Cometa interestelar 3I/ATLAS alcança o periélio e desperta expectativa após a ruptura de 2I/Borisov

Em julho deste ano, os observatórios terrestres registraram o terceiro visitante interestelar a cruzar o Sistema Solar. Catalogado como 3I/ATLAS, o corpo celeste foi classificado como cometa e atualmente segue em direção ao periélio, ponto mais próximo do Sol, que ocorre nesta quarta-feira. A fase é fundamental para compreender a estrutura desse objeto porque a intensa radiação solar pode desencadear processos de aquecimento, liberação de gases e eventual fragmentação. A experiência recente com o cometa 2I/Borisov, que colapsou após a mesma etapa orbital, reforça o interesse científico sobre o destino do novo intruso cósmico.
- Três capítulos da visitação interestelar
- A rota de 3I/ATLAS até o periélio
- Detecção em plena cegueira luminosa
- Por que o periélio é decisivo para um cometa
- Lição recente: a ruptura de 2I/Borisov
- Processos físicos por trás da desintegração
- Informações extraídas dos fragmentos de Borisov
- Expectativas para o destino de 3I/ATLAS
- Desafios de observação durante o alinhamento solar
- O papel dos dados de 3I/ATLAS na ciência planetária
Três capítulos da visitação interestelar
Até 2017, a passagem de corpos vindos de fora do Sistema Solar era apenas uma possibilidade teórica. Esse cenário mudou quando o asteroide 1I/'Oumuamua foi detectado, inaugurando a lista de objetos de origem extrassolar. Dois anos depois, em 2019, o 2I/Borisov tornou-se o primeiro cometa identificado com trajetória interestelar. Agora, em 2023, o 3I/ATLAS completa o trio de mensageiros galácticos, oferecendo nova chance para sondar materiais formados longe da influência direta do Sol.
A rota de 3I/ATLAS até o periélio
O 3I/ATLAS foi avistado inicialmente em julho, quando estava em uma posição que permitia medições de velocidade e direção suficientes para confirmar sua procedência externa. Desde o começo de outubro, porém, o objeto desloca-se pelo céu em uma região encoberta pelo brilho solar para quem observa a partir da Terra. Esse alinhamento dificulta observações ópticas convencionais, adiando o acompanhamento detalhado até que o cometa se afaste da proximidade angular com o Sol. Mesmo assim, instrumentos posicionados em órbita terrestre têm servido de recurso alternativo.
Detecção em plena cegueira luminosa
Apesar do ofuscamento, o astrônomo amador tailandês Worachate Boonplod conseguiu localizar o cometa em registros diários do coronógrafo CCOR-1, equipamento acoplado ao satélite GOES-19, mantido pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos. O coronógrafo bloqueia parte do brilho solar, permitindo evidenciar objetos próximos à estrela. A observação confirma a presença contínua do visitante e sustenta o cronograma que culmina no periélio desta quarta-feira.
Por que o periélio é decisivo para um cometa
Quando um cometa se aproxima do Sol, diversos fenômenos físicos entram em ação. O aquecimento intenso faz compostos voláteis passarem diretamente do estado sólido para o gasoso, processo chamado sublimação. Essa liberação de gases arrasta partículas de poeira, formando cabeleira e cauda características. A perda de massa pode alterar a rotação do núcleo, e tensões mecânicas internas podem gerar fendas que levam à fragmentação. Esses efeitos transformam o periélio em uma janela privilegiada: quaisquer alterações na morfologia do corpo fornecem pistas sobre sua composição, densidade e resistência estrutural.
Lição recente: a ruptura de 2I/Borisov
O interesse em 3I/ATLAS cresce após a experiência com 2I/Borisov. O cometa anterior alcançou o periélio em dezembro de 2019 e, nos meses seguintes, sinais de instabilidade tornaram-se evidentes. No início de março de 2020, observadores notaram um brilho crescente, indicativo de ejeção de material interno. Esse comportamento foi monitorado de perto por equipes que usaram o Telescópio Espacial Hubble, entre outros instrumentos.
No fim de março de 2020, imagens de alta resolução revelaram que o núcleo já não era um corpo único. Dois fragmentos apareceram, separados por cerca de 180 quilômetros. A separação confirmou que o aquecimento solar havia desencadeado a rotação acelerada do núcleo, levando-o ao ponto de ruptura. O fenômeno frustrou planos de observação de longo prazo, mas produziu um conjunto de dados sem precedentes sobre um objeto extrassolar em estágio de desintegração.
Processos físicos por trás da desintegração
A pesquisa dos astrônomos mostrou que, conforme o 2I/Borisov perdia compostos voláteis, o torque gerado pela ejeção de gases alterava seu ritmo de rotação. Uma aceleração excessiva pode levar a tensões superiores à coesão interna do núcleo, especialmente se o corpo for formado por aglomerados frágeis de rocha e gelo. Quando o equilíbrio estrutural é quebrado, surgem fissuras que se expandem até o colapso do cometa em múltiplos pedaços. Esse tipo de ruptura é comum em cometas de curto período, mas o Borisov foi o primeiro exemplo documentado entre viajantes interestelares.
Informações extraídas dos fragmentos de Borisov
Ainda que a ruptura tenha limitado as observações, os espectros coletados antes e durante o colapso revelaram semelhanças químicas entre o 2I/Borisov e cometas formados no Sistema Solar. A presença de água congelada e compostos orgânicos indicou que processos de formação de sistemas planetários podem seguir padrões parecidos em diferentes regiões da Via Láctea. Além disso, esses resultados ilustram como substâncias fundamentais para a vida podem ser transportadas entre estrelas, distribuindo ingredientes precursores em escalas interestelares.
Expectativas para o destino de 3I/ATLAS
Com base na experiência anterior, astrônomos avaliam se o 3I/ATLAS repetirá ou não a trajetória de destruição observada em seu antecessor. A resposta depende de fatores como tamanho do núcleo, composição detalhada, taxa de sublimagem e velocidade de rotação induzida pela perda de material. Por enquanto, faltam dados precisos sobre esses parâmetros, precisamente porque o cometa permanece escondido atrás do brilho solar. As primeiras medições pós-periélio serão cruciais para determinar se o objeto sobreviveu intacto, sofreu fraturas parciais ou se desfez completamente.
Desafios de observação durante o alinhamento solar
A geometria orbital coloca o 3I/ATLAS em uma região impraticável para telescópios terrestres convencionais até meados de novembro. A radiação direta do Sol satura sensores e impede o contraste necessário para registrar objetos de brilho relativamente baixo. Satélites equipados com coronógrafos, como o GOES-19, mantêm certa capacidade de monitoramento, mas a resolução é limitada. Quando o cometa emergir do encobrimento solar, observatórios ao redor do mundo devem iniciar campanhas coordenadas para medir luz refletida, emitir espectros e capturar imagens de alta definição.
O papel dos dados de 3I/ATLAS na ciência planetária
Caso o cometa sobreviva ao periélio, cada amostra de poeira e cada registro espectral poderão comparar composições moleculares entre material interestelar e substâncias presentes nos cometas que se formaram ao redor do Sol. Se houver fragmentação, os detritos resultantes permitirão estimar densidades, tamanhos de grãos e resistência coesiva do núcleo. Em ambos os cenários, o 3I/ATLAS contribui para um corpo de evidências que ajuda a esclarecer como sistemas planetários se originam e evoluem na galáxia.
A aproximação de um visitante interestelar é sempre um evento raro. Em menos de uma década, a comunidade científica contabiliza três ocorrências, cada qual oferecendo perspectivas únicas. Desta vez, a chave reside em observar atentamente as horas e dias posteriores ao periélio do 3I/ATLAS, quando os fenômenos mais dramáticos — ou a ausência deles — revelarão os segredos estruturais do novo mensageiro do espaço profundo.
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