Sinal de rádio do cometa interestelar 3I/ATLAS confirma processo natural de desgaseificação, afirmam astrônomos

Lead — Astrônomos captaram pela primeira vez um sinal de rádio vindo do cometa interestelar 3I/ATLAS enquanto o objeto passava pela metade de sua rota no Sistema Solar. A emissão, registrada pelo radiotelescópio MeerKAT quando o corpo celeste se aproximava ao máximo do Sol, corresponde a radicais hidroxila formados pela quebra de moléculas de água sob luz solar. O fenômeno valida que o visitante interestelar continua em atividade típica de cometas e não oferece indícios de tecnologia extraterrestre.
- O que foi detectado
- Quem é o 3I/ATLAS
- Quando e onde a captação ocorreu
- Como o sinal é produzido
- Por que a descoberta gera debate
- Rumores de tecnologia alienígena
- Observações ópticas complementares
- Peculiaridades químicas e morfológicas
- Estabilidade orbital e destino
- Significado científico dos objetos interestelares
- Contribuições do sinal de rádio para a pesquisa
- Panorama final dos achados
O que foi detectado
O registro obtido pelo complexo de antenas MeerKAT, instalado na região sul-africana de Karoo, consistiu em um padrão de rádio frequências compatível com a assinatura espectral de hidroxila (OH). Essa substância se forma quando a água que compõe o núcleo e o coma de um cometa sofre fotólise — processo em que a radiação ultravioleta separa o H2O em fragmentos moleculares. A intensidade observada coincidiu com o momento de maior proximidade do 3I/ATLAS em relação ao Sol, em 29 de outubro, quando o aquecimento atinge o pico e acelera a liberação de gás e poeira.
Quem é o 3I/ATLAS
Classificado como o terceiro objeto interestelar já identificado, o 3I/ATLAS foi detectado em julho enquanto avançava rumo ao interior do Sistema Solar a velocidade superior a 210 000 km/h. Modelos de trajetória retroativa sugerem que o corpo provavelmente foi ejetado de um sistema estelar ainda desconhecido, localizado nas regiões periféricas da Via Láctea, há cerca de sete bilhões de anos. Tal datação faria dele o visitante mais antigo já observado pela astronomia moderna, superando os registros dos também interestelares ‘Oumuamua e 2I/Borisov.
Quando e onde a captação ocorreu
A emissão de rádio tornou-se perceptível exatamente no periélio, ponto orbital em que o cometa atinge a menor distância do Sol. Naquela ocasião, as 64 antenas parabólicas do MeerKAT operavam em varredura contínua, permitindo registrar o sinal sem interrupções. O registro é inédito para objetos vindos de fora do Sistema Solar e oferece uma oportunidade rara de estudar a composição volátil de um corpo formado em ambiente estelar distante.
Como o sinal é produzido
A radiação solar incide sobre o núcleo congelado, promovendo aquecimento e sublimação de gelo. Essa desgaseificação projeta jatos de vapor que, ao se dispersarem, formam a coma — nuvem de gás e poeira que envolve o núcleo — e as caudas distintas. A fotólise da água cria radicais hidroxila que, por serem moléculas com momento dipolar, emitem energia em comprimento de onda de rádio específico. A detecção de hidroxila em cometas foi descrita detalhadamente em estudo de 2016 e é considerada marcador confiável de atividade cometária convencional.
Por que a descoberta gera debate
Desde o anúncio da existência do 3I/ATLAS, teorias sobre possível origem artificial ganharam espaço nas redes sociais. O astrofísico Avi Loeb, associado a discussões sobre vida inteligente fora da Terra, chegou a sugerir que o objeto poderia ser uma nave disfarçada. Contudo, a equipe responsável pela análise do MeerKAT afirma que o padrão de emissão coincide perfeitamente com modelos químicos naturais, não apresentando modulação ou repetição que indiquem tecnologia.
Rumores de tecnologia alienígena
A hipótese de Loeb ganhou popularidade após casos anteriores de interpretações alternativas envolvendo ‘Oumuamua. No entanto, no caso do 3I/ATLAS, não existe qualquer elemento que suporte engenharia avançada. O sinal de hidroxila, a taxa de emissão de água e o comportamento dinâmico observados se alinham a cometas convencionais. Ao comentar o resultado em publicação pessoal, o próprio Loeb evitou declarar que o fenômeno comprovaria comunicação inteligente, mantendo o debate no campo hipotético.
Observações ópticas complementares
Imagens obtidas em 8 de novembro a partir de Martinsberg, na Áustria, revelaram que o objeto exibia entre quatro e cinco caudas. O detalhe visual resulta da interação entre diferentes fluxos de partículas e do ângulo de iluminação solar. Dias antes, instrumentos da NASA haviam relatado um “jato” de água comparável a uma mangueira de incêndio, confirmando a alta taxa de sublimação. Astrônomos também registraram aumento rápido de brilho e leve alteração de coloração, ambos considerados efeitos transitórios associados à dispersão de partículas finas.
Peculiaridades químicas e morfológicas
Além da intensa liberação de água, medições espectroscópicas apontaram concentração elevada de dióxido de carbono no coma, característica já observada em outros cometas, mas incomum em corpos interestelares documentados. Outra singularidade é a presença de uma anticauda, feixe de partículas que parece apontar na direção oposta à cauda principal devido à perspectiva de observação a partir da Terra. Embora chamativas, essas propriedades permanecem dentro do espectro conhecido de comportamentos cometários.
Estabilidade orbital e destino
Monitoramentos recentes descartaram sinais de fragmentação catastrófica. A estrutura do 3I/ATLAS permanece íntegra, e as projeções indicam que o objeto completará sua passagem pelo plano orbital dos planetas sem grandes desvios. Uma vez ultrapassado o ponto mais distante da órbita solar pós-periélio, o cometa deve retomar rumo às regiões externas do Sistema Solar e, eventualmente, retornar ao espaço interestelar, carregando consigo registros físicos de sua origem primordial.
Significado científico dos objetos interestelares
A raridade de visitantes de fora do Sistema Solar transforma cada novo exemplar em um laboratório natural sobre a formação planetária. Até hoje, apenas três corpos desse tipo foram catalogados: ‘Oumuamua em 2017, 2I/Borisov em 2019 e agora 3I/ATLAS. A detecção de radicais hidroxila reforça a noção de que pelo menos parte desses objetos retém quantidades significativas de gelo d’água, sugerindo que sistemas planetários distantes podem abrigar reservatórios semelhantes aos da Nuvem de Oort.
Contribuições do sinal de rádio para a pesquisa
Ao confirmar a presença de hidroxila em linha de base radioelétrica, os astrônomos validam modelos de sublimação desenvolvidos a partir de observações anteriores. A correlação entre taxa de emissão, brilho observável e intensidade do sinal de OH permite estimar quanto gelo o cometa está perdendo por segundo e avaliar a composição isotópica da água, parâmetros importantes para comparar ambientes de formação distintos. Esses dados alimentam bancos globais de cometas e ajustam previsões de comportamento quando novos visitantes forem identificados.
Panorama final dos achados
O registro do MeerKAT marca a primeira vez que um cometa genuinamente interestelar tem sua atividade mensurada em rádio frequências, reforçando a natureza cometária do 3I/ATLAS. Apesar de peculiaridades como múltiplas caudas, alta proporção de dióxido de carbono e anticauda visível, os elementos observados se encaixam em fenômenos físicos bem descritos pela ciência. O visitante mantém rota estável, segue liberando vapor de água que a luz solar decompõe em hidroxila e, após breve estadia, prepara-se para deixar o Sistema Solar tão silenciosamente quanto chegou.
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