Comitê britânico cobra Apple, Google e Samsung por medidas mais rígidas contra roubo de celulares

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Parlamentares do Comitê de Ciência, Inovação e Tecnologia do Reino Unido enviaram uma carta à Secretária do Interior, Shabana Mahmood, criticando Apple, Google e Samsung pela falta de ações consideradas essenciais para reduzir o valor comercial de celulares furtados ou roubados. O documento, assinado pela presidente do colegiado, Chi Onwurah, foi redigido depois de uma audiência descrita como conturbada e sustenta que as empresas dispõem de soluções técnicas para dificultar a revenda desses aparelhos, mas evitam implementá-las.
- Escala do problema em Londres
- Argumentos do Comitê de Ciência, Inovação e Tecnologia
- Medidas técnicas apontadas como viáveis
- Histórico da discussão parlamentar
- Posição das empresas após a nova cobrança
- Pontos de atrito identificados pelo Comitê
- Solicitações encaminhadas ao Ministério do Interior
- Possíveis consequências para o mercado de dispositivos
- Próximas etapas e expectativa parlamentar
Escala do problema em Londres
O roubo de smartphones foi apontado como “grande problema” na capital britânica. Segundo dados apresentados na carta e divulgados pela BBC, 80 mil telefones foram oficialmente relatados como roubados no último ano, número superior aos 64 mil ocorridos em 2023. A Polícia Metropolitana acrescentou que, embora esses dispositivos sejam bloqueados para uso na rede doméstica logo após a denúncia, 78% acabam reconectados em operadoras estrangeiras. Esse dado, segundo o comitê, comprova que os autores dos crimes encontram mercado no exterior para o reuso dos aparelhos, o que sustenta o ciclo de furtos.
Argumentos do Comitê de Ciência, Inovação e Tecnologia
Na avaliação dos parlamentares, as grandes empresas de tecnologia poderiam adotar barreiras adicionais além do bloqueio nacional já aplicado ao número de identificação do aparelho (IMEI). A carta afirma que mecanismos suplementares, como restrição de acesso a serviços em nuvem operados por Apple, Google ou Samsung no exterior, diminuiriam de forma significativa o valor de um dispositivo roubado. O texto também sugere que essas corporações, ao não utilizarem todo o arsenal tecnológico disponível, se beneficiam indiretamente do mercado de reposição e dos lucros gerados pela criminalidade organizada.
Medidas técnicas apontadas como viáveis
Entre as providências citadas como tecnicamente factíveis está o bloqueio internacional do IMEI. A Mobile UK, associação que representa as operadoras de telefonia móvel do país, foi mencionada na carta defendendo que a invalidação global desse código seria um passo decisivo para desmantelar o modelo de negócios das quadrilhas. Ao impedir que o equipamento funcionasse em qualquer país, argumenta-se, o aparelho deixaria de ser atrativo para contrabandistas e compradores.
Outro recurso destacado pelo comitê envolve o corte de acesso às respectivas contas em nuvem ou lojas de aplicativos de cada fabricante imediatamente após o registro de roubo. Para Chi Onwurah, a combinação desses bloqueios tornaria o aparelho praticamente inútil e, portanto, menos cobiçado. Ainda assim, segundo ela, as empresas evitam explicar publicamente por que não ativam essas barreiras adicionais.
Histórico da discussão parlamentar
A polêmica teve início em junho, quando o colegiado questionou executivos das big techs sobre a possibilidade de “projetar o roubo para fora” dos smartphones — expressão utilizada para indicar o desenvolvimento de mecanismos que tornem o crime economicamente inviável. Na ocasião, os deputados concluíram que soluções já existentes poderiam alcançar esse objetivo, mas perceberam pouca disposição corporativa para aplicá-las em escala global. O encontro terminou sem consenso e instigou o envio de uma nova cobrança formal ao Ministério do Interior.
Posição das empresas após a nova cobrança
A BBC procurou as três fabricantes citadas. O Google informou ter investido em “recursos avançados de proteção contra roubo” depois de ouvir vítimas e firmar parcerias com a polícia e com o setor de telecomunicações. Não houve, no entanto, detalhamento sobre a adoção do bloqueio internacional de IMEI ou de contas em nuvem.
Apple e Samsung também foram contatadas, mas não enviaram respostas específicas sobre a carta até o fechamento da reportagem. Durante o depoimento de junho, a Apple alegou preocupações relacionadas a implicações amplas de privacidade e segurança ao se bloquear o acesso de um dispositivo roubado aos serviços da companhia. Mesmo assim, reconheceu que estudava a viabilidade do bloqueio de IMEI. O Google, na mesma sessão, sustentou que suas proteções existentes já formavam uma “solução robusta”. A Samsung declarou, também em junho, ter dedicado “recursos consideráveis” ao tema.
Pontos de atrito identificados pelo Comitê
Chi Onwurah apontou resistência das big techs em responder perguntas diretas sobre falhas de segurança ou sobre a real destinação dos aparelhos após o roubo. Segundo a parlamentar, as empresas afirmam, sem apresentar evidências, que celulares subtraídos são desmontados e vendidos como peças, argumento que não explicaria os índices de reconexão em redes de outros países. A parlamentar enfatizou que a tecnologia necessária para impedir o uso de dispositivos furtados já existe e reiterou a cobrança por uma justificativa convincente para a não utilização dessas soluções.
Solicitações encaminhadas ao Ministério do Interior
No documento endereçado à Secretária do Interior, Onwurah perguntou se o governo pretende pressionar as gigantes de tecnologia a implementar o bloqueio em nuvem para além das fronteiras do Reino Unido. Ela também solicitou dados adicionais sobre o roubo de smartphones em tempo hábil para a próxima cúpula do comitê, indicando que informações mais detalhadas poderão direcionar futuras recomendações legislativas ou regulatórias.
Possíveis consequências para o mercado de dispositivos
Embora ainda não haja qualquer decisão governamental, o encaminhamento da carta ao Ministério do Interior sinaliza uma intensificação do debate sobre responsabilidade das fabricantes na prevenção ao crime. Caso o executivo britânico acate a sugestão de pressionar as empresas, podem surgir exigências formais para que Apple, Google e Samsung aperfeiçoem protocolos de bloqueio global. Além disso, operadores poderão ser instados a cooperar com bases de dados internacionais de IMEI, reforçando as barreiras contra o reuso fraudulento.
Próximas etapas e expectativa parlamentar
O comitê aguarda agora a resposta oficial do Ministério do Interior e das empresas citadas. Parlamentares pretendem utilizar os novos dados solicitados para debater, na próxima reunião do colegiado, medidas específicas que possam integrar legislação, regulamentação de telecomunicações e políticas corporativas. Até que essas posições sejam divulgadas, o índice de 78% de aparelhos reconectados no exterior permanece, para os deputados, o principal indicativo de que o problema exige soluções que transcendam as fronteiras do Reino Unido.
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