Acordo reduz preço de canetas emagrecedoras Zepbound e Wegovy para beneficiários do Medicare e Medicaid nos EUA

As farmacêuticas Eli Lilly e Novo Nordisk formalizaram um compromisso com o governo dos Estados Unidos para tornar mais acessíveis duas de suas principais canetas injetáveis voltadas à perda de peso, Zepbound e Wegovy. O entendimento, anunciado na quinta-feira (6), estabelece valores reduzidos para usuários dos programas públicos Medicare e Medicaid, além de disponibilizar os mesmos preços em um portal federal batizado de TrumpRx.gov, cuja estreia está prevista para janeiro.
O que muda com o acordo
O elemento central do pacto é a criação de uma nova versão dos medicamentos classificados como GLP-1, grupo terapêutico indicado para controle de peso e já utilizado no tratamento de diabetes tipo 2. Essa formulação passará a custar US$ 149 por mês para qualquer pessoa que a obtenha por meio do Medicare, do Medicaid ou do futuro site governamental. Beneficiários do Medicare enquadrados em determinadas regras de coparticipação ainda terão direito a um pagamento reduzido de US$ 50 mensais.
As injeções atualmente vendidas nas farmácias permanecerão disponíveis, porém a preços distintos no mesmo portal. O cronograma define um valor inicial de US$ 350 por mês, com queda progressiva até US$ 245 ao fim de um período de dois anos. Dessa forma, o governo pretende alinhar gradualmente o custo das apresentações já conhecidas ao preço da nova linha, sem provocar rupturas na cadeia de abastecimento.
Quem é beneficiado
A negociação abrange exclusivamente pessoas atendidas pelo Medicare ou pelo Medicaid, programas que juntos respondem por uma parcela significativa da cobertura de saúde nos Estados Unidos. O acordo também contempla qualquer cidadão que opte por comprar as canetas pelo site federal, independentemente de ter plano público ou privado.
No Brasil, apenas o Wegovy possui autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Não há definição sobre eventual repercussão dos novos preços no mercado brasileiro, já que o entendimento celebrado nos Estados Unidos limita-se ao sistema de saúde daquele país.
Estrutura de preços estabelecida
Os valores fixados funcionam em três camadas principais:
• Nova formulação GLP-1: custo uniforme de US$ 149 ao mês para todos os usuários do Medicare, do Medicaid e do portal TrumpRx.
• Coparticipação no Medicare: parcela de beneficiários pagará a parte ainda menor de US$ 50 mensais, conforme critérios do próprio programa.
• Apresentação já disponível no mercado: preço inicial de US$ 350 no TrumpRx, com redução planejada para US$ 245 ao longo de 24 meses.
Medicare e Medicaid: públicos e financiamento
Embora ambos sejam administrados em esfera federal, os programas têm finalidades distintas. O Medicare atende principalmente cidadãos a partir de 65 anos, bem como adultos com deficiências ou doenças específicas. Seu modelo combina financiamento federal e pagamentos de prêmios, franquias ou coparticipações pelos próprios segurados. Já o Medicaid é estruturado em parceria entre governo federal e governos estaduais para ofertar serviços de baixo custo a famílias de menor renda. Os critérios de elegibilidade variam conforme a legislação de cada estado, mas o princípio é garantir atendimento médico essencial a populações vulneráveis.
Programa-piloto para distribuição das canetas
Nas semanas que se seguirão ao anúncio, o governo americano deve iniciar um programa-piloto que contemplará cerca de 10 % dos beneficiários potencialmente elegíveis a medicamentos do tipo GLP-1. A seleção será baseada em três grupos de pacientes, definidos por faixas de Índice de Massa Corporal (IMC) e por condições médicas associadas:
1) Sobrepeso com fatores de risco: pessoas com IMC superior a 27 que apresentem pré-diabetes ou doença cardiovascular já estabelecida.
2) Obesidade com comorbidades: indivíduos com IMC acima de 30 acompanhados de hipertensão arterial não controlada, doença renal ou insuficiência cardíaca.
3) Obesidade grave: qualquer paciente cujo IMC ultrapasse 35, independentemente da presença de outras enfermidades.
Com essa segmentação, a administração federal pretende avaliar impacto clínico, adesão ao tratamento e sustentabilidade financeira antes de expandir a iniciativa a todo o universo de usuários dos programas públicos.
Antecedentes políticos e negociações recentes
O acordo divulgado não é o primeiro esforço governamental para incorporar terapias voltadas ao controle de peso na rede pública de saúde americana. No fim do mandato anterior, a administração Biden apresentou uma proposta que poderia contemplar 3,4 milhões de beneficiários do Medicare em um pacote mais amplo de prevenção de obesidade e diabetes. Segundo cálculos do Congresso, o plano exigiria US$ 35 bilhões em nove anos, custo que travou o avanço do texto legislativo.
Paralelamente, a atual gestão firmou parcerias com outras multinacionais da indústria farmacêutica. Entre elas estão Pfizer, AstraZeneca e EMD Serono, autorizadas a vender determinados medicamentos a preços mais baixos em troca de isenções de tarifas. Na mesma linha, Eli Lilly e Novo Nordisk assumiram compromisso público de aplicar preços reduzidos no mercado interno sempre que lançarem novos produtos, reforçando a estratégia de contenção de custos para o sistema de saúde.
Impacto esperado e limites da iniciativa
A redução para US$ 149 mensais quebra um patamar histórico de custo para terapias emagrecedoras baseadas em GLP-1 nos Estados Unidos, que frequentemente ultrapassavam a marca de US$ 1 000 fora de programas de desconto. Ao mesmo tempo, o alcance inicial está restrito aos canais vinculados ao governo federal e a uma fração dos beneficiários, dada a natureza piloto da distribuição.
No cenário internacional, a mudança pode servir de referência de preço, mas não há garantia de reflexo automático. O caso do Brasil ilustra esse limite: apesar de o Wegovy já contar com registro na Anvisa, ainda não se sabe se a política americana influenciará as tabelas praticadas por aqui.
Próximos passos administrativos
A agenda divulgada prevê duas etapas centrais. A primeira é a entrada em operação do site TrumpRx.gov logo no início do próximo ano, plataforma que funcionará como vitrine oficial de medicamentos com desconto. A segunda consiste na implantação do programa-piloto, com monitoramento clínico e financeiro dos grupos definidos. Resultados obtidos nessas frentes vão orientar ajustes na cobertura, na fixação de coparticipações e na negociação de novos acordos com a indústria.
Para os gestores públicos, a viabilidade orçamentária dependerá do comportamento de demanda e do nível de adesão dos pacientes. Já para Eli Lilly e Novo Nordisk, o modelo oferece acesso a um público maior sob garantia de compras em larga escala, compensando a margem reduzida por unidade. Assim, o pacto se torna um teste de equilíbrio entre sustentabilidade fiscal e retorno comercial.
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