Tornados no Brasil: panorama histórico, números de vítimas e os desafios do monitoramento

Tornados no Brasil: panorama histórico, números de vítimas e os desafios do monitoramento

Os tornados, embora menos frequentes no Brasil do que em regiões como o centro dos Estados Unidos, provocam episódios de destruição significativa e, em diversos casos, perdas humanas expressivas. O caso mais recente, ocorrido no estado do Paraná, reabriu o debate sobre a gravidade desses fenômenos no país. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), desde 2013 foram contabilizados 87 desastres associados a tornados no território brasileiro. Entre eles, 34 foram oficializados como situação de emergência, acumulando 19 mortos, mais de 1,2 mil feridos, 873 desabrigados e aproximadamente 17 mil desalojados.

Índice

O episódio que devastou Rio Bonito do Iguaçu

O evento mais recente e ao mesmo tempo o mais letal desde o início da série histórica de 2013 ocorreu em uma sexta-feira no Paraná. O tornado, gerado a partir de um ciclone extratropical que atravessou a região Sul, atingiu velocidades de até 250 km/h. Esse valor coloca o fenômeno na categoria três da Escala Fujita Aprimorada, que varia de um a cinco e classifica a intensidade conforme a velocidade do vento.

O impacto direto sobre a cidade de Rio Bonito do Iguaçu foi devastador: cerca de 90 % da área urbana ficou destruída. O saldo humano oficial registrou sete mortes — seis delas no próprio município e uma em Guarapuava — além de 800 feridos. No que diz respeito a deslocamento de população, 205 moradores ficaram desabrigados e 29 mil foram contabilizados como desalojados, isto é, obrigados a deixar temporariamente suas casas.

Como os desastres são registrados no país

Os dados citados provêm de formulários preenchidos pelas defesas civis municipais e consolidados pelo Cemaden. Nesses formulários são descritos prejuízos materiais, como residências destruídas, e humanos, como mortos, feridos, desalojados e desabrigados. Segundo levantamento do centro federal, muitos municípios registram um único formulário mesmo quando vários tipos de ocorrência — chuva intensa, inundação e deslizamento, por exemplo — acontecem de forma simultânea. Esse procedimento eleva a possibilidade de que um tornado seja classificado genericamente como vendaval, dificultando refinamentos estatísticos.

Além da limitação nos cadastros municipais, inexistem, no Brasil, bases de dados dedicadas exclusivamente a tornados. As informações oficiais sobre tais eventos acabam reunidas em bancos voltados a desastres naturais em geral, o que reforça a subnotificação e o cruzamento de categorias diversas de vento, como microexplosões atmosféricas, frentes de rajada e vendavais.

Lista dos tornados mais mortais desde 2013

Dentro da série histórica coberta pela metodologia do Cemaden, oito episódios se destacam pela quantidade de vítimas fatais e de pessoas deslocadas. Abaixo, cada um deles é detalhado individualmente.

Paraná (2024) — 7 mortos

O caso de Rio Bonito do Iguaçu, já descrito, lidera a lista recente: sete óbitos, 800 feridos, 205 desabrigados e 29 mil desalojados.

Xanxerê, Santa Catarina (março de 2015) — 4 mortos

No oeste catarinense, rajadas variando entre 100 km/h e 300 km/h deixaram quatro mortos e 95 feridos. Aproximadamente 2,1 mil moradores precisaram sair de suas casas, seja como desalojados, seja como desabrigados.

Taquarituba, São Paulo (2013) — 2 mortos

O interior paulista enfrentou ventos superiores a 100 km/h. O evento resultou em duas mortes, 64 feridos e cerca de 1,3 mil pessoas que perderam suas residências.

Prudentópolis, Paraná (dezembro de 2018) — 2 mortos

Com rajadas atingindo 100 km/h, o tornado paranaense provocou duas mortes, 87 desalojados e 12 desabrigados.

Evento sem local detalhado — 1 morto

Os registros do Cemaden apontam ainda um episódio com uma morte, um ferido e 528 desalojados, sem que o relatório citado especifique município ou data.

São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul (março de 2017) — 1 morto

O tornado alcançou velocidade de 140 km/h. Houve uma vítima fatal, 370 pessoas ficaram sem moradia e 600 foram desalojadas temporariamente.

Erebango, Rio Grande do Sul (abril de 2014) — 1 morto

Classificado como F2, com ventos de até 252 km/h, provocou uma morte e deixou 26 desabrigados.

Palmitos, Santa Catarina (maio de 2024) — 1 morto

O mais recente entre os casos de menor letalidade na lista deixou um morto e 75 desabrigados, segundo dados oficiais.

Desastres históricos anteriores à série recente

Ainda que os registros sistematizados tenham começado em 2013, há episódios mais antigos de magnitude muito superior. O mais grave deles ocorreu em 1959, na divisa entre Santa Catarina e Paraná. Estimativas apontam aproximadamente 90 mortos e três municípios atingidos: União da Vitória (PR), Palmas (PR) e Canoinhas (SC). À época, inexistia metodologia padronizada de medição de danos, motivo pelo qual parte dos números permanece em estimativa.

Outro marco histórico é o tornado de 1991 que passou pelo interior paulista. Em Itu, as rajadas alcançaram 300 km/h e resultaram em 15 mortes. Esses dados ilustram que, embora raros, fenômenos de altíssima intensidade podem ocorrer em território brasileiro.

Por que prever tornados ainda é um desafio

A previsão de tornados depende de modelos meteorológicos de alta resolução e de sistemas de radar capazes de identificar assinaturas de rotação em nuvens de tempestade. No Brasil, o monitoramento dedicado é incipiente e os alertas costumam ser emitidos com antecedência de minutos a poucas horas. Essa limitação traz consequências diretas para a proteção civil, pois o tempo exíguo dificulta evacuações e ações de emergência coordenadas.

Além das limitações tecnológicas, outro obstáculo é a confusão entre diferentes fenômenos de vento. Microexplosões atmosféricas, vendavais e frentes de rajada podem provocar danos similares aos de um tornado, mas requerem classificações distintas para que estatísticas fiquem acuradas. A ausência de um sistema exclusivo para catalogar tornados, descrita por pesquisadores que analisam os formulários de desastre, reforça a subnotificação e afeta o desenho de políticas públicas voltadas à mitigação.

Impactos sociais recorrentes

Os dados recentes revelam um padrão de vulnerabilidade: grande parte das mortes ocorre em edificações frágeis, e o número de feridos costuma ser alto mesmo em casos de baixa letalidade. Desabrigados, que perdem integralmente a moradia, e desalojados, que deixam o domicílio temporariamente, formam contingentes expressivos. No episódio paranaense de 2024, por exemplo, houve 29 mil pessoas desalojadas, número que supera em muito as sete mortes registradas. Esse quadro reforça que a magnitude social de um tornado não pode ser medida apenas pela contagem de óbitos.

Caminhos para aprimorar o monitoramento

Embora as informações disponibilizadas pelos municípios tenham avançado desde 2013, a lacuna na consolidação de um banco de dados exclusivo para tornados permanece. O fortalecimento das redes de radar, a adesão a sistemas de detecção remota e a padronização dos formulários de ocorrência são apontados por especialistas como medidas necessárias para reduzir o hiato entre o fenômeno e sua documentação. Sem esses instrumentos, episódios extremos continuarão a surgir em relatórios gerais como simples vendavais, mascarando a real incidência de tornados no país.

Até que tais aprimoramentos se concretizem, a estatística disponível demonstra que, embora menos frequentes do que em outras partes do mundo, os tornados brasileiros podem alcançar velocidades superiores a 250 km/h, somar dezenas de milhares de desalojados e, em casos excepcionais, causar centenas de mortes. O histórico de 1959, o episódio paulista de 1991 e o desastre paranaense recente funcionam como lembrete de que a preparação e o monitoramento permanecem questões centrais para a redução de riscos em futuras ocorrências.

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