James Watson morre aos 97 anos; legado científico e polêmicas marcam história do co-descobridor do DNA

James Watson morre aos 97 anos; legado científico e polêmicas marcam história do co-descobridor do DNA

James Dewey Watson, referência central da biologia molecular moderna e um dos responsáveis por revelar a estrutura do DNA, morreu na quinta-feira, 6 de junho, em East Northport, Nova York, aos 97 anos. A informação foi confirmada pela família, que relatou a transferência recente do cientista de um hospital para um hospice, onde ele não resistiu a uma infecção. A morte encerra a trajetória de um pesquisador celebrado pelo impacto de suas descobertas e criticado pelas declarações ofensivas que marcaram as últimas décadas de sua vida pública.

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Contexto da morte e últimos dias

Watson foi hospitalizado pouco antes de falecer e, diante do agravamento do quadro, seguiu para cuidados paliativos. A causa divulgada, uma infecção, somou-se à fragilidade própria da idade avançada. A família acompanhou a transferência para o hospice em East Northport, localidade do estado de Nova York próxima a Long Island, região que abrigou parte significativa de sua carreira científica.

A descoberta da dupla hélice

Em 1953, aos 25 anos, Watson e o físico britânico Francis H. C. Crick apresentaram o modelo em dupla hélice da molécula de ácido desoxirribonucleico. O trabalho, publicado naquele ano, mudou definitivamente a biologia ao explicar como a informação genética é armazenada e copiada. À descoberta juntou-se Maurice H. F. Wilkins, cujo trabalho em difração de raios-X forneceu pistas cruciais. O trio recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1962, reconhecimento que consolidou a ideia de que a base da hereditariedade repousa em quatro bases químicas — adenina, timina, citosina e guanina — ligadas por pares específicos.

A elucidação da estrutura dependia de dados experimentais obtidos pelo grupo do King’s College London, onde Rosalind Franklin produziu imagens de raios-X decisivas. Fotografias como a famosa “Imagem 51” permitiram inferir o arranjo helicoidal. As imagens foram usadas sem o conhecimento pleno de Franklin, quebra de protocolo que só anos depois ganhou notoriedade. Franklin morreu em 1958, antes da premiação de 1962, e, portanto, não pôde ser contemplada pelo Nobel, concedido apenas a pesquisadores vivos.

Origem, formação acadêmica e primeiros passos

Nascido em 6 de abril de 1928, em Chicago, Watson era filho de um cobrador de dívidas e de uma funcionária da Universidade de Chicago. Ingressou na mesma instituição aos 15 anos e graduou-se em zoologia. O livro “What Is Life?”, de Erwin Schrödinger, despertou seu interesse pela genética, conduzindo-o ao doutorado na Universidade de Indiana, orientado por Salvador Luria, futuro Nobel de 1969. Em 1951, Watson mudou-se para Cambridge, Inglaterra, onde conheceu Crick no Laboratório Cavendish. A afinidade intelectual entre ambos foi decisiva para a construção do modelo da dupla hélice.

Detalhes da molécula e impacto científico

O modelo proposto descreveu duas fitas antiparalelas compostas por açúcares e fosfatos, enroladas em torno de um mesmo eixo. Entre elas, as bases se emparelham de modo complementar — adenina com timina, citosina com guanina — garantindo cópia fiel durante a divisão celular. Esses princípios permitiram compreender mutações, hereditariedade e, mais tarde, abriram caminho para tecnologias como o sequenciamento genético.

Condução do Cold Spring Harbor Laboratory

Em 1968, Watson assumiu a direção do Cold Spring Harbor Laboratory, em Long Island. Ao longo de décadas, reorganizou o centro, ampliou as instalações e instituiu conferências que o transformaram em referência mundial em microbiologia e biologia molecular. Programas educacionais criados sob sua gestão formaram gerações de pesquisadores, fortalecendo a reputação do laboratório no cenário internacional.

Papel no Projeto Genoma Humano

No fim dos anos 1980, Watson foi convidado a liderar a iniciativa que se transformaria no Projeto Genoma Humano, considerada uma das mais ambiciosas da ciência do século XX. À frente do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, defendeu que parte do orçamento fosse reservada às dimensões éticas, legais e sociais do sequenciamento genético. Deixou a coordenação em 1992, após discordar da intenção de patentear genes humanos. Décadas depois, em 2013, a Suprema Corte norte-americana decidiu que produtos naturais não podem ser patenteados, posição alinhada ao argumento que ele sustentava.

Produção literária e manuais de referência

Watson também se destacou como escritor. “The Double Helix”, lançado em 1968, apresentou uma narrativa pessoal da descoberta do DNA e tornou-se leitura obrigatória para historiadores da ciência. A obra compõe a lista de cem títulos mais influentes dos Estados Unidos, segundo a Biblioteca do Congresso, embora tenha sido criticada por minimizar a participação de colegas. O manual “Molecular Biology of the Gene” é outro destaque, amplamente adotado em cursos universitários.

Controvérsias públicas e repercussões

A trajetória de Watson inclui episódios que mancharam sua reputação. Em 2007, em entrevista ao jornal britânico The Sunday Times, afirmou que haveria diferenças de inteligência entre pessoas negras e brancas. A declaração resultou em afastamento imediato de suas funções no Cold Spring Harbor Laboratory, que também revogou títulos honorários. Anos depois, ele reiterou posições semelhantes em um documentário da PBS, intensificando a crítica da comunidade científica.

Além do conteúdo racista, Watson fez declarações classificadas como misóginas e homofóbicas, comentou sobre a contratação de pessoas com sobrepeso e associou exposição solar a impulsos sexuais. Ele próprio reconheceu o impacto negativo de sua franqueza, mas continuou a receber severa condenação pública.

Venda da medalha do Nobel

Em 2014, o pesquisador colocou em leilão a medalha recebida pelo Nobel, vendendo-a por 4,1 milhões de dólares. O valor, segundo revelou, seria destinado ao sustento familiar e a projetos de pesquisa. O comprador, o empresário russo Alisher Usmanov, devolveu o prêmio ao cientista, gesto que voltou a atrair atenção da mídia internacional.

Vida pessoal e motivações

Watson casou-se em 1968 com Elizabeth Lewis, então estudante de 19 anos em Harvard, com quem teve dois filhos, Rufus e Duncan. O filho mais velho sofre de doença mental grave, condição que o pai descrevia como “injustiça genética” e que reforçou seu interesse nas origens biológicas de transtornos psiquiátricos. Ao longo da vida, o cientista se afirmou como ateu convicto, atribuindo parte de seu sucesso à ausência de crença religiosa. Em carta de renúncia de 2007, declarou confiar na razão e na justiça social, defendendo que os mais favorecidos ajudem os menos privilegiados.

Sequenciamento completo do próprio genoma

Watson esteve entre os primeiros seres humanos a ter o genoma integralmente sequenciado, marco que demonstrou a viabilidade técnica e financeira do procedimento. O feito contribuiu para popularizar a ideia de medicina personalizada baseada em perfil genético.

Repercussão cultural

A figura do cientista chegou ao público leigo por meio de produções como “Life Story”, filme da BBC lançado em 1987, estrelado por Jeff Goldblum. A produção dramatizou os bastidores da corrida pela estrutura do DNA, ampliando o debate sobre colaboração e competição na ciência.

Legado científico e controvérsias entrelaçadas

Para colegas e sucessores, a revelação da dupla hélice ocupa posição de destaque equivalente às teorias de Charles Darwin sobre evolução e às leis da herança genética propostas por Gregor Mendel. Contudo, o reconhecimento convive com a sombra das declarações discriminatórias que levaram instituições a se distanciarem do laureado. No balanço final, Watson deixa uma contribuição que redefiniu a biologia e impulsionou avanços como o Projeto Genoma Humano, mas também um histórico de controvérsias que servem de alerta sobre responsabilidade social no meio científico.

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