Foguete New Glenn confirma segundo voo: satélites gêmeos da NASA partem rumo a Marte em 9 de novembro

O foguete New Glenn tem data e hora definidas para executar seu primeiro voo operacional. A nova missão, batizada de NG-2, está programada para domingo, 9 de novembro, às 15h45 pelo horário de Brasília, partindo do Complexo de Lançamento 36 em Cabo Canaveral, Flórida. O cronograma confirma a segunda decolagem de um veículo que, em janeiro, realizou apenas um ensaio de demonstração. Desta vez, o objetivo é bem mais ambicioso: colocar em trajetória interplanetária os dois satélites gêmeos da missão ESCAPADE, financiada pela NASA, além de validar um sistema de comunicações experimentais da Viasat.
- Data, hora e local: os elementos essenciais da decolagem
- New Glenn: do voo de teste ao primeiro serviço comercial
- Missão ESCAPADE: gêmeos em rota para entender a atmosfera marciana
- Rota fora da janela ideal: permanência no ponto de Lagrange L2
- Objetivos científicos e segurança de missões futuras
- Sistema InRange: comunicações além das antenas terrestres
- Impacto do shutdown e cobertura reduzida
- Programa SIMPLEx e filosofia de baixo custo
- Relevância do voo NG-2 para o futuro do New Glenn
Data, hora e local: os elementos essenciais da decolagem
A confirmação do lançamento na tarde de 9 de novembro encerra meses de expectativa iniciados ainda em 2024, quando a Blue Origin precisou adiar a estreia operacional do seu lançador pesado. O horário escolhido — 15h45 no fuso de Brasília — foi calculado para coincidir com a janela de injeção que garante a separação dos satélites no momento exato em que a trajetória de escape da Terra se abre. O palco da operação, o histórico Complexo 36, passou por adaptações para receber o New Glenn, veículo que supera 90 metros de altura e exige infraestrutura específica de abastecimento de metano e oxigênio líquidos.
New Glenn: do voo de teste ao primeiro serviço comercial
O NG-2 será apenas o segundo encontro do foguete com o espaço, mas marca o ponto em que a empresa deixa a fase estritamente demonstrativa. O voo inaugural, em janeiro, transportou uma carga inerte destinada a avaliar pressões estruturais, desempenho do sistema de propulsão BE-4 e comunicação telemétrica. Não houve inserção de satélites, tampouco tentativa de recuperar o primeiro estágio, o que limita comparações diretas com a operação atual. Agora, os engenheiros pretendem colocar em prática o ciclo completo: decolagem, separação, liberação das cargas úteis, retorno autônomo e pouso controlado em balsa estacionada no Atlântico.
Esse retorno propulsado é parte central da estratégia de reutilização da Blue Origin. A manobra, semelhante à adotada por outras empresas de lançamento, busca reduzir custos de produção, ampliar a cadência de voos e abrir espaço para missões mais frequentes. O NG-2 servirá para certificar algoritmos de navegação e sistemas de proteção térmica que precisam resistir à reentrada atmosférica antes do toque em uma plataforma flutuante.
Missão ESCAPADE: gêmeos em rota para entender a atmosfera marciana
Na carenagem do New Glenn viajarão dois satélites idênticos construídos pela Rocket Lab e coordenados pela Universidade da Califórnia em Berkeley. A sigla ESCAPADE deriva da expressão em inglês que, traduzida, significa Exploradores da Fuga e Dinâmica do Plasma Marciano. Cada unidade carrega instrumentos capazes de medir densidade de partículas, variações de campo magnético e fluxo de vento solar ao redor de Marte.
Com esses dados, cientistas buscam responder a uma questão de longa data: por que o planeta vermelho perdeu a maior parte de sua atmosfera primitiva. O levantamento de parâmetros do plasma ajudará a reconstruir o processo de erosão atmosférica causado pelo bombardeio de partículas solares. A equipe científica também espera traçar limites operacionais para futuras missões tripuladas, calculando a intensidade de radiações perigosas em períodos de maior atividade do Sol.
Rota fora da janela ideal: permanência no ponto de Lagrange L2
Diferentemente de sondas que costumam aproveitar o alinhamento favorável entre Terra e Marte a cada dois anos, a ESCAPADE segue um roteiro alternativo. Após a saída da órbita terrestre, os satélites permanecerão por aproximadamente doze meses nas imediações do ponto de Lagrange L2, localizado na linha entre o nosso planeta e o Sol. Esse estágio inicial permite economizar propelente, estabilizar sistemas e aguardar o momento correto para um sobrevoo da Terra em 2026.
O encontro planejado com o planeta anfitrião funcionará como manobra gravitacional. A partir desse impulso, cada plataforma ajustará a trajetória rumo a Marte, com chegada prevista para 2027. O desenho orbital proposto pela empresa Advanced Space pode representar uma mudança de paradigma: se bem-sucedido, demonstra que missões marcianas não precisam ficar restritas à clássica janela bianual.
Objetivos científicos e segurança de missões futuras
A análise do vento solar e de suas interações com a ionosfera marciana interessa não apenas à pesquisa acadêmica. Conhecer variações extremas de radiação auxilia na elaboração de protocolos de segurança para astronautas que venham a operar na superfície ou em órbita do planeta. As medições pretendem identificar com antecedência tempestades solares capazes de comprometer eletrônicos de bordo e expor tripulações a doses perigosas de partículas energéticas.
Para cumprir a missão, os gêmeos ESCAPADE empregarão magnetômetros, analisadores de partículas e sensores de plasma distribuídos em braços extensíveis. A disposição em órbitas levemente diferentes dará perspectiva tridimensional, permitindo diferenciar efeitos locais de fenômenos globais no alto da atmosfera.
Sistema InRange: comunicações além das antenas terrestres
Além do componente científico, o NG-2 transporta um experimento da Viasat que integra o projeto Communications Services da NASA. O pacote, batizado de InRange, utiliza a constelação global em banda L da empresa para manter contato constante com o veículo, inclusive em trechos que escapam da linha de visada das antenas instaladas em solo.
A meta é demonstrar enlaces mais flexíveis e econômicos, capazes de reduzir a dependência de infraestrutura terrestre dedicada. Caso o teste comprove desempenho estável, a Viasat poderá oferecer novos serviços a agências governamentais e empresas privadas, fomentando um ecossistema em que provedores comerciais complementam a rede de rastreamento tradicional.
Impacto do shutdown e cobertura reduzida
Mesmo com a paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, o cronograma da NG-2 permanece inalterado. A NASA sinalizou que disponibilizará apenas uma transmissão online básica, medida que minimiza custos sem comprometer a documentação mínima exigida para o acompanhamento público de missões financiadas pela agência.
Programa SIMPLEx e filosofia de baixo custo
A inclusão da ESCAPADE no portfólio de pequenas missões inovadoras, conhecido como SIMPLEx, reforça a busca por soluções de valor reduzido. O programa incentiva propostas enxutas, com orçamentos aquém dos grandes orbitadores tradicionais, mas capazes de responder a perguntas científicas bem delimitadas. A dupla de satélites compõe a segunda leva de projetos selecionados, evidenciando a confiança da NASA na capacidade de plataformas compactas entregarem resultados de alto impacto.
Relevância do voo NG-2 para o futuro do New Glenn
Para a Blue Origin, a campanha de novembro possui valor estratégico. O veículo precisa comprovar desempenho consistente antes de avanços rumo a contratos de maior porte. Entre metas internas estão o aperfeiçoamento dos motores BE-4, a validação do sistema de separação de estágios e a aferição de cargas estruturais durante o retorno controlado.
Sucesso na missão consolidará a posição do New Glenn em um mercado de lançadores comerciais competitivos, dominado por companhias que já demonstram capacidade de reutilização e frequência elevada de voos. O resultado também influencia diretamente iniciativas futuras da empresa, como transporte de cargas para órbitas mais altas e apoio logístico a operações lunares.
Se todos os parâmetros forem observados conforme planejado, o New Glenn terá percorrido o ciclo completo de lançamento, entrega de satélites em trajetória interplanetária, teste de tecnologia de comunicações em banda L e recuperação do primeiro estágio em mar aberto. Cada um desses marcos adiciona camada de confiabilidade ao sistema, aproximando-o do objetivo de voos regulares e economicamente viáveis.
Com a contagem regressiva já iniciada, a atenção de entusiastas e especialistas volta-se ao complexo de Cabo Canaveral. O desempenho do NG-2 fornecerá indicadores cruciais para entender se a nova geração de foguetes pesados está pronta para inaugurar rotas interplanetárias flexíveis, apoiar experimentos de comunicações comerciais e, sobretudo, sustentar estratégias de reutilização capazes de redefinir custos no acesso ao espaço.
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