Tesla projeta robôs humanoides como futuros cirurgiões enquanto resultados financeiros perdem fôlego

A Tesla colocou a robótica no centro de suas ambições de longo prazo ao apresentar, em 22 de outubro de 2025, previsões que incluem robôs humanoides capazes de atuar como cirurgiões, mesmo diante de um trimestre marcado por receita recorde, mas lucro em queda e vendas pressionadas pela concorrência.

Robô Optimus domina a teleconferência

Durante a conversa trimestral com investidores, Elon Musk concentrou a maior parte de suas falas no Optimus, o robô humanoide em desenvolvimento pela companhia. O executivo afirmou, de forma geral, que o equipamento pode se tornar o produto mais importante já lançado pela Tesla e chegar a executar procedimentos médicos complexos no futuro. Atualmente, a máquina já foi mostrada publicamente realizando ações simples, como dobrar peças de roupa, executar passos de dança e interagir com o ambiente sob supervisão humana remota.

Musk explicou que, antes de qualquer aplicação clínica, o projeto precisa atender a critérios rígidos de segurança. Para o empresário, a evolução do robô abre caminho para um cenário que ele descreve como “abundância sustentável”, no qual tarefas físicas repetitivas seriam delegadas a máquinas e recursos se tornariam mais acessíveis em escala global.

Robotáxis avançam em ritmo experimental

Além dos humanoides, a Tesla também destacou o serviço de robotáxis que continua em fase de testes nos Estados Unidos. Na avaliação de Musk, a adoção comercial dessa modalidade de transporte poderá provocar uma transformação profunda no cotidiano das cidades e na percepção dos investidores. Sem detalhar cronogramas ou metas, o executivo indicou que a combinação de mobilidade autônoma com robôs capazes de executar tarefas manuais simples pode gerar benefícios sociais, como a ampliação do acesso a serviços de saúde de alta qualidade e a redução da pobreza.

Bônus de até US$ 1 trilhão ao CEO entra em pauta

A conferência também foi usada para sustentar a aprovação de um novo plano de remuneração ao próprio Musk que pode chegar a US$ 1 trilhão, valor equivalente a cerca de R$ 5 trilhões na cotação atual. O pacote prevê aumento na participação acionária do executivo, fator que, segundo ele, o deixaria confortável para acelerar a produção em massa de robôs e fortalecer a posição da Tesla em tecnologias avançadas.

Resultados mistos no último trimestre

O relatório financeiro analisado na reunião apresentou dois movimentos opostos. De um lado, a empresa registrou receita recorde, 12 % superior ao mesmo período do ano anterior. De outro, o lucro líquido caiu 31 %, marcando o quarto trimestre consecutivo em que a rentabilidade fica abaixo das projeções de mercado. A combinação de faturamento crescente e margem comprimida alimentou questionamentos de analistas sobre a sustentabilidade das iniciativas mais ousadas, especialmente diante do capital exigido por projetos de robótica, inteligência artificial e frota autônoma.

Concorrência chinesa pressiona vendas globais

A performance comercial da Tesla mostra sinais de desgaste em vários mercados. A entrada agressiva de montadoras chinesas no segmento de veículos elétricos ampliou a oferta de modelos com preços competitivos, o que desafiou a liderança da empresa norte-americana. Em paralelo, a atuação pública de Musk em temas políticos motivou protestos em algumas lojas da marca, fato que também pode ter influenciado a demanda no varejo.

Escassez de detalhes sobre novos carros elétricos

Apesar de a Tesla ter estabelecido sua reputação no setor automotivo, a teleconferência trouxe poucas informações concretas sobre futuros veículos voltados ao consumidor. Quando questionados por investidores, Musk e outros executivos desviaram do assunto, alimentando a percepção de que a prioridade estratégica pode ter migrado para a robótica e para serviços autônomos em vez de novos modelos de automóveis.

Série de metas adiadas reforça cautela

A lista de promessas não cumpridas pela liderança da Tesla e de outras empresas de Musk ganhou novo espaço na discussão. Entre os exemplos mais citados pelos próprios investidores estão:

• A ideia de realizar uma missão tripulada a Marte e iniciar a colonização do planeta até 2024, prazo que depois foi estendido para 2030 sem garantias de execução.

• A previsão, feita em 2016, de que todos os carros da Tesla passariam a operar com direção totalmente autônoma, sem supervisão humana, funcionalidade ainda fora do alcance comercial.

• A expectativa de vendas elevadas para a picape elétrica Cybertruck, lançada mais de dois anos após o cronograma inicial e com desempenho considerado fraco em pré-venda.

• O plano de transformar a rede social X, antiga Twitter, em um aplicativo multifuncional capaz de servir como praça pública digital e plataforma de serviços bancários.

• A proposta de implantar um departamento governamental focado em otimização fiscal chamado DOGE, iniciativa que acabou encerrada poucos meses depois de criada, com impacto inferior ao anunciado e críticas quanto a riscos para a privacidade de cidadãos.

Robótica como eixo de crescimento futuro

Mesmo diante do histórico de prazos postergados, Musk reiterou que a robótica representa a frente mais promissora de expansão para a Tesla. Segundo ele, a evolução dos sistemas de inteligência artificial internos permitiria que unidades do Optimus executassem tarefas cada vez mais complexas, percorrendo um caminho que, na visão do executivo, culminaria em procedimentos cirúrgicos de alta precisão.

A curto prazo, a companhia parece concentrada em aprimorar movimentos básicos, treinar algoritmos de percepção espacial e reduzir custos de produção. A viabilidade de implantá-lo em ambientes clínicos dependerá, contudo, de certificações regulatórias, testes de segurança e validação de eficácia – etapas ainda não detalhadas pela empresa.

Expectativas e desafios

Embora Musk projete um futuro no qual robôs e veículos autônomos atenuem desigualdades sociais, o cenário atual apresenta desafios tangíveis. A pressão sobre as margens de lucro, a concorrência acirrada no mercado de carros elétricos e o volume de capital necessário para transformar protótipos em produtos comerciais colocam em xeque a velocidade de execução dos planos descritos na teleconferência.

Ao mesmo tempo, a possível aprovação do pacote de remuneração bilionário reforça a dependência do conselho da Tesla na liderança de Musk para impulsionar projetos considerados de alto risco e alto retorno. Caso receba sinal verde dos acionistas, o executivo aumentará seu poder de decisão dentro da companhia, algo que pode acelerar investimentos em robótica, mas que também gera debates sobre governança.

Próximos passos observados pelo mercado

Analistas acompanharão, nos próximos trimestres, indicadores que possam confirmar ou refutar a prioridade interna dada ao Optimus e aos robotáxis. Entre os pontos de atenção estão cronogramas de testes em ambientes controlados, custos de desenvolvimento, parcerias para aplicações médicas e eventuais certificações prévias. Igualmente relevante será a evolução das vendas de carros elétricos, já que a receita proveniente dos automóveis continua financiando grande parte da pesquisa em novas áreas.

Com promessas de robôs cirúrgicos, um plano de remuneração que pode se tornar o maior da história corporativa e margens pressionadas, a Tesla entra em uma fase em que a execução prática de suas visões tecnológicas será observada tão de perto quanto suas demonstrações de palco.