Riscos de mortalidade permanecem por semanas após ciclones tropicais, indica estudo global

Palavra-chave principal: ciclones tropicais
- Impacto prolongado: o que a pesquisa descobriu
- Quem foi afetado
- O que aumenta o risco
- Quando o risco atinge o auge
- Onde o perigo se intensifica
- Como as causas se relacionam ao desastre
- Por que as chuvas são mais letais que os ventos
- Custo humano e econômico recorrente
- Influência das mudanças climáticas
- Recomendações propostas pelo estudo
- Exemplo recente de atenção preventiva no Brasil
- Pontos de atenção para gestores públicos
- Camada individual de preparo
- Conclusão factual
Impacto prolongado: o que a pesquisa descobriu
Um levantamento internacional examinou 14,8 milhões de registros de óbito entre 2000 e 2019 e concluiu que os ciclones tropicais elevam o risco de morte por diversas causas durante as semanas subsequentes à sua passagem. Foram analisadas 1.356 comunidades de Austrália, Brasil, Canadá, Coreia do Sul, México, Nova Zelândia, Filipinas, Taiwan e Tailândia, que vivenciaram 217 eventos desse tipo no período estudado. A publicação, veiculada na revista científica BMJ, evidencia que o pico de mortalidade ocorre nos primeiros 14 dias posteriores ao fenômeno.
Quem foi afetado
Os dados abrangem populações de nove países distribuídos por quatro continentes. As comunidades avaliadas refletem variados níveis de infraestrutura de saúde e contingentes demográficos. Os autores destacam que nações com menor capacidade de resposta institucional enfrentam impactos desproporcionais, dado que dependem de sistemas de saúde mais frágeis e exibem maior vulnerabilidade socioeconômica.
O que aumenta o risco
O estudo identificou variações expressivas nas principais causas de morte associadas aos ciclones tropicais. Os percentuais de aumento, calculados para o período imediatamente posterior ao evento, foram:
• Doenças renais: 92%;
• Lesões: 21% por dia na primeira semana;
• Diabetes: 15%;
• Distúrbios neuropsiquiátricos: 12%;
• Doenças infecciosas: 11%;
• Doenças gastrointestinais: 6%;
• Doenças respiratórias: 4%;
• Doenças cardiovasculares e câncer: 2%.
Quando o risco atinge o auge
Os cientistas verificaram que o incremento de mortalidade se concentra nas duas primeiras semanas após a passagem dos sistemas meteorológicos. O intervalo crítico coincide com desorganização de serviços básicos, interrupções de energia e danos a rotas de transporte. Esse cenário reduz o acesso a tratamentos contínuos e a atendimentos de urgência, sobretudo para portadores de condições crônicas.
Onde o perigo se intensifica
Embora todos os países avaliados tenham registrado aumento de óbitos, as regiões mais expostas a inundações, falta de energia prolongada e restrição de transporte apresentaram aumento mais pronunciado. Chuvas geradas pelos ciclones mostraram relação mais estreita com mortalidade do que os ventos fortes, especialmente para doenças cardiovasculares, respiratórias e infecciosas, segundo a análise.
Como as causas se relacionam ao desastre
Os autores associam o agravamento de doenças renais à suspensão de tratamentos como hemodiálise, já que enchentes e apagões impedem o funcionamento de clínicas ou dificultam o deslocamento de pacientes. No caso de lesões, a combinação de destroços, quedas de estruturas e operações de limpeza expõe a população a traumas físicos. Para diabetes, a dificuldade de obter medicamentos e alimentação adequada interfere no controle glicêmico.
Distúrbios neuropsiquiátricos aumentam em virtude do estresse extremo, perda de bens e ruptura de redes de apoio. Doenças infecciosas e gastrointestinais são favorecidas por contaminação da água e saneamento comprometido. Problemas respiratórios decorrem da umidade elevada e da concentração de poluentes gerados por geradores a diesel e detritos. Cardiopatias e câncer, embora apresentem crescimento menor, ainda sofrem influência de atrasos em consultas, exames e cirurgias.
Por que as chuvas são mais letais que os ventos
A pesquisa atribui à precipitação intensa dois efeitos principais: inundação de áreas residenciais e deterioração da qualidade da água. Esses fatores ampliam o contato com agentes patogênicos, dificultam evacuação e impedem socorro rápido. Além disso, a destruição de estradas causa isolamento de comunidades inteiras, atrasando remessas de insumos médicos e alimentos.
Custo humano e econômico recorrente
Anualmente, mais de 20 milhões de pessoas sofrem consequências diretas de ciclones tropicais, e os prejuízos estimados atingem US$ 51,5 bilhões. A combinação de perdas financeiras e sobrecarga sanitária reforça a necessidade de políticas que contemplem não apenas a prevenção de danos materiais imediatos, mas também a continuidade dos serviços de saúde após o desastre.
Influência das mudanças climáticas
Os autores observam que o aquecimento global contribui para ciclones mais intensos e duradouros. Ao mesmo tempo, áreas que historicamente não conviviam com esses sistemas começam a entrar nas rotas prováveis, aumentando a população exposta. Essa alteração de padrão demanda revisão de protocolos de emergência e adaptação de infraestrutura em regiões até então consideradas fora de risco significativo.
Recomendações propostas pelo estudo
Entre as medidas sugeridas estão:
• Integração de dados epidemiológicos nos alertas meteorológicos;
• Reforço do atendimento em comunidades vulneráveis antes e depois da tempestade;
• Expansão dos planos de contingência para contemplar continuidade de terapias crônicas;
• Melhoria da logística de transporte de insumos médicos durante e após inundações;
• Revisão periódica de protocolos de evacuação, com enfoque em doentes crônicos.
Exemplo recente de atenção preventiva no Brasil
Enquanto o estudo analisa eventos até 2019, a Defesa Civil do Estado de São Paulo emitiu alerta para tempestades severas entre sexta-feira e sábado, ocasionadas por um ciclone extratropical que avança pela costa sudeste do país. A comunicação preventiva reforça a importância de sistemas de alerta rápido e da preparação da assistência em saúde para minimizar efeitos que, conforme o levantamento, podem persistir por semanas.
Pontos de atenção para gestores públicos
A análise destaca que o planejamento de emergência não deve se limitar à fase aguda. É necessário prever contingências para restabelecimento de energia, acesso a água potável, transporte de pacientes e reposição de medicamentos. Investimentos em infraestrutura resiliente, capacitação de equipes de saúde e informações em tempo real podem reduzir significativamente a mortalidade pós-desastre.
Camada individual de preparo
Embora o foco do estudo seja macrossocial, os autores indicam que pacientes com condições crônicas mantenham planos pessoais de contingência, como estoques de remédios, conhecimento sobre rotas de evacuação e contatos de serviços de saúde alternativos. Essas ações particulares somam-se às políticas coletivas para diminuir as mortes evitáveis no período posterior ao evento climático.
Conclusão factual
O levantamento conduzido em nove países demonstra que os ciclones tropicais geram consequências sanitárias prolongadas, com aumento expressivo de óbitos por enfermidades variadas. As descobertas sustentam a necessidade de estratégias integradas entre meteorologia e saúde pública, capazes de proteger populações vulneráveis não apenas durante, mas ao longo das semanas que sucedem cada tempestade.
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