Projeto Drex enfrenta reviravolta: divergências indicam possível fim ou mudança de rota para o real digital

Lead. Fontes próximas ao Banco Central indicam que o Drex, iniciativa que buscava criar um real digital oficial, passa por uma reavaliação profunda. Enquanto parte dos interlocutores afirma que a autoridade monetária decidiu desligar a plataforma e encerrar o projeto, outros revelam que a instituição apenas adiou os planos e reduziu o escopo, com retomada prevista para 2026 voltada a serviços de garantias de crédito. Até agora, o Banco Central não confirmou nenhuma das interpretações.
- Quem está no centro das decisões
- O que está em discussão
- Quando e onde a decisão foi tomada
- Como o projeto chegou a esse ponto
- Por que a privacidade foi o principal obstáculo
- Histórico e objetivos originais do Drex
- Versão que indica encerramento definitivo
- Versão que aponta para adiamento e reestruturação
- Consequências para o setor financeiro
- O que muda para o consumidor final
- Situação oficial permanece indefinida
- Perspectivas para 2026
Quem está no centro das decisões
O protagonista do episódio é o Banco Central do Brasil, responsável por coordenar os testes do Drex desde 2023. Do lado externo, participam consórcios formados por instituições financeiras, empresas de tecnologia e representantes do mercado de capitais. Internamente, o esforço é liderado por uma equipe técnica chefiada por Fábio Araújo, que atua como coordenador do projeto.
O que está em discussão
Há duas versões sobre o destino do Drex. A primeira, relatada por fontes que dialogaram com participantes de consórcios, sustenta que o Banco Central optou por encerrar o programa e desligar toda a infraestrutura tecnológica já na próxima semana. A segunda, atribuída a integrantes da própria equipe técnica, defende que o projeto continuará, porém com escopo limitado: deixará de perseguir a função de pagamento instantâneo em blockchain e passará a concentrar esforços em um serviço de registro de garantias de crédito.
Quando e onde a decisão foi tomada
Segundo interlocutores citados na versão de encerramento, a definição teria ocorrido em reunião recente realizada entre o Banco Central e representantes dos consórcios participantes. O encontro, ainda não detalhado oficialmente, resultou na orientação de desligar os ambientes de teste distribuídos ao longo da próxima semana. Já a vertente que fala em continuidade, embora com cronograma estendido, menciona o ano de 2026 como horizonte para o início de uma fase três do Drex, que ficaria restrita a experimentos sobre tokenização de ativos e interoperabilidade de registros de crédito.
Como o projeto chegou a esse ponto
Os dois relatos convergem num aspecto: o Drex esbarrou em limitações técnicas e regulatórias que inviabilizaram seu avanço como moeda digital. Durante as provas de conceito, a equipe identificou que a tecnologia blockchain, pilar da primeira fase do projeto, não ofereceu o nível de sigilo considerado imprescindível para transações no Sistema Financeiro Nacional. A transparência nativa dos registros distribuídos entrou em choque com a exigência de confidencialidade sobre saldos e operações dos clientes.
Fábio Araújo já havia sinalizado em agosto que o Banco Central estudava alternativas fora do blockchain público, justamente por não conseguir compatibilizar privacidade e rastreabilidade. As tentativas de desenvolver camadas adicionais de criptografia não alcançaram o grau de maturidade exigido pela autoridade monetária. Além disso, os testes evidenciaram limitações de escalabilidade, segurança cibernética e disponibilidade de recursos humanos especializados.
Por que a privacidade foi o principal obstáculo
A lógica de livros-razão distribuídos implica que os nós da rede armazenam cópias idênticas de todas as transações. Ainda que os endereços dos usuários sejam pseudônimos, análises de padrão de uso permitem inferir informações sensíveis. Em um ambiente estatal, esse risco é ampliado pela integração com dados cadastrais bancários. As fontes que defendem o encerramento definitivo classificam esse impasse como estrutural e concluem que o Blockchain não é compatível com o sigilo bancário brasileiro.
Histórico e objetivos originais do Drex
Anunciado em 2023, o Drex nasceu com a ambição de ser a versão digital do real, emitida pelo Banco Central e programável por meio de contratos inteligentes. Entre as metas iniciais estavam a tokenização de títulos públicos, a liquidação de transações de câmbio e a facilitação de pagamentos de varejo. O projeto previa três fases: a primeira, já concluída, destinou-se a provas de conceito; a segunda iniciaria pilotos com usuários selecionados; e a terceira, programada para 2026, abriria serviços ao público.
Desde o início dos trabalhos, surgiram desafios de escalabilidade para comportar alto volume de operações, além de debates sobre a escolha da infraestrutura. Algumas propostas incluíam o uso de permissioned blockchains (redes privadas), enquanto outras defendiam tecnologias de registro distribuído alternativas. O consenso nunca foi alcançado, e o avanço prático ficou restrito a simulações internas.
Versão que indica encerramento definitivo
Fontes alinhadas a essa narrativa afirmam que o desligamento programado da infraestrutura representa o término da fase experimental e, na prática, o término do Drex como moeda digital. De acordo com esses interlocutores, a autoridade monetária pretende transferir o protagonismo da inovação para o setor privado, atuando apenas como regulador e definidor de padrões mínimos de segurança. O foco imediato passaria a ser o debate sobre modelos de negócio e estruturas de tokenização que não dependam do Banco Central como emissor de moeda.
Versão que aponta para adiamento e reestruturação
Já a leitura de continuidade, ainda que limitada, destaca que o Banco Central optou por abandonar a função de pagamento, mas decidiu preservar a vertente de registro de garantias. Nos testes realizados, o órgão percebeu que a formalização de gravames sobre ativos tokenizados, como veículos e imóveis, é tecnicamente menos complexa e tem ganho de eficiência relevante para o mercado de crédito. Dessa forma, parte dos componentes de software será desligada, porém os módulos voltados a gravames servirão de base para um novo piloto a partir de 2026.
Nesse cenário, a prioridade seria aumentar a interoperabilidade de registros e aprimorar a segurança das operações que utilizam ativos como garantia de financiamento. A equipe, no entanto, evita estimar quando a população poderia usufruir do serviço, já que depende do amadurecimento das soluções de privacidade e da alocação de recursos adicionais.
Consequências para o setor financeiro
Independentemente do desfecho, a decisão do Banco Central interfere nas expectativas do mercado. Instituições que desenvolveram produtos alinhados à primeira proposta do Drex, como carteiras digitais compatíveis com contratos inteligentes, precisam revisar seus roteiros de tecnologia. Se a versão de encerramento prevalecer, a inovação em moeda digital estatal ficará, por ora, confinada a iniciativas privadas devidamente autorizadas pela autoridade monetária. Caso se confirme o adiamento, essa suspensão temporária abre espaço para novas pesquisas focadas em privacidade de dados e escalabilidade.
O que muda para o consumidor final
Por enquanto, não há impacto direto para usuários de serviços financeiros. O sistema de pagamentos instantâneos Pix continua a ser a principal ferramenta de transferências eletrônicas no país. A perspectiva de contar com um real digital, que permitiria programar pagamentos e tokenizar bens de forma nativa, fica postergada ou suspensa, conforme a interpretação escolhida.
Situação oficial permanece indefinida
Até o momento, o Banco Central não divulgou nota confirmando encerramento, adiamento ou escopo reduzido. A ausência de posicionamento mantém o futuro do Drex em aberto, enquanto o mercado aguarda esclarecimentos sobre as conclusões extraídas dos testes de 2023 e os rumos que serão adotados a partir de 2026.
Perspectivas para 2026
Caso se consolide a proposta de uma fase três, as discussões deverão girar em torno de alternativas tecnológicas que preservem a confidencialidade das transações e, ao mesmo tempo, assegurem auditoria pelas autoridades. Além de gravames, outras aplicações potenciais podem ser analisadas, como registro de debêntures tokenizadas, liquidações D+0 de valores mobiliários e integração com sistemas de pagamentos de outros países.
Até que a autoridade monetária se pronuncie, o Drex permanece em compasso de espera, simbolizando tanto as possibilidades quanto as limitações da adoção de tecnologias distribuídas pelo setor público brasileiro.
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