Quando a tecnologia amplia falhas: lições do VAR e da digitalização corporativa

Quando a tecnologia amplia falhas: lições do VAR e da digitalização corporativa

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O árbitro de vídeo, conhecido como VAR, foi introduzido no futebol com a expectativa de eliminar controvérsias, reduzir equívocos de arbitragem e tornar as partidas mais justas. Na prática, porém, o recurso tecnológico tem gerado interrupções prolongadas, dúvidas adicionais e novos pontos de conflito. A experiência do esporte expõe um princípio amplo: implementar tecnologia sem investimento equivalente em preparo humano tende a transformar problemas antigos em desafios digitais, fenômeno igualmente observado em organizações que adotam sistemas complexos sem capacitação adequada.

Índice

Quem: os agentes envolvidos na adoção da tecnologia

No ambiente esportivo, o VAR reúne árbitro principal, equipe de vídeo e operadores de sistemas de replay. Cada parte depende de conhecimento técnico, critérios claros e responsabilidade para decidir lances decisivos. Nos negócios, papéis se distribuem entre lideranças, equipes de TI, usuários finais e consultores externos. Em ambos os casos, pessoas mal treinadas ou sem consenso de critérios convertem um mecanismo concebido para agilizar decisões em fonte de atrito.

O quê: a promessa de eficiência versus a realidade

Ao ser anunciado, o VAR foi divulgado como solução definitiva para equívocos de arbitragem. A lógica parecia incontestável: com vários ângulos de câmera, capacidade de pausa e análise quadro a quadro, a margem para erro humano se restringiria ao mínimo. Paralelamente, empresas que investem em automação, chatbots, sistemas de CRM ou plataformas de business intelligence buscam decisões mais rápidas, redução de custos e escalabilidade. Todavia, o resultado constatado com frequência é o oposto: interrupções de cinco a oito minutos em jogos decisivos, demora na tomada de decisão corporativa, reuniões recorrentes para interpretar relatórios e aumento de custos operacionais.

Quando: o momento em que o problema se manifesta

No futebol, as falhas surgem no instante em que a partida é interrompida para revisão de um lance. O relógio corre, atletas esfriam, torcedores perdem a sequência natural do jogo e a tensão cresce a cada minuto adicional. Nas organizações, o momento crítico ocorre ao se perceber que o sistema recém-implantado não conversa com soluções existentes ou que usuários ainda não dominam as funcionalidades básicas. O atraso, seja em campo ou no escritório, costuma ser evidente logo após a tentativa de uso real da ferramenta.

Onde: dos estádios aos escritórios digitais

Os efeitos do VAR são vivenciados em arenas esportivas, transmissões televisivas e debates em redes sociais. Já no universo empresarial, as consequências espalham-se por departamentos, filiais e canais de atendimento digital. A localização difere, mas a mecânica do problema se repete: a tecnologia inserida em contextos despreparados cria uma camada adicional de complexidade em vez de resolução.

Como: o processo que gera novos entraves

No caso do VAR, o procedimento prevê análise instantânea de imagens, traçado de linhas de impedimento e comunicação entre cabine de vídeo e campo. Cada etapa acrescenta segundos que, somados, geram longas paralisações. Caso os operários do sistema não dominem o equipamento ou não compartilhem parâmetros claros, múltiplas revisões tornam-se necessárias, e a incerteza persiste mesmo com recursos visuais à disposição.

Em corporações, o paralelo aparece quando se instalam sistemas de gestão sem integração plena. Dados são inseridos em plataformas distintas que não dialogam, exigindo exportação manual, reuniões de alinhamento e retrabalho. A ferramenta, pensada para simplificar, vira tecnoburocracia: relatórios bem formatados sem contexto confiável, fluxos de aprovação que travam devido a perfis de acesso mal configurados e filas de tickets para problemas que não existiam no processo anterior.

Por quê: a origem estrutural das falhas

O fator central apontado é a competência — ou a falta dela — no uso das ferramentas. No futebol, o VAR não altera a necessidade de interpretação de lances subjetivos ou da aplicação consistente das regras. Se árbitros divergem sobre critérios, a imagem apenas expõe o desacordo. Da mesma forma, em empresas, a tecnologia amplifica práticas preexistentes: se o processo era confuso, ele se digitaliza confuso; se metas são imprecisas, o sistema não as define por conta própria.

Consequências para o esporte: jogos truncados e confiança abalada

A cada rodada, disputas sobre linhas de impedimento, possíveis pênaltis e lances de cartão vermelho se prolongam. Torcedores contestam decisões mesmo após a exibição de replays, narradores levantam hipóteses de erro de calibragem e técnicos protestam à beira do gramado. Os minutos perdidos comprometem ritmo de jogo, condicionamento físico dos atletas e experiência do público, que passa a questionar a própria utilidade do recurso.

Consequências para as empresas: custos, lentidão e ruído

Organizações que investem em plataformas de automação, ERP ou inteligência artificial sem treinamento observam retorno limitado. O resultado citado envolve aumento de reuniões para “entender o sistema”, produção de relatórios que não orientam ação e processos mais lentos devido à dependência de múltiplas verificações. A promessa de ganho de escala converte-se em despesa adicional, e a cultura interna passa a culpar o software pelos entraves, embora a raiz esteja na ausência de preparação.

Da promessa à tecnoburocracia: etapas de uma transformação indesejada

1. Implementação: aquisição de equipamento ou licença de software com discurso de modernização.

2. Primeiro uso: percepção de que a ferramenta requer conhecimento específico não previsto no cronograma.

3. Ajustes emergenciais: criação de novos procedimentos, retrabalhos e verificações adicionais.

4. Crescimento da complexidade: sistemas que não integram dados geram múltiplas versões da verdade.

5. Queda de confiança: usuários questionam resultados, solicitam auditorias e atrasam decisões.

6. Custos invisíveis: horas de trabalho destinadas a contornar falhas superam as economias prometidas.

7. Tecnoburocracia consolidada: a inovação pretendida passa a representar um novo conjunto de formulários, tickets e procedimentos digitais.

Lições observadas a partir do VAR

A experiência esportiva demonstra que a tecnologia funciona como multiplicador de cenários preexistentes. Ao oferecer mais dados, mais ângulos e mais registros, potencializa tanto a capacidade de análise quanto a margem de dúvida se os critérios permanecem indefinidos. No ambiente corporativo, a lição se repete: sem treinamento, governança e cultura de dados, a modernização amplia ruídos em vez de saná-los.

Fatores indispensáveis à adoção eficaz de tecnologia

Clareza de critérios: regras de impedimento ou políticas de negócios devem ser inequívocas antes da digitalização.

Capacitação contínua: operadores, árbitros ou equipes corporativas precisam dominar ferramentas e métodos de decisão.

Integração sistêmica: plataformas devem conversar entre si para evitar redundância de informações.

Governança: definição de responsabilidades minimiza disputas de interpretação e agiliza correções.

Avaliação de impacto: medir tempo de paralisação ou horas de trabalho adicionadas revela se o investimento cumpre o propósito.

Perspectivas futuras

Enquanto não houver alinhamento entre tecnologia e preparação humana, o padrão tende a se manter: interrupções prolongadas em partidas decisivas e organizações que investem alto para, posteriormente, descobrir novas barreiras internas. O exemplo do VAR serve como alerta transversal, indicando que qualquer inovação introduzida sem condução competente está sujeita a transformar-se em fonte de atraso e debate permanente.

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