Adobe revela projetos de IA que prometem redefinir edição de imagem, vídeo e áudio no MAX Sneaks

Los Angeles recebeu mais uma edição do Adobe MAX Sneaks, vitrine anual em que a equipe de pesquisa e engenharia da Adobe antecipa protótipos de software pensados para acelerar e tornar mais intuitivo o trabalho criativo. Durante a programação, conduzida pela comediante, escritora e atriz Jessica Williams, a empresa detalhou iniciativas que aplicam inteligência artificial (IA) a todos os estágios de produção visual e sonora. A promessa é oferecer processos mais rápidos, comandos diretos e resultados que dispensam intervenções manuais extensas.

Panorama do evento

O MAX Sneaks é apresentado todos os anos como espaço experimental antes que as tecnologias cheguem às versões comerciais dos aplicativos da marca. Nesta edição, realizada em Los Angeles, Estados Unidos, a mensagem central foi que a IA amplia possibilidades e reduz barreiras tanto para profissionais quanto para amadores. A relação “quem, o quê, quando, onde, como e porquê” se cruzou em dezenas de demonstrações, mas nove delas chamaram atenção pela aplicação imediata e pelo potencial de reinventar fluxos de trabalho.

Project Surface Swap: modificando materiais em um clique

O Project Surface Swap utiliza reconhecimento de textura guiado por IA para selecionar automaticamente superfícies em uma fotografia e substituir o material visível mantendo iluminação e perspectiva originais. Ao identificar padrões como fios de tecido, veios de madeira ou reflexos de metal, a ferramenta permite que o usuário troque, por exemplo, o estofado de um sofá ou o piso de um ambiente sem refazer a composição. A Adobe posiciona o recurso como aliado de designers de interiores e fotógrafos que dependem de pré-visualizações rápidas e realistas para validar conceitos de cor e acabamento.

Project Light Touch: controle total da iluminação após o disparo

Tradicionalmente, a luz captada pela câmera se torna parâmetro fixo na pós-produção; ajustes severos costumam comprometer qualidade ou gerar ruído. O Project Light Touch inverte essa limitação ao adotar algoritmos generativos capazes de remodelar fontes luminosas depois de a foto ser tirada. Segundo a demonstração, é possível transformar um registro diurno em noturno, realçar dramaticidade em retratos ou redirecionar sombras para mudar o foco narrativo. O objetivo declarado é oferecer ao usuário um “controle total” semelhante ao que se teria sobre o sol ou sobre refletores de estúdio, porém sem necessidade de novo ensaio fotográfico.

Edição 2D como 3D: manipulação de objetos dentro da imagem

Uma terceira iniciativa, descrita como inovação que projeta imagens planas em um espaço tridimensional, permite girar, inclinar ou reposicionar elementos de uma fotografia retendo textura e iluminação natural. A abordagem vai além da distorção em perspectiva tradicional: a IA reconstrói profundidade suficiente para que o objeto pareça existir em 3D. Dessa forma, cartazes, produtos ou elementos decorativos podem ser rearranjados sem reconstrução digital manual, agilizando processos que antes exigiam modelagem independente.

Project Trace Erase: remoção contextual de objetos

O Project Trace Erase foi demonstrado como evolução dos carimbos de clonagem e preenchedores automáticos. Baseado em modelos de difusão, o recurso remove itens indesejados e, simultaneamente, elimina sinais indiretos, como sombras, reflexos em vidros e distorções causadas por refração. A abordagem reduz a etapa de “limpeza fina” normalmente necessária após se apagar algo do enquadramento, tornando o resultado natural mesmo em áreas complexas de cor e textura.

Edição de campos de radiância: ajustes em fotos 3D

A Adobe também apresentou um projeto focado em campos de radiância — registros 3D que capturam luz, profundidade e cor a partir de múltiplos ângulos. A proposta é disponibilizar controles tão simples quanto barras de brilho ou contraste para que artistas alterem cor, forma e composição dentro desse ambiente tridimensional. Assim, mexer na profundidade deixaria de exigir softwares especializados em modelagem, aproximando fotografia volumétrica do fluxo de trabalho tradicional em 2D.

Combinação de estrutura e estilo em cenas 3D

Outro experimento descrito pela empresa combina tecnologias de “Imagem para 3D” e “3D para Imagem”. O mecanismo possibilita marcar objetos individuais com imagens de referência, garantindo que cada item preserve aparência única mesmo quando reposicionado. O resultado atende cenários nos quais o criador precisa rearranjar composição sem sacrificar propriedades de superfície, cor ou iluminação, unindo precisão técnica à liberdade artística.

Project Frame Forward: edição de vídeo a partir de um único quadro

No audiovisual, o Project Frame Forward transfere para o vídeo a lógica de edição de fotos. O usuário anota um único frame e emite um comando de texto; a IA aplica as alterações a todos os quadros subsequentes. Dessa forma, correções de cor, adição de elementos ou remoção de imperfeições podem ser propagadas em segundos, economizando horas de ajustes quadro a quadro. A Adobe argumenta que a precisão obtida preserva qualidade e acelera entregas, partindo de fluxos já conhecidos por fotógrafos.

Project Motion Map: animação automática de gráficos vetoriais

O Project Motion Map analisa desenhos vetoriais estáticos e gera animação expressiva sem necessidade de keyframes nem rigging manual. Ao identificar padrões visuais, a IA define trajetórias e cadências que refletem a intenção do criador, produzindo movimento fluido. O recurso se destina a designers de movimento que buscam velocidade sem abrir mão de consistência artística.

Project Sound Stager: paisagens sonoras por análise de imagem e ritmo

No campo do áudio, o Project Sound Stager interpreta elementos visuais, ritmo de edição e tom emocional de um vídeo para criar camadas sonoras coerentes. A ferramenta gera paisagens sonoras em múltiplos canais, utilizando lógica de design de som especializada. Durante a demonstração, foi destacado que o usuário poderá dialogar com um “designer de som de IA” para ajustar equalização, volume e atmosfera, colaborando de forma conversacional até chegar ao resultado final.

Assistente de voz com IA: correções em segundos

A última solução exibida usa inteligência artificial para aprimorar gravações de voz. O sistema corrige pronúncias, faz isolamento de locutores, remove ruídos ambientais e refina dicção. Destinado a podcasters, cineastas ou qualquer pessoa que necessite de qualidade de estúdio sem infraestrutura profissional, o assistente realiza alterações praticamente em tempo real, liberando o criador para focar no conteúdo.

Por que a Adobe aposta nesses caminhos

Todos os projetos compartilham três eixos: velocidade, acessibilidade e consistência visual ou sonora. A empresa sustenta que tarefas antes restritas a profissionais altamente especializados passarão a exigir apenas comandos em linguagem natural ou seleções rápidas, diminuindo o intervalo entre concepção e entrega. Ao mesmo tempo, a promessa de preservar qualidade busca garantir que a automação não comprometa o resultado final, mas libere tempo para decisões criativas.

Impacto para profissionais e amadores

Fotógrafos, designers de interiores, motion designers, videomakers e criadores de áudio figuram entre os públicos citados pela Adobe como beneficiários diretos. Para profissionais experientes, as ferramentas oferecem atalhos que reduzem etapas repetitivas; para amadores, funcionam como porta de entrada, pois minimizam conhecimentos técnicos indispensáveis em ambientes convencionais de edição.

Caminhos futuros

Embora apresentados como protótipos, os projetos ilustram a direção estratégica da Adobe no uso de IA generativa. Historicamente, muitos conceitos exibidos no MAX Sneaks evoluem e acabam incorporados às versões estáveis do Photoshop, After Effects, Premiere Pro ou Audition. A exibição pública em Los Angeles sinaliza intenção de amadurecer cada recurso e integrá-lo ao ecossistema Creative Cloud tão logo alcance estabilidade técnica.