Queda de 75% no tráfego do PornHub expõe impasse sobre verificação de idade no Reino Unido

Um recuo superior a três quartos no número de visitantes do PornHub no Reino Unido tornou-se o principal sinal de alerta para a indústria de entretenimento adulto desde que entrou em vigor, em julho, a exigência governamental de verificação de idade para acesso a conteúdos pornográficos. A própria plataforma informou que o volume de visualizações caiu pouco mais de 75 %, resultado direto das novas obrigações impostas pelo pacote de segurança on-line supervisionado pelo regulator Office of Communications (Ofcom).

Quem: a Aylo e os protagonistas do debate

A queda alcança o PornHub, site de filmes adultos mais visitado no país e pertencente à Aylo, empresa especializada na distribuição de conteúdo erótico. O chefe de comunidade da Aylo, Alex Kekesi, relatou surpresa com a magnitude da retração e afirmou não ter identificado, até o momento, aumento significativo de acessos oriundos de outras localidades. Essa constatação reforça a avaliação interna de que o público local, diante da exigência de comprovar a maioridade, simplesmente abandonou o serviço ou migrou para alternativas menos regulamentadas.

O quê: a verificação de idade obrigatória

O ponto de inflexão foi a determinação legal que obriga plataformas pornográficas a incorporar mecanismos de confirmação etária. A regra, parte de um conjunto mais amplo de medidas de segurança digital, exige que o usuário prove ter 18 anos ou mais antes de consumir conteúdo adulto. A iniciativa do governo busca coibir o acesso de menores à pornografia on-line, mas já provoca efeitos colaterais significativos nos indicadores de audiência da Aylo.

Quando e onde: implantação e abrangência

A obrigatoriedade passou a valer em julho e abrange todo o território britânico. Em termos práticos, qualquer tentativa de acesso a um dos dez sites pornográficos mais populares no país – grupo no qual o PornHub se destaca – aciona o sistema de verificação. Segundo o Ofcom, essas páginas já implementaram a solução, demonstrando, na visão do órgão, que houve tempo e consulta suficientes para adequação.

Como: funcionamento dos bloqueios e reação dos usuários

Na prática, as plataformas pedem o envio de dados pessoais ou documentos que comprovem a maioridade. Esse procedimento, apesar de atender às exigências regulatórias, gerou resistência entre os usuários. De acordo com a Aylo, uma parcela expressiva do público deixou de navegar no PornHub por não se sentir confortável em compartilhar informações sensíveis diretamente com o site.

Outro efeito relatado por empresas do mesmo segmento é o uso crescente de redes privadas virtuais (VPNs). A ferramenta mascara a localização do internauta, permitindo que ele aparente estar fora do Reino Unido e, assim, contorne o bloqueio. Embora a Aylo não tenha observado aumento concreto de acessos internacionais ao PornHub, executivos do setor apontam elevação nas tentativas de burla em páginas que ainda não adotaram controles equivalentes.

Porquê: as motivações de governo e indústria

Do lado governamental, o argumento central é a proteção de crianças no ambiente digital. O Ofcom sustenta que restringir o conteúdo adulto por meio de filtros etários é a estratégia mais direta para impedir que menores tenham contato com pornografia. Já a Aylo defende que o modelo atual falha ao redirecionar usuários para sites menos regulamentados, o que, na visão da empresa, contraria o objetivo de segurança. Internamente, a companhia reivindica ajustes, como o uso de filtros em mecanismos de busca ou a possibilidade de repassar o processo de verificação a grandes empresas de tecnologia – Google, Microsoft ou Apple – que já detêm dados de milhões de internautas.

Impacto financeiro e de audiência

Com a retração de pouco mais de 75 % nas visualizações, o PornHub enfrenta um cenário de forte perda de engajamento no mercado britânico. Por ser a página de referência em conteúdo adulto na região, a diminuição afeta diretamente receitas de publicidade, assinaturas e parcerias com produtores independentes. Até o momento, a empresa não divulgou números absolutos de faturamento, mas a queda de tráfego indica repercussões econômicas substanciais.

Controvérsias anteriores da plataforma

Embora afirme que todo o material disponível em suas páginas seja legal e consensual, o PornHub já desembolsou milhões de dólares em acordos judiciais com vítimas de tráfico sexual e exploração infantil. A plataforma também figura com frequência em processos relacionados à veiculação de vídeos não consensuais. Esses antecedentes alimentam a desconfiança de autoridades e organizações civis, que pressionam por controles cada vez mais estritos.

O cabo de guerra regulatório

O Ofcom reforça que o setor foi ouvido durante o período de formulação das regras e, portanto, não há justificativa para alegações de surpresa. Segundo o órgão, a prioridade é fechar brechas que permitam o acesso irrestrito de menores a conteúdos pornográficos. Por sua vez, a Aylo argumenta que a migração de usuários para sites pouco fiscalizados ameaça ampliar justamente o problema que se pretendia resolver, pois esses domínios podem hospedar material ilegal ou sem curadoria.

Caminhos discutidos para mitigar danos

Entre as alternativas defendidas pela Aylo está o redirecionamento do processo de checagem para atores com infraestrutura robusta de dados, como provedores de serviços de nuvem ou sistemas operacionais móveis. A medida, segundo a empresa, poderia aumentar a aceitação dos usuários, que já fornecem informações pessoais a tais empresas para outras finalidades. O governo, contudo, não sinalizou abertura para reposicionar a responsabilidade, mantendo o foco na obrigação direta de cada site adulto.

Cenário atual e perspectivas

Passados alguns meses desde a vigência das novas regras, o quadro permanece de tensão entre regulador e indústria. Enquanto o PornHub e outras páginas do ramo buscam negociar ajustes que reduzam o impacto sobre audiência, o Ofcom sustenta que a curva acentuada de queda no tráfego comprova a efetividade das barreiras impostas. Nos bastidores, associações de proteção à infância acompanham de perto o resultado, apontando que qualquer solução futura precisará equilibrar privacidade do usuário, liberdade de acesso e salvaguarda de menores.

Sem sinal de recuo do governo britânico na exigência de verificação de idade, a Aylo avalia alternativas para reconquistar o público que abandonou o PornHub, ao mesmo tempo em que insiste no argumento de que a política atual não impede, mas apenas desloca, o consumo de pornografia. Do lado regulatório, permanece a posição de que a indústria foi devidamente consultada e possui recursos para adequação, mantendo como prioridade absoluta proteger crianças de conteúdos impróprios na internet.