Estudo interno revela que adolescentes insatisfeitos com o corpo recebem três vezes mais conteúdo sobre transtornos alimentares no Instagram

Adolescentes que já demonstram baixa autoestima corporal são expostos a uma quantidade muito maior de publicações associadas a transtornos alimentares no Instagram. Essa é a principal conclusão de uma pesquisa interna conduzida pela Meta entre 2023 e 2024, divulgada em outubro de 2025. O levantamento mapeou, durante três meses, o conteúdo consumido por 1.149 usuários com idades na faixa da adolescência e mediu a frequência com que eles relatavam sensações negativas em relação ao próprio corpo.
- Estrutura do estudo
- Quem foi ouvido e por quê
- Principais resultados quantitativos
- Conteúdos mais recorrentes
- Como os pesquisadores chegaram às métricas
- Limitações declaradas
- Falhas de detecção de conteúdo sensível
- Antecedentes e relação com estudos anteriores
- Resposta corporativa
- Por que a correlação preocupa
- Como o estudo categoriza “potencialmente nocivo”
- Implicações para políticas internas
- Panorama de exposição em números
- Próximos passos indicados pela empresa
- Conclusão factual
Estrutura do estudo
O inquérito foi dividido em duas etapas complementares. Na primeira, os participantes responderam questionários sobre autoimagem e satisfação corporal enquanto utilizavam o Instagram. Na segunda etapa, os pesquisadores extraíram uma amostra representativa dos vídeos, fotos e textos visualizados pelos mesmos perfis ao longo de um trimestre. Com essa amostragem em mãos, a equipe comparou a experiência de quem declarava alto grau de insatisfação e de quem relatava não ter problemas de autoestima.
Quem foi ouvido e por quê
Segundo a Meta, 1.149 adolescentes compuseram o painel de pesquisa. O recorte etário foi escolhido porque se trata do público que, historicamente, apresenta maior engajamento na plataforma e, ao mesmo tempo, se encontra em fase de desenvolvimento emocional. A empresa buscou identificar se havia diferença tangível na curadoria algorítmica entregue a esses perfis, partindo da premissa relatada pelos próprios jovens sobre o quanto se sentiam bem ou mal com o corpo.
Principais resultados quantitativos
O dado que mais chamou atenção dos analistas foi a proporção de exposição: adolescentes que, no questionário inicial, apontaram insatisfação corporal foram impactados por cerca de três vezes mais publicações relacionadas a corpo ou transtornos alimentares do que os colegas sem queixa de autoestima. A empresa sublinhou que o estudo descreve correlação, não causa e efeito, mas, ainda assim, o volume de diferença foi significativo dentro da amostra.
Conteúdos mais recorrentes
A análise qualitativa revelou que os vídeos e imagens vistos pelos jovens continham características similares. Entre os exemplos citados pelos pesquisadores estavam:
• Decotes proeminentes, foco em glúteos e coxas;
• Quadros com comparação de biotipos e julgamento explícito sobre peso ou aparência;
• Material que sugeria hábitos alimentares restritivos ou outras práticas associadas a transtornos alimentares.
Os analistas também classificaram o material como potencialmente nocivo quando envolvia temas adultos, comportamento de risco, crueldade ou sofrimento, categorias que, segundo o relatório, apareciam em frequência maior entre os adolescentes mais insatisfeitos.
Como os pesquisadores chegaram às métricas
Para entender a relação entre sentimento e conteúdo, os autores do estudo estabeleceram indicadores de exposição que consideravam tempo de visualização, curtidas e salvamentos. Cada interação foi etiquetada para medir o envolvimento com publicações ligadas a corpo, dieta ou padrões de beleza. Assim, foi possível comparar a média de interações por usuário em cada grupo de autoestima.
Limitações declaradas
A Meta enfatizou que não se trata de um experimento controlado capaz de provar que a plataforma causa insatisfação, mas de um levantamento observacional. Por esse motivo, o relatório escolheu evitar qualquer afirmação sobre causalidade direta. A empresa ressaltou que o objetivo era compreender o que os adolescentes veem, não determinar por que veem.
Falhas de detecção de conteúdo sensível
Durante o processo, avaliou-se também a eficiência das ferramentas internas que filtram material impróprio. Os pesquisadores descobriram que 98,5% do conteúdo considerado sensível para menores escapou dos mecanismos automáticos de revisão. A equipe classificou esse resultado como esperado, alegando que a companhia tinha iniciado há pouco tempo os testes de um novo algoritmo de filtragem voltado especificamente para temas como transtornos alimentares.
Antecedentes e relação com estudos anteriores
O relatório de 2025 não é o primeiro a apontar correlação entre uso do Instagram e deterioração da saúde mental de jovens. Em 2021, outro documento interno já indicava relação semelhante entre exposição a imagens de corpo idealizado e aumento de sentimentos negativos sobre a própria aparência. A repetição de padrões, segundo o texto recente, reforça a necessidade de monitoramento constante do feed entregue a usuários em idade escolar.
Resposta corporativa
Em comunicado oficial, um porta-voz da Meta afirmou que a pesquisa demonstra compromisso em entender as experiências dos adolescentes e em utilizar os dados para aprimorar a segurança da plataforma. O posicionamento não especificou prazos ou detalhes sobre futuras atualizações, mas reiterou que o Instagram trabalha em ferramentas adicionais de suporte para jovens.
Por que a correlação preocupa
Embora o relatório não afirme causa e efeito, a diferença de exposição de três vezes entre grupos suscita questionamentos sobre a lógica de recomendação de conteúdo. Quando a própria plataforma reconhece que usuários com determinado perfil emocional consomem mais publicações potencialmente prejudiciais, cresce a pressão por transparência nos critérios que priorizam ou limitam tais postagens.
Como o estudo categoriza “potencialmente nocivo”
Os analistas definiram a classificação a partir de diretrizes internas existentes, que incluem:
• Material ligado a transtornos alimentares ou comportamentos extremos de controle de peso;
• Conteúdos com temas adultos não apropriados para menores de idade;
• Representações de crueldade ou sofrimento físico e psicológico;
• Incentivo a comportamentos de risco, como desafios perigosos ou uso de substâncias.
A pesquisa concluiu que jovens que se sentiam pior em relação ao próprio corpo tinham maior probabilidade de esbarrar nesses quatro eixos de conteúdo.
Implicações para políticas internas
A constatação de que os filtros atuais deixam escapar a quase totalidade do conteúdo sensível voltado a adolescentes pode influenciar a preparação de novas camadas de moderação. Os dados coletados entre 2023 e 2024 oferecem base para calibrar algoritmos e revisar recomendações, segundo a própria Meta.
Panorama de exposição em números
• Adolescentes insatisfeitos: três vezes mais conteúdo sobre corpo ou transtornos alimentares.
• Falha de detecção automática: 98,5% do material sensível permaneceu acessível.
• Amostra total: 1.149 usuários examinados em período de três meses.
Próximos passos indicados pela empresa
A Meta informou que os resultados obtidos serão usados como insumo técnico para ajustes na experiência do feed. Os pesquisadores citam o desenvolvimento de algoritmos mais rígidos e a expansão de mecanismos de denúncia como pontos em evolução, mas não divulgaram agenda ou metas específicas.
Conclusão factual
O estudo interno reforça um padrão já observado em levantamentos anteriores: quanto maior a insatisfação corporal relatada por adolescentes, maior a exposição a conteúdo sobre transtornos alimentares no Instagram. Ao mesmo tempo, a pesquisa aponta limitações significativas nos filtros de conteúdo sensível, indicando um estágio preliminar de aprimoramento. Os números apresentados oferecem um retrato detalhado do tipo de material que circula entre jovens usuários e sustentam a continuidade de investigações sobre a relação entre algoritmos de rede social e bem-estar emocional.
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