Amazon é apontada por ocultar consumo de água em data centers, indica documento interno

Amazon é apontada por ocultar consumo de água em data centers, indica documento interno

Quem, o quê, quando, onde e porquê compõem o ponto de partida desta notícia: um memorando corporativo elaborado em 2022 indica que a Amazon estruturou uma estratégia para manter confidenciais os números completos de consumo de água de seus data centers, considerados os maiores do mundo. O texto, produzido um mês antes do lançamento da campanha Water Positive, detalha debates internos, justificativas e decisões que visavam limitar a divulgação de dados, sobretudo em um momento de expansão massiva da infraestrutura de computação em nuvem voltada a projetos de inteligência artificial.

Índice

Contexto empresarial e comparação com concorrentes

A Amazon Web Services (AWS), braço de computação em nuvem da companhia avaliada em aproximadamente US$ 2,4 trilhões, opera servidores em escala global e enfrenta concorrência direta de gigantes como Google e Microsoft. Estas duas últimas publicam relatórios anuais que incluem volumes totais de água utilizados para resfriamento de data centers, bem como para geração de energia. A Amazon, por outro lado, nunca divulgou publicamente o número consolidado, o que, segundo o documento vazado, foi uma decisão deliberada para evitar exposição negativa.

Elaboração da campanha Water Positive

O memorando interno foi redigido no período de planejamento da iniciativa Water Positive, anunciada em novembro de 2022. A proposta oficial da campanha é devolver mais água às comunidades do que a quantidade consumida em operações diretas até 2030. Durante a fase preparatória, executivos avaliaram se deveriam incluir duas categorias distintas de consumo hídrico:

Uso primário – água empregada diretamente no resfriamento dos servidores;
Uso secundário – água associada à geração de eletricidade que alimenta os centros de dados.

A inclusão ou exclusão do segundo item foi tratada como fator de alto impacto reputacional. O grupo concluiu que a transparência “total” criaria uma “via de mão única”, pois comprometeria a empresa a atualizar e publicar dados abrangentes permanentemente. Por essa razão, recomendou-se reportar somente a parcela primária.

Números internos de 2021 e metas estabelecidas

Os dados apresentados no documento indicam que, em 2021, o consumo total estimado da Amazon chegou a 105 bilhões de galões. O volume equivale ao abastecimento anual de aproximadamente 958 mil residências nos Estados Unidos e seria suficiente para atender a uma cidade maior do que San Francisco. Apesar dessa magnitude, a meta oficial da campanha considerou apenas o uso primário, calculado em 7,7 bilhões de galões por ano, correspondente a cerca de 11,6 mil piscinas olímpicas.

A estratégia aprovada estabeleceu a redução desse indicador para 4,9 bilhões de galões até 2030. Ao suprimir o componente secundário, a empresa evitou duplicar os valores financeiros e operacionais da própria campanha, segundo análise contida no memorando.

Riscos de imagem previstos internamente

Entre os anexos do documento, executivos listaram possíveis manchetes negativas, incluindo a frase “Amazon esconde seu consumo de água”. O receio era de que a divulgação integral dos números ampliasse questionamentos sobre a sustentabilidade da expansão de data centers, sobretudo em regiões já afetadas por escassez hídrica. Ainda assim, o texto reconhece que a opção pela confidencialidade poderia gerar acusações de encobrimento.

Críticas de especialistas e de ex-funcionário

Para pesquisadores na área ambiental, omitir o uso secundário compromete a compreensão do impacto real. O professor Shaolei Ren, da Universidade da Califórnia em Riverside, afirmou ao mesmo veículo que obteve o documento ser “padrão” científico incluir ambas as categorias para mensurar adequadamente o custo hídrico de data centers.

A controvérsia ganhou novo capítulo com declarações de Nathan Wangusi, ex-gerente de sustentabilidade hídrica na AWS. Ele acusou a companhia de tentar influenciar metodologias da indústria, financiando entidades como Nature Conservancy e World Resources Institute, de modo a minimizar a pegada hídrica reportada. As organizações mencionadas negaram influência indevida, enquanto a Amazon contrapôs que as afirmações não se sustentam.

Resposta oficial da empresa

Questionada sobre o teor do memorando, a porta-voz Margaret Callahan declarou que o documento é obsoleto e deturpa a estratégia atual de uso de água. Segundo ela, a existência do arquivo não confirma sua precisão nem seu status final. Callahan acrescentou que os investimentos em projetos de reposição hídrica são voluntários e foram ampliados “porque é o certo a se fazer”.

Investimentos e percentual de reposição

Em relatório de sustentabilidade publicado oito meses após o planejamento da campanha, a AWS afirmou ter alcançado 53 % da meta Water Positive. Para atingir esse patamar, foram anunciados projetos de reposição em parceria com a organização Water.org, cofundada pelo ator Matt Damon. O orçamento total projetado é de US$ 109 milhões, mas o material interno aponta que cerca de metade desse montante seria desembolsada de qualquer maneira, seja por exigências regulatórias, seja por benefícios operacionais diretos.

Tyler Farrow, gerente de padrões da Alliance for Water Stewardship, argumentou que compensações externas não anulam a pegada hídrica das operações centrais. Para ele, o termo “água positiva” pode induzir a percepção de impacto nulo ou positivo, quando a realidade depende de todas as etapas da cadeia.

A questão do escopo 3

Além do uso direto e indireto de água em data centers, o documento aborda volumes relacionados à cadeia de suprimentos, classificados como escopo 3. Entram nessa categoria a produção agrícola destinada ao Amazon Fresh e a fabricação de confecções das marcas próprias, entre outros itens. A estimativa registrada indica que essa parcela responde por cerca de 90 % da pegada hídrica total da companhia. Ainda assim, a decisão foi manter tais números sob sigilo.

Para Wangusi, ocultar esse segmento prejudica a credibilidade da empresa. Ele relatou ter sido alvo de perseguição interna após questionar a abordagem adotada.

Expansão de data centers em áreas de escassez

A investigação que obteve o memorando também identificou a construção de novos complexos da AWS em regiões sujeitas a estresse hídrico. Esse movimento coincide com a corrida das big techs para aumentar a capacidade de processamento de IA, tecnologia altamente dependente de servidores de alta performance e, consequentemente, de sistemas de resfriamento intensivos em água.

Impacto operacional e perspectiva regulatória

O consumo trimestral de energia e água dos grandes provedores de nuvem passou a atrair a atenção de órgãos reguladores, principalmente em locais onde a segurança hídrica já está no limite. No caso da Amazon, a não divulgação do total de 105 bilhões de galões em 2021 cria um vácuo de dados que dificulta a avaliação de impactos cumulativos sobre fontes hídricas regionais. O memorando reconhece que a pressão de autoridades pode aumentar, mas conclui que divulgar o número apenas elevaria riscos sem ganho “significativo” para a operação.

Diferença entre transparência parcial e completa

A distinção estabelecida internamente entre “transparência parcial” e “transparência total” envolveu dimensões técnicas e comunicacionais. No cenário adotado, a campanha Water Positive apresenta metas claras e mensuráveis, mas baseadas em fração do consumo real. Na opinião dos autores do documento, essa abordagem satisfaz preocupações de investidores sobre governança ambiental sem abrir novas frentes de crítica pública.

Resumo do estado atual

A campanha Water Positive permanece em vigor com a meta de reduzir o uso primário de água para 4,9 bilhões de galões até 2030. A Amazon continua sem revelar o volume secundário nem o escopo 3, mantendo a discrepância apontada por cientistas e ex-colaboradores. Enquanto isso, a empresa prossegue a expansão de data centers, ampliando a relevância de seu balanço hídrico na discussão global sobre sustentabilidade em infraestrutura digital.

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