 15 h e evitar bebidas açucaradas à noite ajudam a estabilizar os níveis de energia. Em casos de dificuldade persistente para dormir, deve procurar-se avaliação médica para despistar outras condições de saúde e receber orientação nutricional personalizada.
A investigação reitera que a qualidade do sono vai além da duração das horas passadas na cama. Escolhas alimentares saudáveis, sobretudo no período noturno, representam uma estratégia simples e eficaz para promover um descanso profundo e restaurador.

Imagem: pvproductions via olhardigital.com.br