Tecnologia desenvolvida pela UEPB leva água potável a mais de 200 famílias do Semiárido Paraibano

A escassez de água, problema histórico do Nordeste, ainda afeta de forma intensa diversas regiões da Paraíba. As longas estiagens comprometem a agricultura, limitam a produção e dificultam o desenvolvimento econômico de comunidades rurais. Porém, uma tecnologia simples e de baixo custo desenvolvida pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) tem mudado esse cenário.
O dessalinizador solar, criado dentro de um projeto de extensão do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA), vem garantindo água potável a mais de 200 famílias em 10 municípios paraibanos, além de comunidades em Pernambuco e Ceará.
Projeto transforma água salobra em potável usando energia solar
A tecnologia foi desenvolvida no projeto “Pesquisa ação participativa e extensão rural”, coordenado pelo professor Francisco José Loureiro Marinho, do Câmpus II da UEPB, em Lagoa Seca. O equipamento foi construído com o apoio de estudantes de Agroecologia e membros da cooperativa COONAP.
Feito com materiais de baixo custo, como vidro, cimento e lonas, o dessalinizador funciona como uma estufa. A água salobra é aquecida pelo sol, evaporada, condensada no vidro e recolhida já livre de sal — um processo que eleva a temperatura interna a cerca de 70°C. O sal retido permanece na lona, que pode ser facilmente limpa pelas famílias que fazem a manutenção.
O custo de produção varia entre R$ 3 mil e R$ 4 mil, incluindo a construção da pequena estrutura de alvenaria onde o equipamento é instalado.
Instalações já alcançam 10 cidades e avançam para outros estados
Segundo o professor Francisco Loureiro, já foram instalados dessalinizadores em diferentes municípios do Semiárido paraibano:
- Remígio (10 unidades)
- São Vicente do Seridó (10)
- Cubati (10)
- Caraúbas (70)
- Monteiro (15)
- Soledade (10)
- Cuité (20)
- Campina Grande (5)
- Queimadas (5)
- Santa Luzia (21)
A tecnologia também foi adotada em Pernambuco (10 unidades) e em Icapuí, no Ceará (1 unidade).
Os valores variam conforme os materiais disponíveis em cada região. Em Icapuí, por exemplo, o custo chegou a R$ 4,5 mil porque a comunidade optou por adquirir todos os itens localmente para acompanhar o processo de construção.
Agricultores são capacitados para produzir e manter os equipamentos
O projeto também investe na formação das comunidades. Agricultores participam de treinamentos para aprender a construir e manter os dessalinizadores utilizando recursos disponíveis no campo.
A capacitação é realizada em parceria com a Associação de Profissionais em Agroecologia (APA), formada por egressos do curso de Agroecologia. O trabalho é coordenado por Wanderley Feitosa Viana, que atua na iniciativa desde 2013.
Ele explica que os equipamentos podem ser feitos com tijolos ou placas pré-moldadas, dependendo da necessidade local. Apesar de algumas etapas exigirem mais cuidado — como a calha e as bandejas —, a construção é considerada acessível. Produzir cinco unidades leva cerca de quatro dias de trabalho.
Para facilitar a reprodução do equipamento, a equipe elaborou uma cartilha com orientações técnicas, lista de materiais e ilustrações detalhadas do processo.
Segundo o professor Loureiro, o dessalinizador representa uma mudança significativa na relação das famílias com o abastecimento hídrico, reduzindo a dependência de caminhões-pipa.
“Quando o agricultor passa a ter acesso contínuo a água de qualidade, ele deixa de ser passivo no processo e se torna produtivo. A tecnologia contribui para autonomia e geração de renda”, afirma.
A água dos poços na região pode chegar a sete gramas de sal por litro, quando o limite para consumo humano é meio grama. Os equipamentos da UEPB conseguem tratar águas entre 1.000 e 10.000 ppm, atendendo à demanda das comunidades rurais.
Origem da ideia e expansão para o Nordeste
O professor explica que o modelo adotado é uma adaptação de um projeto idealizado pelo frade redentorista Irmão Urbano, inicialmente pensado para irrigação de hortaliças. Ao perceber o potencial para potabilização, a equipe da UEPB passou a testar adaptações para a realidade do Semiárido.
Os primeiros equipamentos foram construídos em 2012. O teste em maior escala ocorreu no Assentamento Corredor, em Remígio, com recursos do CNPq. Após tentativas com alumínio e cimento — materiais corroídos pelo sal —, a solução encontrada por um agricultor foi o uso de lona plástica, que se mostrou eficiente.
Em 2018, para ampliar o projeto, estudantes criaram a Associação de Profissionais em Agroecologia (APA), responsável por levar a tecnologia a outras regiões do Nordeste.


