Golpe do amor: entenda o crime, suas novas táticas e como evitar perdas financeiras e emocionais

Uma transferência de R$ 50 mil no Distrito Federal e um prejuízo de R$ 5 milhões na França, ambos motivados pela promessa de um relacionamento, ilustram a continuidade do chamado golpe do amor. O golpe, que combina engodo afetivo e extorsão, permanece em atividade ao se adequar à popularização de aplicativos de namoro, redes sociais e recursos de inteligência artificial.
- Quem são as vítimas mais recentes
- O que é o golpe do amor
- Como ocorre a versão virtual
- Como ocorre a versão presencial
- Por que o golpe persiste
- Sinais de atenção durante o contato virtual
- Cuidados práticos em encontros presenciais
- Procedimentos ao perceber a fraude
- Impacto financeiro e emocional
- Ferramentas simples de verificação
- Dados recentes e panorama
- Resumo das melhores práticas de segurança
Quem são as vítimas mais recentes
Em julho, uma aposentada de 62 anos do Distrito Federal acreditou estar se relacionando pela internet com um suposto trabalhador do Alasca, pai de uma criança com câncer. Convencida pela narrativa, ela enviou cerca de R$ 50 mil antes de perceber que havia caído em uma fraude. No início do ano, na França, uma mulher foi persuadida por alguém que utilizava fotos manipuladas de Brad Pitt e efetuou transferências que totalizaram aproximadamente R$ 5 milhões. Os dois casos, separados por fronteiras geográficas, têm em comum a manipulação emocional e a transferência de quantias significativas.
O que é o golpe do amor
O termo define a prática em que criminosos fingem interesse romântico para extrair dinheiro ou informações das vítimas. A engenharia social repete um roteiro central: apresentar-se de forma atraente, criar confiança por meio de diálogos prolongados e, em seguida, solicitar recursos para resolver emergências supostamente urgentes. O crime se manifesta em duas modalidades principais, virtual e presencial, que compartilham o mesmo objetivo, mas diferem na execução.
Como ocorre a versão virtual
No formato que vitimou a aposentada brasileira e a francesa, tudo se passa à distância. O golpista constrói um personagem crível: profissional estrangeiro, militar deslocado, celebridade ou qualquer identidade que gere admiração. Conversas frequentes, declarações de afeto e fotos — muitas vezes obtidas na internet ou criadas por softwares de inteligência artificial — formam a base da confiança. Depois de instaurar intimidade, surge o apelo financeiro: cirurgia de um familiar, liberação de encomenda, compra de passagem ou quitação de taxa aduaneira. A urgência é o elemento que empurra a vítima a efetuar depósitos, transferências via PIX ou pagamentos internacionais.
Como ocorre a versão presencial
Em São Paulo, “golpe do amor” também denomina ocorrências em que o encontro, marcado por aplicativos de namoro, termina em sequestro-relâmpago. O falso par romântico convida a vítima a um local isolado; comparsas surgem e, sob ameaça, obrigam o alvo a realizar saques, revelar senhas ou efetuar transferências digitais. Dados da Secretaria de Segurança Pública paulista mostram que, na capital, os registros desse tipo de caso caíram cerca de 54% em 2023 em relação a 2022. Entre janeiro e junho de 2024, apenas dois boletins foram contabilizados, mas o risco permanece.
Por que o golpe persiste
Duas razões sustentam a longevidade dessa fraude. A primeira é o componente emocional: a expectativa de um romance faz a vítima relativizar sinais de alerta. A segunda é a facilidade tecnológica. Perfis falsos podem ser montados em minutos, usando bancos de imagens, editores de vídeo ou retratos gerados por IA que misturam traços de várias pessoas, tornando a detecção mais difícil. O ambiente on-line também oferece alcance global, permitindo que criminosos busquem alvos em diferentes países sem sair de casa.
Sinais de atenção durante o contato virtual
Alguns indícios se repetem nos relatos de vítimas e servem como ferramenta de prevenção:
Histórias drásticas e urgentes. Doença grave, herança bloqueada ou encomenda retida aparecem com frequência como justificativa para pedidos de dinheiro.
Recusa em ligar a câmera. Se a pessoa evita chamadas de vídeo ou sempre apresenta desculpas técnicas, há alta probabilidade de encobrimento de identidade.
Perfis impecáveis. Fotos de modelos, militares estrangeiros ou celebridades são usadas para gerar admiração instantânea. Uma busca reversa de imagem no Google ou no Google Lens ajuda a descobrir se a foto já aparece em outros lugares.
Solicitação de dados bancários. Nenhum relacionamento legítimo exige, na fase inicial, cópias de documentos, senhas ou códigos de autenticação.
Cuidados práticos em encontros presenciais
Quando a interação evolui para um encontro físico, a prevenção exige etapas adicionais:
Local público e movimentado. Prefira cafeterias, shopping centers ou parques com fluxo constante de pessoas.
Compartilhamento de localização. Informe a amigos ou parentes o trajeto, o horário combinado e a identidade do acompanhante.
Recusa a mudanças de última hora. Golpistas costumam sugerir alteração de local para ruas desertas ou estacionamentos, onde comparsas aguardam.
Sem caronas improvisadas. Entrar em veículos de desconhecidos amplia o risco de sequestro-relâmpago.
Procedimentos ao perceber a fraude
Quem suspeitar de ter caído no golpe não deve apagar mensagens ou imagens. Registros de chat, comprovantes de transferência, prints e áudios servem como evidência em investigações criminais. O passo seguinte é registrar boletim de ocorrência — presencial ou eletrônico — na delegacia mais próxima. Situações que envolvam ameaça, sequestro ou agressão exigem contato imediato com a Polícia Militar pelo 190.
Impacto financeiro e emocional
O prejuízo das vítimas não se resume ao dinheiro perdido. A descoberta da fraude costuma gerar vergonha, abalo na autoestima e dificuldade para confiar em novas relações pessoais. Mesmo que valores sejam eventualmente recuperados por via judicial, o dano emocional pode persistir. Por isso, o reconhecimento precoce dos sinais de alerta é considerado pela própria polícia o método de proteção mais eficaz.
Ferramentas simples de verificação
Além da busca reversa de imagem, outras ações podem ser adotadas sem custo:
Checagem de consistência. Perguntas sobre datas, locais e detalhes do cotidiano ajudam a testar se a narrativa do interlocutor se mantém coerente ao longo do tempo.
Observação de padrão linguístico. Mensagens que alternam estilos de escrita, erros ortográficos incompatíveis com a profissão declarada ou respostas genéricas podem indicar que mais de uma pessoa administra o perfil.
Pesquisa de nome completo. Inserir o nome em sites de notícias e redes profissionais pode revelar ausência total de informações, outro sinal de alerta.
Dados recentes e panorama
Apesar da redução percentual de casos de sequestro-relâmpago na capital paulista, a utilização de imagens produzidas por IA demonstra a capacidade de adaptação dos criminosos. Não há indícios, a partir dos registros consultados, de que o golpe esteja em declínio global. Ao contrário, ele passa por mutações que combinam antigas estratégias emocionais a novos recursos tecnológicos.
Resumo das melhores práticas de segurança
Para minimizar riscos, especialistas em segurança digital e autoridades policiais recomendam:
• Questionar histórias que exijam pressa e dinheiro.
• Evitar repasse de valores ou senhas em qualquer estágio do relacionamento.
• Exigir interação por vídeo antes de aprofundar a relação.
• Marcar encontros apenas em locais movimentados e avisar alguém de confiança.
• Manter registros íntegros caso ocorra a fraude e procurar imediatamente a polícia.
A conjunção de fatores emocionais e tecnológicos mantém o golpe do amor ativo, mas a conscientização sobre procedimentos preventivos reduz significativamente a chance de novas vítimas. Permanecer cético diante de solicitações financeiras e buscar verificação de identidade são atitudes que, de acordo com os casos recentes, teriam evitado prejuízos de milhares a milhões de reais.
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