Possível venda do TikTok pode ser concluída na Coreia do Sul esta semana, afirma Casa Branca

Um acordo para transferir o controle do TikTok para investidores dos Estados Unidos pode ser fechado na próxima quinta-feira, 30, na Coreia do Sul. A informação parte da Casa Branca, que vê na viagem do presidente norte-americano Donald Trump ao país asiático a oportunidade de concluir as negociações com Pequim e encerrar meses de indefinição sobre o futuro do aplicativo em território norte-americano.
Quem participa e onde o entendimento pode ocorrer
O governo dos Estados Unidos indica que a etapa decisiva das tratativas ocorrerá em Seul, onde Trump tem encontro agendado com o presidente chinês Xi Jinping. A previsão oficial é a de que o desfecho aconteça durante essa reunião bilateral, marcada justamente para discutir tensões da guerra comercial e possíveis áreas de cooperação econômica.
A escolha da capital sul-coreana deriva da agenda do líder norte-americano, que estará no país para uma série de compromissos diplomáticos. Segundo a Casa Branca, essa coincidência logística permite que representantes de ambos os governos e da empresa ByteDance, dona do TikTok, estejam presentes para ratificar os termos finais do negócio.
O que está em jogo
O objetivo central dos EUA é substituir a participação da ByteDance por um consórcio de investidores majoritariamente norte-americanos. Caso a venda seja sacramentada, o aplicativo permanecerá disponível aos usuários do país, afastando o risco de bloqueio imposto por lei aprovada no Congresso e sancionada pelo então presidente Joe Biden. A legislação determinou que o TikTok ficaria proibido nos EUA se continuasse sob controle chinês, apontando preocupações com segurança de dados e eventual influência de Pequim sobre o algoritmo de recomendação.
Cronologia da disputa nos Estados Unidos
Janeiro: expirou o prazo fixado pela lei recém-aprovada, e o TikTok chegou a ser retirado das lojas de aplicativos, interrompendo temporariamente o serviço.
Início de mandato de Trump: no primeiro dia na Casa Branca, o novo presidente editou ordem executiva que reativou o aplicativo enquanto se buscava um comprador norte-americano, etapa considerada essencial para garantir a continuidade da plataforma.
Primeira prorrogação: sem que houvesse consenso entre ByteDance e potenciais investidores, Trump emitiu um segundo decreto, estendendo o prazo sem apresentar fundamentação jurídica clara.
Abril: autoridades da Casa Branca chegaram a anunciar que uma cisão do TikTok estava “quase pronta” para virar uma empresa independente nos EUA, mas o plano naufragou depois que o governo chinês desistiu das conversas em resposta a novas tarifas comerciais impostas por Washington.
Junho e setembro: novos decretos ampliaram a tolerância temporal, permitindo que o TikTok operasse provisoriamente enquanto se buscava uma solução que atendesse às exigências de segurança nacional.
Estrutura do acordo em discussão
O formato atualmente na mesa prevê a compra integral das operações do TikTok nos EUA por um grupo de investidores liderados por empresas sediadas no país. A transação envolve não apenas a aplicação, mas também os ativos relacionados à infraestrutura, bases de usuários e receitas publicitárias geradas em território norte-americano.
Um ponto sensível é o algoritmo de recomendação, peça crucial para a experiência dos usuários e para o modelo de negócios da empresa. A legislação chinesa classifica determinados sistemas algorítmicos como tecnologias estratégicas, exigindo permissão do governo para exportação ou transferência a entidades estrangeiras. Assim, mesmo que as partes cheguem a um consenso financeiro, a ByteDance dependerá de autorização formal de Pequim para ceder o código-fonte e as capacidades analíticas que sustentam a plataforma.
Reação de Pequim e desafios legais
Especialistas que acompanham as relações sino-americanas avaliam que o tema não figura entre as prioridades de Xi Jinping no momento, concentrado em questões mais amplas da rivalidade comercial. Analistas apontam, entretanto, que a permissão para a venda do TikTok pode ser usada como ativo diplomático, servindo a interesses de curto prazo da política externa chinesa.
Em paralelo, permanece a dúvida sobre a consistência jurídica do processo no âmbito norte-americano. A lei aprovada pelo Congresso estabelece parâmetros claros para uma operação de venda, mas os repetidos decretos de prorrogação emitidos pela Casa Branca geraram discussões sobre a base legal das extensões. Caso o acordo seja finalizado, caberá a órgãos reguladores dos EUA verificar se a estrutura societária resultante atende aos requisitos de mitigação de riscos à segurança nacional.
Importância do TikTok para o público norte-americano
O TikTok consolidou-se como uma das principais portas de entrada para notícias entre os jovens nos Estados Unidos. Pesquisa do Pew Research Center, divulgada em setembro, mostra que 43% dos adultos com menos de 30 anos usam a plataforma de forma regular para se informar, índice superior ao observado em YouTube, Facebook e Instagram.
O mesmo levantamento revela que a percepção sobre o futuro do aplicativo divide a sociedade norte-americana. Aproximadamente um terço dos entrevistados apoia a proibição total do serviço, proporção que era de 50% em março de 2023. Outro terço se opõe à medida, e o restante afirma não ter opinião formada. Entre aqueles favoráveis ao banimento, quatro em cada cinco citam preocupações com a segurança dos dados como principal motivação.
Algoritmo no centro do debate de segurança
O algoritmo de recomendação do TikTok organiza um fluxo ininterrupto de vídeos curtos com base em preferências e padrões de cada usuário. Para autoridades dos EUA, esse sistema é suscetível a manipulação estatal, ainda que não haja comprovação pública de interferência direta do governo chinês. O receio manifestado em relatórios oficiais é o de que ajustes sutis no ranking de conteúdos possam influenciar opiniões ou amplificar narrativas favoráveis aos interesses de Pequim.
Do lado chinês, há resistência em liberar a tecnologia. A lei local determina que inovações consideradas estratégicas permaneçam sob supervisão nacional, o que inclui algoritmos de recomendação de grande alcance. Como a legislação norte-americana condiciona a legalidade do TikTok à ruptura total de vínculos com a ByteDance, a transferência do algoritmo tornou-se o principal obstáculo técnico e político ao avanço da negociação.
Perspectivas imediatas
Se for selado, o acordo em Seul encerrará um ciclo iniciado com a aprovação da lei que ameaçou retirar o TikTok do mercado norte-americano. Na prática, a conclusão das tratativas dependerá de duas etapas: a anuência formal do governo chinês para transferência dos ativos e a validação regulatória nos EUA, que avaliará se a nova estrutura societária oferece garantias suficientes de independência operacional e proteção de dados dos usuários.
A confirmação de um desfecho nesta quinta-feira representaria a última de uma série de prorrogações e reviravoltas que marcaram o relacionamento entre Washington, Pequim e a ByteDance desde o início do ano. Até que todos os requisitos sejam atendidos, o aplicativo continuará operando no país sob a mesma dinâmica provisória implementada pelas ordens executivas em vigor.
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