Contato pele a pele na primeira hora de vida aumenta aleitamento materno exclusivo e estabiliza sinais vitais, indica revisão global

- Recém-nascidos beneficiados logo no início da vida
- O que é o contato pele a pele e como ele é aplicado
- Detalhamento dos achados da revisão Cochrane
- Implicações éticas e recomendações para pesquisas futuras
- Por que a aproximação influencia o aleitamento materno
- Efeitos sobre parâmetros fisiológicos do recém-nascido
- Vantagens para sistemas de saúde e para a mãe
- Persistência de barreiras institucionais
- Relevância em cenários de baixo peso ao nascer
- Alinhamento com recomendações internacionais
- Próximos passos para a prática clínica
Recém-nascidos beneficiados logo no início da vida
O contato direto entre a pele da mãe e a do bebê, realizado nos primeiros 60 minutos após o parto, volta a ganhar destaque científico. Uma revisão sistemática da rede Cochrane examinou 69 ensaios clínicos randomizados envolvendo mais de 7 000 pares mãe-bebê e concluiu que a prática aumenta a chance de aleitamento materno exclusivo, além de favorecer indicadores essenciais como temperatura corporal, níveis de glicose, respiração e frequência cardíaca.
O que é o contato pele a pele e como ele é aplicado
No procedimento, o recém-nascido é colocado nu sobre o tórax descoberto da mãe imediatamente após o nascimento. O posicionamento costuma ser ventroventral, mantendo a cabeça do bebê de lado para preservar a via aérea. A mãe é coberta com um lençol leve ou manta para conservar calor, mas não há barreira entre as duas peles. Esse método não requer equipamentos, não gera custos adicionais e pode ocorrer em partos vaginais ou cesáreos, desde que não haja contraindicações clínicas para mãe ou criança.
Detalhamento dos achados da revisão Cochrane
A última atualização dessa revisão havia sido divulgada em 2016. Desde então, 26 novos estudos foram incorporados, ampliando o corpo de evidências. A maioria dos trabalhos foi conduzida em países de alta renda, contexto que normalmente dispõe de recursos hospitalares adequados. Os autores observaram que, mesmo nesses locais, a intervenção simples se traduz em ganhos significativos para mãe e bebê.
Em termos de aleitamento, aproximadamente 75 % das crianças que tiveram contato pele a pele precoce continuavam sendo amamentadas exclusivamente ao completar um mês de vida. Entre os bebês que não passaram pela experiência, o índice ficou em torno de 55 %. A diferença reforça a contribuição da aproximação imediata para a manutenção do vínculo e para a estimulação do reflexo de sucção.
Os estudos também documentaram maior estabilidade térmica. A pele materna funciona como “incubadora fisiológica”, reduzindo perdas de calor logo após o parto. Além disso, foram observados níveis mais adequados de glicemia, respiração regular e frequência cardíaca dentro de faixas consideradas ideais para a faixa etária neonatal.
Implicações éticas e recomendações para pesquisas futuras
A robustez das evidências levou os revisores a desaconselharem novos ensaios clínicos que incluam grupos de controle sem acesso ao contato pele a pele. Para eles, negar a prática a um segmento de recém-nascidos deixou de ser justificável do ponto de vista ético, pois os benefícios demonstrados já são suficientes para caracterizar a intervenção como padrão de cuidado. Assim, as pesquisas futuras devem concentrar esforços em estratégias de implementação, qualidade metodológica e avaliação de long-term follow-up, em vez de questionar a eficácia da abordagem.
Por que a aproximação influencia o aleitamento materno
Durante a primeira hora pós-parto, o bebê apresenta comportamento de “estado de alerta tranquilo”, no qual busca reconhecimento sensorial e aprendizado inicial de sucção. Ao ser colocado sobre o peito da mãe, percebe batimentos cardíacos familiares, odor do colostro e calor. Esses estímulos facilitam a pega correta e desencadeiam a liberação de hormônios, como ocitocina e prolactina, que favorecem a ejeção do leite e consolidam a produção láctea. Quando ocorre a separação nesse período crítico, o processo pode ser dificultado, exigindo posteriores intervenções de suporte à amamentação.
Efeitos sobre parâmetros fisiológicos do recém-nascido
A transição do meio intrauterino para o ambiente externo exige autorregulação rápida da temperatura, da glicemia e da respiração. O calor materno reduz o risco de hipotermia, condição associada a maior consumo energético e queda de açúcar no sangue. A posição pronada sobre o tórax fortalece movimentos respiratórios e estabiliza batimentos cardíacos. Tais ajustes contribuem para menor estresse, menos choro e adaptação metabólica mais suave.
Vantagens para sistemas de saúde e para a mãe
O aleitamento materno exclusivo até os seis meses é reconhecido por diversas organizações internacionais como intervenção de alto impacto para prevenir infecções, alergias e déficits nutricionais, além de reduzir custos com fórmulas infantis e atendimentos médicos. Do ponto de vista materno, amamentar exclusivamente auxilia na involução uterina, pode diminuir sangramentos pós-parto e está associado à menor incidência de alguns tipos de câncer.
Ao aumentar a taxa de aleitamento, o contato pele a pele gera benefícios populacionais amplos, sem demandar investimentos adicionais em infraestrutura hospitalar ou tecnologia médica. Isso o torna particularmente valioso em contextos de recursos limitados, onde intervenções simples podem trazer melhoria relevante nas taxas de sobrevivência.
Persistência de barreiras institucionais
Apesar das diretrizes de órgãos de saúde recomendarem o início imediato e ininterrupto do contato pele a pele até o fim da primeira mamada, muitos serviços ainda separam mães e bebês para avaliações rotineiras, pesagem ou banho. A prática, historicamente arraigada, retarda a intervenção e pode comprometer seus efeitos positivos. Segundo os autores da revisão, até mesmo países com sistemas hospitalares bem equipados mantêm protocolos que não priorizam o contato precoce.
Relevância em cenários de baixo peso ao nascer
Embora a revisão focada não tenha incluído desfechos de mortalidade, estudos conduzidos em ambientes com poucos recursos mostram que a técnica pode ser decisiva para a sobrevivência de bebês de baixo peso. Em ensaios realizados em hospitais da Índia e de nações africanas, a prática foi associada a significativa redução de mortes neonatais, a ponto de alguns experimentos serem interrompidos antes do término planejado para garantir que todos os participantes recebessem o cuidado considerado salvador.
Alinhamento com recomendações internacionais
A Organização Mundial da Saúde já define o contato pele a pele como padrão de atendimento para todos os recém-nascidos clinicamente estáveis. A nova revisão reforça essa diretriz, ampliando a base de evidências utilizada para fundamentar políticas públicas. Profissionais de enfermagem, obstetrícia e pediatria são orientados a integrar a intervenção à rotina de parto, garantindo que procedimentos como pesagem e administração de vitamina K sejam atrasados ou realizados sem interromper a proximidade mãe-bebê.
Próximos passos para a prática clínica
Diante da força dos achados, iniciativas de capacitação de equipes, revisão de protocolos hospitalares e adequação de salas de parto tornam-se medidas prioritárias. O foco sai da discussão sobre “funciona ou não funciona” e passa para “como assegurar que todos recebam”. Monitorar a adesão e a qualidade da aplicação passa a ser o novo desafio de pesquisadores e gestores de saúde.
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